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Luis Ganem: Seus erros e meus erros – prefiro apontar os seus

Por Luis Ganem

Luis Ganem: Seus erros e meus erros – prefiro apontar os seus
Foto: Divulgação

Resenha de começo de ano: todo mundo resolveu se manifestar nas redes sobre a mudança de regras para eventos e shows por parte do governo do Estado! Todo mundo entrou no achismo de novo – anteriormente tinha sido o carnaval. Agora, do produtor correto que seguiu as regras e normas e estava totalmente legalizado, ao produtor que nada seguiu, encheu seu espaço com gente até o talo, não pediu passaporte na porta do seu evento e lascou todo um segmento pela sua irresponsabilidade, passando ainda pelo(a) cantor(a) que saiu dizendo que precisava ser revisto todo e qualquer ato que prejudicasse o entretenimento e coisa e tal, caixinha de fósforo e blá, blá, blá... E mais uma vez, todo mundo parou para comentar de novo um fato. 

 

Fato muito sério – diga-se de passagem –, que envolve vida nas duas pontas. Mas se existe algo a reparar é a seriedade no ato por parte do Governador Rui Costa. Em ano eleitoral, cortar na própria carne é pra poucos, e fazer isso sabendo do desgaste político primário e mesmo assim mantê-lo é algo maior – independentemente de apontamentos ou de porquês.

 

Pois bem, vida que segue. E nesta de seguir a vida, estava eu dando uma olhada nas redes sociais quando algo novo surgiu! “Esse mundo da internet é muito louco. Qualquer ato que se faça dentro da rede mundial dá espaço para questionamentos e réplicas muitas vezes não esperadas”. Qualquer ato, principalmente uma fala, seja qual for, pode sofrer uma pergunta ou indagação como a que vi na página de uma determinada estrela da música baiana a discursar achismos pra todos os lados, que foi questionada por uma pessoa – não sei se era seguidor, parente de músico ou apenas um transeunte – sobre o valor pago aos músicos da banda dele(a), se era condizente diante de tanta riqueza que “arrotava” nas redes.

 

Diante da pergunta inusitada e pela resposta tosca que li – não respondeu de forma direta, apenas dando um monte de desculpas –, tornou-se perceptível o desconforto diante do questionamento imposto, no que entendi, mediante a resposta, que não deveria pagar boa coisa aos seus músicos. Isso, que fique claro, foi meu entendimento, o que pode ser diferente pra outras pessoas.

 

Pois essa é a tônica desse meu texto aqui, o tal do: fazendo o bem, mas até a página dois. Quando fazer o correto só serve se estiver apontando os erros dos outros e não quando se está errando.

 

Já temos dois anos desde que o mundo parou – dia 18 de março o mundo foi pra dentro de casa. Neste período, o meio musical, principalmente a parte dos músicos – bem mais que cantores e cantoras – passou por momentos muito, mas muito difíceis. Ouvi tristes histórias desse período. De instrumentistas que começaram a rodar de aplicativo para poder sobreviver, a outros que pegaram dinheiro emprestado com agiotas ou parentes, e ainda os que colocaram a venda seus instrumentos de trabalho conquistados em anos de estrada e com muito sacrifício.

 

Dito isso, é importante ressaltar que grandes artistas comprometidos e sérios – sem darem uma de falsos bonzinhos das redes sociais – mantiveram uma folha de auxílio em um primeiro momento desta pandemia a sua equipe. Digo isso para que não fique parecendo que tudo é generalizado.

 

Com a pergunta feita à dita estrela musical, algo ficou no ar ao menos pra mim. Fiquei me perguntando como é a relação hoje em dia do músico com o artista.


Venho de uma geração na qual os cachês na sua grande maioria eram relativamente bons. Naquela época, o cachê do músico por conta da galopante inflação chegou a ser arbitrado em dólar. Mesmo sendo a música naquele momento algo muito mais amador que hoje, se pagava algo mais interessante. Para comparação, um músico de um produto nacional chegava a ganhar quase três salários mínimos por show – isso falando do começo da década de noventa. Hoje em comparado à aludida data, sei que o pessoal do “carrega-piano” – como popularmente se fala de quem acompanha uma estrela– recebe algo que talvez para alguns chegue a um salário e meio, para muitos outros, meio salário e para a sua grande maioria, irrisórias ajudas de custo.

 

Infelizmente, nessa história toda, quem questionou o artista está corretíssimo no seu questionamento. Não adianta se arrotar mundos e fundos, casa bonita, carro bacana, viagens e fotos em lugares especiais, se por trás existe pessoas ganhando muito mal em proporção àquele sucesso todo, e tendo que ficar calada pra não perder seu ganha-pão.

 

Um músico amigo disse uma frase perfeita quando perguntei por que ele não pedia pra pagar um cachê melhor. Ele disse: meio-dia na casa de todo mundo é igual. Ou seja: melhor matar a fome do que ficar com ela.