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Luis Ganem: Cadê o axé nas dancinhas do TikTok?

Por Luis Ganem

Luis Ganem: Cadê o axé nas dancinhas do TikTok?
Foto: Divulgação

Quem poderia imaginar que no fim do poço teria muito mais a se cavar? Quem, em lúcida consciência, preveria uma enfermidade contagiosa mundial que anularia as mais diversas atividades de serviço, entre elas o entretenimento, trazendo desalento e desesperança a todo custo? 

 

Creio que ninguém imaginaria nada disso, principalmente da forma como está acontecendo. Claro, por conta da pandemia, a aposentadoria do ritmo axé e de alguns artistas que dele fazem parte foi decretada, e só não enxerga quem não quer – ou eles mesmos.

 

Como assim aposentadoria, se logo após o fim da pandemia a indústria da música vai voltar com tudo? Serão tantos shows para o ritmo axé, reaquecendo a indústria fonográfica e trazendo emprego e renda para o segmento, que ninguém mais pensará nisso (aposentadoria) – dirá um defensor indignado.

 

Mas do que ele está falando, pergunto eu? Que indústria da música é essa? O mercado do axé? Esse mercado infelizmente acabou. Se antes (muito antes) estávamos na “sombra e com água fresca” para dizer que ainda tínhamos lastro na nossa música, hoje nada mais temos. O axé se tornou – por culpa dele mesmo –, algo menor, pequeno mesmo no cenário nacional. Se ele ainda se mantém diligente, é apenas pela lembrança musical trazida por Ivete Sangalo, no seu programa “Música Boa”, que defende a “ferro e fogo” o ritmo. 

 

Mas como parametrar isso que estou falando, já que em todo lugar quando se toca o ritmo axé todo mundo dança, todo mundo coloca o “dedinho” pra cima? Simples: pelas novas mídias sociais.

 

Hoje quem dita moda no mercado fonográfico – não todo ele, mas ao menos em parte – são as redes sociais. As “dancinhas”, que referenciam quase tudo nas redes, se tornaram parte do galgar de sucesso de uma música. Estou dizendo parte para que não digam que estou sendo exagerado. Para provar a minha tese, vou trazer alguns exemplos que tonificam bem o que falo. Algumas músicas que aí estão, antes de se tornarem conhecidas, andaram pelo TikTok e pelo Instagram.

 

Músicas que anteriormente somente pelo segmento do rádio talvez amargassem na sua maturação, ou nunca ascendessem ao sucesso, chegaram, em tese, graças às redes à boca do povo. Refrães como: “Tô querendo te beijar de novo / o teu beijo me... ah, ah, ah”, ou ainda o solfejo “Eu tô perdido nas curvas de uma morena/ Vou chegar junto pra sentir seu perfume / É a minha sina é a força da natureza / Mulher bonita é a fraqueza dos vaqueiros desse mundo” – músicas do cantor vaqueiro João Gomes –, além do “auuu, late / coração cachorro / late / coração”, dentre outras, impuseram ao mercado fonográfico novos valores e uma nova ordem musical.

 

Mas e o que isso tem a ver com a retomada do axé? Tudo! Nesse mundo virtual das redes, a “regra” propõe virar tema de alguma brincadeira e quem sabe se tornar um sucesso popular – digo isso baseado em tese e observações. Pois nesse “novo mundo”, nunca vi nada do axé sendo colocado como vídeo referência. Nada mesmo. Para não dizer nada da música baiana, temos Ivete colocando seu autoral na rede e só. Isso tudo conota ter saído o dito ritmo – axé – da boca do povo, das crianças, dos adolescentes e dos personagens anônimos consumidores da música.

 

A única referência que temos da música baiana com as redes (TikTok e reels) é o pagode, com sua sensualidade expressada por moçoilas desnudas e apolíneos musculosos. Fora isso, mais nada. 

 

Talvez seja essa a única forma do novo axé chegar. Pelos braços das redes sociais, já que, em outros tempos, os “eternos” não deixaram que a renovação acontecesse, e anteciparam a penúria que passamos atualmente. 

 

Me admira agora o silêncio dos culposos mediante o fato consumado, em terem acabado com um ritmo musical e ainda se fazerem de inocentes diante de tanta prova cabal. 

 

Não vamos fazer um caça às bruxas, mas também não devemos deixar cair no esquecimento aqueles que ainda tentam tirar uma casquinha do nosso finado mercado.