Existem momentos que na vida somos pegos de surpresa, e até acabamos sendo chatos em ser repetitivos. Falar de Ivete Sangalo é um desses momentos. Creio que nesses quase quatro anos que escrevo essa coluna, já fiz um quase tudo em se falando dessa menina. De carta aberta quando do nascimento do filho dela, a falar sobre o impacto que a música “Cadê Dalila” teve em mim e até mesmo quando a ouvi pela primeira vez, ou o dueto dela com Bethânia, enfim, foram tantas as vezes que falei dela que achei que falar mais uma vez seria lugar comum.
Mas, na vida nunca diga nunca. E lá fui eu tomar mais uma vez um tapa na cara dado pelo destino e, dessa vez, confesso, o tapa foi bem dado, pois me impressionei por demais. Olha, sou uma pessoa atenta a tudo que acontece no meio artístico baiano. Sempre divago sobre os mais diversos temas que envolvem o nosso mercado. Penso enquanto produtor, falo enquanto colunista, opino enquanto entusiasta de uma música – a baiana, que fique claro - que a cada dia se renova, diferentemente do que as pessoas possam achar, mas, dessa vez, fiquei sem palavras.
Para quem não entendeu, vou explicar. No especial que ela fez para a televisão com Caetano Veloso e Gilberto Gil, por no dia estar com um compromisso, acabei vendo apenas as duas primeiras músicas, o que me deixou com uma profunda frustação, pois, enquanto observador do cenário musical da minha terra, teria por obrigação, ter visto o especial todo. Mas como a vida é feita de uma sucessão de surpresas – costumo eu dizer – eis que chega às minha mãos, o DVD do especial feito por ela, Gil e Caetano.
Ante a expectativa, em principio nada demais, até porque, tinha visto anteriormente as primeiras músicas (como disse linhas acima), mas foi em: “Atrás da Porta” que tudo mudou, e mais uma vez tive que rever todos os meus conceitos, toda a minha impressão, tudo que tinha até hoje formatado sobre Ivete. E meio que estatelado e emocionado, voltei essa faixa do DVD creio que a noite toda. Digo isso porque quando me dei conta, já começavam a sair os primeiros raios de sol.
Expressar as sensações que me vieram quando vi o especial seria difícil. Foram tantas que se confundiram o tempo todo. Mas posso dizer sem medo de errar que, mais uma vez, essa menina expressa com simplicidade e humildade a sua condição de maior artista do país. Não por ser uma cantora de axé, mas por transitar em todos os estilos com uma desenvoltura e tranquilidade digna de poucos, muito poucos.
O DVD é simplesmente sensacional. O resgate e a releitura que são feitas nas músicas dos dois compositores (Gil e Caetano), com as pitadas de interpretações de outros grandes letristas brasileiros, como Chico Buarque, ou então Herbert Vianna na canção: “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, interpretada por Ivete, são momentos únicos e dão um quê de quero mais, além de uma sensação de o que se ouviu foi pouco.
Com o que vi no DVD, Ivete já poderia estar longe do carnaval, da música baiana, e quiçá do Brasil há muito tempo. A contar pela indescritível e comovente intepretação feita por ela na música de Chico Buarque e Francis Hime, e a emoção estampada ao final nos olhos de Gil e Caetano (principalmente de Gil). A minha percepção particular é de que ela somente não fez isso por total desprendimento do ego e desapego à materialidade que a vida nos remete, somado ao amor incondicional por sua terra, suas origens, sua gente.
O que cada vez mais me encanta nessa menina é a simplicidade, a generosidade em se dar, é a busca incessante pela perfeição, não como obsessão, mas como uma quase convicção, uma quase certeza que isso é possível. Onde ela quer chegar? Não sei. Mas sei, vendo as suas expressões que, viver o momento presente para ela, não significa o fim, mas apenas mais uma etapa cumprida.
O nome dessa menina não custa repetir, Ivete Maria Dias de Sangalo, ou simplesmente: Ivete Sangalo.
Luis Ganem
luisganem@bahianoticias.com.br;
Twitter: @luis_ganem
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