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'Quem falou que comprei calcinhas vai pagar', diz presidente afastado do Santos

Por Alex Sabino e Klaus Richmond | Folhapress

'Quem falou que comprei calcinhas vai pagar', diz presidente afastado do Santos
Foto: Divulgação / Santos FC

José Carlos Peres pega dois recipientes de plástico que estão embaixo da mesa. Ambos têm um líquido transparente. Em seguida, ele exibe uma nota fiscal em frente à câmera do computador.

"Foi isso o que eu comprei. Está aqui a nota fiscal. Quem falou que eu comprei calcinhas vai pagar na Justiça. Isso é um insulto à inteligência de um velho de 72 anos", disse o presidente afastado do Santos em entrevista à reportagem.

A acusação de que teria usado o cartão corporativo do clube para comprar roupas íntimas em uma loja de roupas e perfumes femininos é um dos casos mais rumorosos da sua gestão, iniciada em dezembro de 2017.

"São águas perfumadas para jogar nas salas de reunião do Business Center [escritório mantido pelo Santos na capital]", ele afirma, se referindo aos recipientes plásticos. "Esse foi o motivo da compra. Foram R$ 98."

Afastado da presidência em votação no último dia 28, Peres contesta a decisão dos integrantes do conselho deliberativo e aponta irregularidades no processo que o acusou de má gestão. Uma delas, de acordo com sua defesa, é que a comissão de estatuto do clube não avalizou o afastamento, e isso não teria sido levado em conta.

O dirigente tenta obter uma liminar para retornar ao cargo, ainda sem sucesso. Afirma que a lentidão da Justiça causada pela pandemia da Covid-19 tem atrapalhado. "Eu vou voltar. É o meu direito. Nem sequer tive a chance da ampla defesa, como garante a Constituição", reclama.

Peres se refere ao seu substituto, Orlando Rollo, apenas como "interino". Eleito como vice, Rollo rompeu com o presidente após dois meses de mandato.

A briga agora é por um período menor ainda. As próximas eleições presidenciais estão marcadas para 12 de dezembro e o mandato na semana seguinte. Nenhum dos dois é candidato.

O presidente afastado diz que foram feitas demissões políticas depois que deixou o clube. Também se queixa que a atual administração contratou funcionários que já haviam sido demitidos e estão na Justiça contra o Santos.

Rollo sustenta que as demissões foram necessárias para aliviar o caixa e proporcionarão economia de R$ 350 mil anuais. Ele nega ter feito contratações de pessoas que processaram a agremiação. Em todas as entrevistas, ressalta a dramática situação financeira do clube. "O Santos está de chapéu na mão", disse à reportagem logo após assumir o cargo.

Essa afirmação irrita profundamente Peres. "A dificuldade do Santos é a mesma de todos os clubes e foi causada pela pandemia. Em março, pagamos o salário de abril. Estava tudo em dia. Essa questão de choradeira, de pires na mão, coloca o clube de joelhos no mercado. Isso joga contra o Santos. É preciso parar com isso", declara.

Em defesa de sua administração, ele diz ter feito melhorias no CT Rei Pelé (local cedido em comodato pela União e pelo qual o Santos apresentou oferta de compra de R$ 50 milhões), reformou a Vila Belmiro e deixou um projeto para um novo estádio. A arena a ser construída, segundo o cartola, aumentaria a receita do clube em 400%. Também diz que o índice de endividamento da agremiação diminuiu entre 2017 e 2019.

"Em 2020 teremos um resultado ainda melhor. Vendemos [Eduardo] Sasha, Everson, Jackson Porozo e conseguimos 3 milhões de euros [cerca de R$ 19,5 milhões]. Tem mais R$ 15 milhões da Turner [contrato de TV] e injetamos R$ 35 milhões pagando contas. Se vc pegar o balanço vai ver que eu não aumentei a dívida. Não tem endividamento, mas o interino tirou o portal da transparência do ar", afirma.

A atual administração do Santos contesta os números apresentados por Peres e diz que encontrou o clube sem dinheiro no banco ou possibilidade de obter crédito.

O presidente afastado rebate que assumiu com dez contas bancárias bloqueadas e que agora falta criatividade para solucionar problemas, como conseguir empréstimos dando como garantia receitas futuras de transferências de jogadores.

Rollo explica que um novo portal da transparência, com todos os dados da administração, estará liberado na internet nos próximos dias.

Em seu começo de mandato, Peres chegou a se interessar pela contratação de Robinho, mas enfureceu o estafe do atacante ao dizer que ele precisava primeiro resolver seus problemas particulares. Era uma citação à condenação em primeira instância pelo crime de violência sexual. O jogador recorreu.

O Santos fechou acordo com ele no início deste mês, mas suspendeu o contrato após pressão dos patrocinadores.

"Não posso falar se o contrataria [agora], se estivesse no poder. Seria hipócrita. Eu acho que o clube deveria ter consultado os patrocinadores, o conselho deliberativo e ter feito uma pesquisa com os torcedores para ver se todos estavam de acordo e evitar o desgaste", opina.

Para Peres, voltar ao cargo é questão de honra, mas ele teme represálias de membros de organizadas que protestaram pedindo seu afastamento. "Jogaram quatro coquetéis molotov no meu prédio. O estado tem de garantir a segurança com policiais. Eu não desejo para nenhum deles isso. Porque o Santos virou guerra, e isso tem de acabar. É preciso paz."

O afastamento vale por 60 dias e tem de ser aprovado ou rejeitado por uma assembleia de sócios, que ainda não tem data marcada. Se não for feita até 27 de novembro, a 15 dias do pleito, Peres terá direito de retornar à presidência e ficar até o final do ano.