Para especialista, tratar cólica como algo normal dificulta diagnóstico de endometriose
Por Marcella Franco | Folhapress
A ideia de que sofrer com cólicas fortes é normal está tão arraigada no imaginário humano que, por causa dela, todos os anos milhares de mulheres deixam de descobrir que têm uma doença potencialmente grave: a endometriose.
No mundo, uma a cada dez mulheres sofre com este problema, que causa dores abdominais por vezes incapacitantes, e nos casos mais avançados, a obstrução de órgãos.
O desconforto no sexo também é um dos principais sintomas. Um estudo recente realizado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) mostra que a frequência de relações sexuais e de satisfação nelas é ao menos 30% menor nas mulheres com endometriose do que naquelas sem a doença.
Quem conduziu essa e outras pesquisas foi o professor Eduardo Schor, mestre, doutor e coordenador do Setor de Endometriose do Departamento de Ginecologia da Unifesp. Schor foi eleito Presidente da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE), e vai tomar posse em janeiro de 2020.
"No Brasil, 50% das mulheres com endometriose têm algum grau de depressão. Essa mulher sente dor e todo o mundo acha que é frescura. Às vezes, ela chega a perder o emprego. Temos que estar atentos", diz.
Para ele, um dos principais problemas da endometriose no país é a demora no diagnóstico pela falta de conhecimento: "É super frequente eu receber mulheres que estão se queixando de cólica há cinco anos e os médicos falam que não é nada, que é normal. Existe um consenso de que menstruar com dor faz parte do universo feminino. Muitas vezes a mulher reclama e o médico não dá bola”.
“Um estudo recente que fizemos na Unifesp diz que são 61 meses entre o primeiro sintoma e o diagnóstico. A mulher fica sem tratamento nenhum por cinco anos e, quando consegue o diagnóstico, a doença já está avançada. Aí resposta ao tratamento medicamentoso é mais difícil, e a gente acaba pendendo mais para a cirurgia”, contou.
Se nos consultórios sobra desinformação, na internet não são raros supostos especialistas oferecendo tratamentos milagrosos, e até mesmo questionando o trabalho da própria SBE. Schor alerta para o risco: "Não escolha seu médico pela quantidade de seguidores que ele tem nas redes sociais".