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Companhia das Letras compra Zahar e consolida seu domínio de mercado

Por Ivan Finotti | Folhapress

Companhia das Letras compra Zahar e consolida seu domínio de mercado
Foto: Reprodução / Facebook

A vitória de Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições, em outubro de 2018, fez Ana Cristina Zahar e sua filha, Mariana Zahar, pensarem em vender a editora carioca que leva o sobrenome delas desde 1956.

"Uma desilusão com os tempos", resume Ana Cristina, filha do criador da empresa, Jorge Zahar. "Nossa projeção indicava que uma casa média, como a nossa, teria cada vez mais dificuldades no atual ambiente de negócios. Achávamos melhor vender a casa enquanto ela estivesse inteira para manter esse legado."

Especializada em textos de ciências humanas e sociais, mas que também tem coleções voltadas aos clássicos da literatura e um selo infantil, a Zahar era parceira da paulistana Companhia das Letras de Luiz e Lilia Schwarcz desde a criação desta última, há 33 anos.

As empresas, por exemplo, distribuíam os livros uma da outra em seus respectivos estados. Quando havia uma Bienal no Rio, a Zahar cuidava do estande da parceira, e na versão paulista do evento, a Companhia retribuía a gentileza.

"Sempre foi um sonho meu, mas não me cabia perguntar se elas queriam vender, seria deselegante. Por isso eu e a Lilia tínhamos tomado a decisão de não tomar a iniciativa", conta Luiz Schwarcz. "Quando a Crica [Ana Cristina] me procurou, falei sim."

O contrato foi assinado na quarta (2) e o valor do negócio é mantido em sigilo. Além das Zahar, a editora tinha uma terceira sócia, a diretora de operações Ana Paula Rocha. Antes, porém, Schwarcz teve que consultar seu sócio americano, o conglomerado editorial Penguin Random House, que desde o ano passado detém 70% da Companhia das Letras.

Não houve problemas. "A Penguin Random House é uma empresa em expansão. Nos últimos dois anos, o braço espanhol comprou quatro editoras médias naquele país", diz.

"Como em todas as nossas aquisições, abraçamos essa responsabilidade com o comprometimento de preservar a independência editorial da casa e seus editores", disse o CEO da empresa, Markhus Dohle, no comunicado distribuído à imprensa na quinta (3).

A aquisição segue uma tendência mundial de compras de editoras formando grandes conglomerados. 

A Companhia, maior grupo editorial brasileiro, já havia adquirido a também carioca Objetiva, há três anos, aumentando sua fatia de mercado brasileiro para 45%. A compra da Zahar, de médio porte, fará o grupo orbitar os 50%.

"A Zahar manterá total independência editorial e, por enquanto, continuará operando em sua sede na Gávea", afirmou Schwarcz, na presença das ex-proprietárias. "Esse era um aspecto fundamental para manter o legado de meu avô. Às vezes, as editoras mudam de dono e perdem as características originais", diz Mariana.

Sua mãe cita a Nova Fronteira e a Civilização Brasileira como casos em que isso aconteceu. "Com o Luiz, sabíamos que isso não iria acontecer", diz Ana Cristina, que continuará ligado à editora prestando assessoria editorial. Lilia Moritz Schwarcz dá um exemplo de como a parte editorial não sofrerá intervenção. Tanto a Companhia quanto a Zahar estão prestes a lançar suas edições de "Mulherzinhas", de Louisa May Alcott.

"Ambas as edições são comentadas e têm introduções de autores diferentes. E esse tipo de coisa poderá acontecer no futuro, pois cada selo tem um público definido", diz ela.

Lilia aponta como o catálogo das duas editoras são complementares: "Se nós publicamos o Thomas Mann literário, a Zahar publica seus textos de não ficção. Na psicanálise, estamos lançando o Freud completo. Elas já publicam o Lacan há muitos anos no Brasil".

A sinergia, porém, causará algumas demissões nos próximos meses, especialmente na área de administração. Com 180 funcionários, a Companhia absorve os 27 da Zahar, mas alguns cargos com duplicidade de funções deverão ser fechados. "Vamos conhecer a empresa e analisar de maneira generosa, tendo o cuidado de não destruir talentos", afirma Luiz Schwarcz.

A relação entre as duas famílias é mais profunda do que a parceria comercial. Schwarcz conheceu Jorge Zahar na Feira de Frankfurt nos anos 1980, antes de sair da Brasiliense, de Caio Graco. "Jantamos os três e, depois, o Jorge se tornou um segundo pai para mim. Inclusive, ele passou a se corresponder com meu pai", lembra.

Quando Jorge morreu, em 1998, Luiz e Lilian Schwarcz foram os únicos não parentes a acompanhar a cerimônia de distribuição de suas cinzas.

"Foi uma amizade muito grande. Ele até perguntou se eu queria entrar na Zahar quando saí da Brasiliense. Foi quando fizemos esse acordo de distribuição. Ele me telefonava a cada lançamento da Companhia e me dizia assim: 'Meu filho, que maravilha! Que orgulho que você fez esse livro! Mas você vai perder muito dinheiro'."