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Rio de Janeiro enfrenta risco de surto de sarampo; casos confirmados tomaram vacina

Por Júlia Barbon | Folhapress

Rio de Janeiro enfrenta risco de surto de sarampo; casos confirmados tomaram vacina
Foto: Shutterstock

Dois casos de sarampo confirmados na segunda-feira (9) na cidade do Rio de Janeiro indicam que há risco de o surto chegar ao estado, já que a doença é altamente contagiosa.

As duas pacientes são estudantes da UFRJ (Universidade Federal do RJ) e não viajaram recentemente para locais que vêm registrando alta incidência de casos, como Roraima, Amazonas e Venezuela.

Ambas as jovens haviam tomado as duas doses necessárias da vacina, por isso a avaliação preliminar da Secretaria Estadual de Saúde do Rio é que tenha ocorrido uma falha vacinal. Ou seja, que elas façam parte de uma minoria de pessoas em que a vacina não gera imunidade.

"Elas também podem ter pego de alguém que viajou", diz o médico Alexandre Chieppe, da Subsecretaria de Vigilância em Saúde do RJ. Segundo ele, o estado não registrava casos autóctones de sarampo --contraídos no próprio local-- há 18 anos. As últimas ocorrências foram em 2014, mas eram importadas.

Os dois casos confirmados agora, aliados à facilidade de transmissão do sarampo, causam preocupação, diz Renato Kfouri, presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria. "O sarampo é muito rápido. Assim como a catapora, quando tem um caso é muito fácil se tornar surto se tiver gente desprotegida."

O governo estadual diz que a cobertura vacinal para crianças de um ano no RJ é de 95% -equivalente à meta prevista pelo Programa Nacional de Imunizações-, e a prefeitura afirma que o número da capital é de 107%.

Kfouri pondera, porém, que isso não significa alta cobertura em todos os municípios ou regiões. "O estado tem 95%, mas tem municípios com 70%. Não é homogêneo, tem áreas de suscetibilidade da doença", diz.

Chieppe, da Secretaria de Saúde, afirma ser possível que apareçam mais casos isolados ou aglomerados, mas que seria um número pequeno diante da cobertura do Rio.

"Como estamos trabalhando com um caso primário e um secundário, ainda não dá para dizer que há uma grande circulação do vírus." De acordo com ele, para evitar novos casos o governo agora se concentra na imunização de adolescentes e adultos não vacinados.

Carlos Kiefer, professor de infectologia da Unifesp (Universidade Federal de SP), concorda que esse deva ser o foco. "O problema é que a população adulta esquece de tomar a vacina ou fazer o reforço e fica suscetível", afirma.

Segundo o médico, apesar de não serem graves nem representarem um surto ainda, os dois casos no Rio indicam que há um risco. "Algo aconteceu que elas pegaram a doença no local em que vivem. Então a doença está chegando por alguma via", afirma.

Para evitar que os dois casos de sarampo da UFRJ se espalhem, a Secretaria Municipal de Saúde aplicou 573 doses da vacina em estudantes e funcionários da universidade no último dia 3. A ação, chamada vacinação de bloqueio, é considerada correta por infectologistas.

O Brasil já registra 475 casos confirmados de sarampo neste ano, segundo os dados mais atualizados das secretarias de Saúde dos estados.

Amazonas e Roraima têm os piores quadros, com 263 e 200 registros, respectivamente. Depois vêm Rio Grande do Sul (7), Mato Grosso (2), Rio de Janeiro (2) e São Paulo (1). O Brasil não tinha confirmações da doença desde 2015 e não registrava casos autóctones desde 2000.

Em 2016, o país recebeu o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que declarou a região das Américas livre da doença.

Nos últimos anos, porém, o vírus tem voltado a se espalhar. Em 2017, quatro países da região tiveram casos, número que já subiu para 11 neste ano -principalmente a Venezuela. Com a crise humanitária e o fluxo migratório do país vizinho, o Norte foi a região brasileira mais afetada pela doença.

Um em cada quatro municípios do país tem cobertura abaixo do ideal em todas as vacinas obrigatórias para bebês e crianças, situação que eleva a ameaça de retorno de velhas doenças e de surtos daquelas nunca eliminadas.

Levantamento feito pela Folha a partir de dados fornecidos pelo Programa Nacional de Imunizações, uma das principais estratégias de prevenção adotadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mostra que em 2017, 1.453 das 5.570 cidades brasileiras não atingiram as metas de cobertura para nenhuma das dez vacinas indicadas para esse grupo.