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Paciente psiquiátrico está mais sujeito à violência e corre mais risco de morrer

Por Stefhanie Piovezan | Folhapress

Paciente psiquiátrico está mais sujeito à violência e corre mais risco de morrer
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

Pessoas com doenças mentais graves estão mais sujeitas à violência no Brasil. Além disso, quando hospitalizadas, o risco de morrerem é 27% maior do que o de pacientes internados por outras condições clínicas. Os achados constam de estudo realizado por pesquisadores brasileiros e americanos e que foi publicado na última quinta (11) no periódico científico The Lancet.
 

O trabalho analisou hospitalizações e mortes no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde). O objetivo dos pesquisadores da UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei), da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e da Universidade de Washington era verificar o atendimento a pessoas com doença mental em um país em desenvolvimento e comparar os dados com a literatura de países desenvolvidos.
 

Para isso, eles consideraram os sistemas de informações hospitalares e de mortalidade do Ministério da Saúde, fazendo o recorte a partir de pacientes classificados com esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressão no momento da admissão no hospital.
 

De 1º de janeiro de 2000 a 21 de abril de 2015, período compreendido no acordo de disponibilização de dados entre o ministério e os pesquisadores, 72.021.918 pacientes foram hospitalizados, sendo 749.720 (1,04%) com doença mental grave. Ao todo, 5.102.055 morreram (7% do total). Destes, 67.485 (1,3%) eram pacientes psiquiátricos.
 

"Não me parece que tenham ocorrido políticas públicas, a partir de 2015, que possam ter mudado os resultados encontrados. Contudo, a continuidade do monitoramento desses achados ao longo dos anos é fundamental, principalmente pela pandemia de Covid-19, que pode ter levado à piora dos resultados, considerando que essa população do estudo se mostrou mais vulnerável", afirma Ana Paula Souto Melo, professora da UFSJ e da UFMG, e uma das autoras do artigo.
 

Ao analisarem os números, os pesquisadores encontraram maiores riscos de morte associada a infecções como hepatite aguda, tuberculose e HIV e a doenças cardiovasculares, diabetes e epilepsia entre os pacientes psiquiátricos.
 

Eles observaram também níveis maiores de morte por suicídio, por lesões não intencionais, como incêndios e quedas, e por homicídio. De acordo com os cientistas, pacientes com doença mental grave estão altamente expostos à violência, com uma taxa de risco relativo de 2,4 (ou seja, maior) comparando com pacientes não psiquiátricos.
 

"O Brasil apresenta uma alta taxa de mortalidade por causas externas, incluindo violência interpessoal, quando comparada com outras causas de morte. O que o estudo indica é que o excesso de mortes por violência interpessoal ainda é maior nesse grupo de pacientes psiquiátricos, principalmente na faixa etária de 15 a 29 anos, com maior risco entre mulheres. Vários estudos já apontavam para esse risco maior na população psiquiátrica, mas a magnitude do risco no Brasil chama realmente a atenção sobre a necessidade de se pensar políticas públicas para o enfrentamento dessa realidade", diz Melo.
 

No trabalho, a professora e os colegas destacam ainda a alta prevalência de violência sexual contra pacientes psiquiátricos, maior entre as mulheres (26,6%) do que entre os homens (12,5%), e o alto risco de mortalidade por infecções evitáveis.
 

"As mortes por essas condições indicam que essa população não recebeu os cuidados de saúde necessários. Muitos pacientes com doença mental grave não têm acesso regular à atenção primária e existem muitos estigmas relacionados à saúde mental, o que pode afetar a qualidade dos cuidados que esses pacientes recebem", dizem os pesquisadores no artigo.
 

Para Melo, o mais importante é que a maioria das causas de morte encontradas no estudo pode ser prevenida e para isso é necessário repensar a atenção ofertada aos pacientes psiquiátricos.
 

"Entendemos que precisamos avançar muito nas politicas públicas de cuidados em saúde para pessoas com transtorno mental, que historicamente sempre foram marginalizadas e excluídas, e os dados reafirmam essa vulnerabilidade", afirma a pesquisadora.