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Vaginas viram alvo de produtos que vão de cosméticos a ovos de cristais

Por Marcella Franco | Folhapress

Vaginas viram alvo de produtos que vão de cosméticos a ovos de cristais
Foto: Shutterstock

Por muito tempo, o espaço relegado às vaginas era dar prazer aos homens. Agora, as mulheres vêm sendo estimuladas a dar à sua intimidade o valor merecido, olhando para ela sem pudores, e investindo em cuidados e terapias específicos. A consequência disso é que, ávidas por itens que vão de cosméticos a cristais e vapores, as vaginas viraram o alvo do mercado medicinal.

Trata-se de um nicho poderoso, no qual cabem produtos voltados a atender às mais variadas necessidades. Começou com o lançamento dos copos coletores, uma alternativa aos tampões durante o período menstrual. Há um ano, surgiram, também, as calcinhas absorventes, e as mulheres passaram a buscar diferentes maneiras de cuidar de sua vagina e se relacionar com ela diariamente, ao invés de apenas uma vez por mês.

Agora, inspirados pelo resgate do "sagrado feminino", centenas de perfis nas redes sociais oferecem cosméticos naturais próprios para a vagina e o útero. É o caso, por exemplo, da Pachamama, marca mineira que tem em sua linha sabonete íntimo, bálsamo para alívio da TPM e até um kit menarca para celebrar a primeira menstruação das meninas.

"Nós participávamos de círculos de mulheres e víamos muita dor, falta de aceitação dos ciclos, da menstruação, falta de libido, e queríamos tanto solucionar essas questões quanto oferecer produtos que ainda não existiam", relembra Caroline Neves, diretora geral da marca, com oito anos de história e agora presente em 22 estados.

"No começo, algumas coisas assustavam muito as mulheres, como o coletor e o absorvente de pano. Elas gostavam dos cosméticos, e a gente ia entrando com a ideologia", explica. "Fizemos um trabalho de formiguinha para elas entenderem a transformação que precisava ser feita, e por isso é maravilhoso hoje ver tanta gente falando sobre essa conexão com a própria vagina, o útero e o prazer."

Melhora na vida sexual, aliás, é um dos benefícios que a terapia com ovos de yoni (vagina em sânscrito) promete . Depois de uma avaliação do histórico médico e emocional da mulher, uma especialista desenvolve uma gema de cristal polido em forma de ovo personalizada para cada paciente, que então introduz a pedra no canal vaginal.

Lourdes Pedretti Anahata, terapeuta especializada na prática, explica que os ovos ajudam, por exemplo, no equilíbrio hormonal, a reduzir cólicas, fortalecer o assoalho pélvico, prevenir a incontinência urinária, reduzir cólicas, além de colaborar com a fertilidade e favorecer o autoconhecimento.

"É crucial para todas as mulheres desenvolverem um relacionamento profundo com sua própria yoni, dar a ela muito amor diariamente", acredita. "A maioria das mulheres sabe muito pouco sobre suas yonis. Existe uma enorme desconexão, e elas ficam entorpecidas. Isso pode acontecer por trauma sexual ou emocional, ou simplesmente em virtude da cultura sexualmente reprimida".

A prática, de acordo com a terapeuta, teria surgido na China há mais de 5.000 anos e era chamada de kung fu vaginal. Em setembro, Anahata promove um workshop em São Paulo em que ensinará os cuidados básicos com as gemas, além de exercícios de pompoarismo e atalhos para o orgasmo.

Na internet, é possível encontrar gemas por 80 reais a unidade. Anahata, por exemplo, só oferece o ovo com o workshop. O curso, que dura um dia, custa cerca de R$ 500.

Na última semana, os "ovos de yoni" protagonizaram uma polêmica nos Estados Unidos. Em um site, propagandas da terapia traziam como chamariz a atriz Gwyneth Paltrow, que falava sobre aumento da libido e orgasmos, e acabou criticada pela classe médica internacional.

No Brasil, a ginecologista e obstetra Ana Lúcia Beltrame também recomenda cautela. "Não há nenhum estudo que comprove os benefícios dessa ação nem os malefícios a médio e longo prazo para a saúde íntima da mulher. A introdução de substâncias como uma pedra pode ocasionar lesões no canal vaginal e alergias".

A médica também comenta a terapia da "vaporização do útero", prática na qual se usa água fervente em um recipiente com ervas terapêuticas para realizar uma espécie de "sauna íntima", e a "respiração ovariana", que visa tratar problemas como miomas, endometriose e infertilidade.

"Essas práticas não têm nenhuma comprovação científica e não são tratamentos. Do ponto de vista médico, não há recomendação para que a mulher continue utilizando estes vapores. Se deseja ter melhora na saúde íntima, ela deve buscar ajuda de um ginecologista, que poderá orientar de forma adequada sobre o tratamento", esclarece.

Outro forte movimento feminino atual resvala justamente neste aspecto médico ao se apoiar na chamada "ginecologia natural" para tratar patologias por meio de ervas medicinais, aromaterapia banhos de assento, óleos, entre outros. Divya Prem, naturóloga, entende que é possível, por exemplo, que toda mulher se cure naturalmente da candidíase.

"Para isso existem muitos recursos naturais, como a violeta genciana. Além disso, é importante cuidar da alimentação, cortar doces e o excesso de carboidratos. Ficar sem calcinha ajuda muito também", receita.

"A ginecologia natural individualiza os tratamentos. É necessária uma longa escuta, compreender cada caso, conhecer a mulher. Cada uma será beneficiada de um tratamento diferente. Prescrever plantas não é como prescrever comprimidos", completa Bel Saide, ginecologista natural.  

A terapeuta Janaina Fellini, fundadora do espaço A Sala Rosa, famoso nas redes sociais, enxerga o atual momento feminino com otimismo. "Todas as ferramentas são bem-vindas, não podemos negar a evolução nem a eficácia dos remédios quando necessários. No entanto, agora podemos retomar nosso poder de escolha", avalia.

"Agora, temos a chance de conectar essa mulher contemporânea com a mulher ancestral, consagrando essa celebração com o conhecimento, a informação e o amor pelos nossos corpos e ciclos. É um privilégio viver um tempo de transição, com acesso à informação e ainda estar dentro de um corpo com um organismo que se limpa e regula todo mês. A revolução é feminina e começa do lado de dentro".