Mulher-Maravilha, Gal Gadot diz que seus poderes não garantem vitória feminista
por Thales de Menezes | Folhapress

Felizes e cansadas. Era assim que a diretora Patty Jenkins e a estrela Gal Gadot diziam se sentir quando vieram a São Paulo, em dezembro do ano passado, para divulgar "Mulher-Maravilha 1984" na megafeira geek CCXP. Então previsto para ser lançado em abril, o filme só chega aos cinemas agora, por causa da pandemia.
Sua preparação para a nova aventura da heroína da DC Comics começou meses antes das filmagens, entre condicionamento físico e ensaios. "Depois foram oito meses seguidos de gravação. Oito meses! Seis dias por semana! No domingo eu dormia o dia todo." A diretora dispensou ainda mais tempo no projeto, contando pré e pós-produção. "Mais de um ano sem fazer qualquer outra coisa", diz Jenkins. "Sem festas, sem amigos. Mal conseguia ver meu filho e meu marido."
A continuação do blockbuster "Mulher-Maravilha", de 2017, é mais ambiciosa. Troca a Primeira Guerra Mundial, cenário para contar a origem da personagem, por 1984. "Achei ótima a ideia", defende a atriz. "As aventuras da Mulher-Maravilha são oportunas para ir e voltar no tempo. Afinal, ela vive há décadas, e ainda está bem conservada, não?", brinca Gadot.
Segundo a diretora, "o ano de 1984 foi uma época de excessos visuais, de muita cor". Ela fez um filme solar, em contraponto ao clima sombrio da guerra do longa anterior. "Tínhamos o intervalo entre a Primeira Guerra e os encontros dela com os outros heróis nos dias atuais, mostrados em 'Batman Vs. Superman' e 'Liga da Justiça'. Os anos 1980 pareceram o ideal, por concentrar um sentimento nostálgico em parte da plateia e por ser um período de inovações, mas sem muitas facilidades que temos hoje." Falando de facilidades tecnológicas, Jenkins afirma que não gosta de se sentir refém dos efeitos especiais. "É praticamente possível fazer tudo em computação gráfica dentro de um estúdio, mas gosto de locações reais. Quero fazer filmes 'old school' usando a nova tecnologia. Quero atores de verdade, quero recorrer a dublês para coisas incríveis, tento ser independente da tecnologia. Busco uma extravagância visual, mas não a qualquer preço", diz.
Enquanto muitos atores usam máscaras ou maquiagem pesada para personificar um herói de quadrinhos, Gal Gadot expõe seu rosto o tempo todo na tela. Nem muda a cor do cabelo. Assim, sua identificação com a Mulher-Maravilha é imediata. É reconhecida em qualquer lugar, a qualquer momento. Foi perseguida pelos fãs nas ruas de São Paulo.
"É um efeito colateral do que eu faço", define a atriz. "Então tenho muito respeito por esse reconhecimento. Lido bem com essa atenção exagerada, mas sempre agradável. Às vezes eu estou cansada ou zangada com alguém ou alguma coisa, mas isso não transparece. Esse contato serve justamente para amenizar esses problemas, sou muito agradecida."
A atriz gosta de sentir a força da personagem no imaginário das pessoas. "É divertido entrar numa loja de brinquedos ou numa livraria e encontrar os itens com a Mulher-Maravilha, gosto de me sentir parte desse fascínio. Mas é meio surreal encontrar bonecas que têm o rosto parecido com o meu. É como um sonho estranho, sabe?" Ela tem algumas das chamadas "action figures" em casa, que ganha de presente, mas nunca comprou uma. "Não quero fazer uma coleção de bonequinhas Gal, seria bizarro!"
Diretora e atriz querem fazer mais filmes da Mulher-Maravilha. Mas são unânimes em reclamar da maneira como a mídia trata essas produções. "O que mais espero é chegar a um dia em que parem de falar de mim como uma mulher diretora e como uma diretora de filmes de uma garota dos quadrinhos", diz Jenkins. "Eu trabalho muito, intensamente, e em nenhum momento preciso me preocupar com o fato de ser uma mulher, mas todos apontam para essa condição."
"Quando o gênero parar de regular essa discussão será sinal de que o empoderamento feminino cumpriu sua missão", acrescenta Jenkins. "Eu concordo, nesse dia nós teremos alcançado nosso objetivo, será uma vitória do feminismo", diz Gadot. "Essa separação, essa insistência em ressaltar que sou uma mulher e não um homem, eu acho isso um insulto para ambos os lados", acrescenta a diretora.
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