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Marca Bahia Notícias

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Como o complexo de vira-latas faz o Brasil importar a loucura de supremacia branca

Por Fernando Duarte

Como o complexo de vira-latas faz o Brasil importar a loucura de supremacia branca
'30 pelo Brasil' fingindo serem 300 | Foto: Reprodução/Youtube/The Jornal

O eterno negacionismo do racismo estrutural parece funcionar como uma venda para impedir enxergar os símbolos dessa "nova direita", que chegou ao poder junto com Jair Bolsonaro. Basta ver as recentes apropriações da cultura de supremacistas brancos norte-americanos, que provocam ojeriza em quem entende as mensagens implícitas, ao tempo em que reforçam o comportamento neo facista desses grupos, aprovados por monstros até então escondidos no armário. Isso em um contexto de tensão racial nos EUA, berço desses símbolos agora adotados e relativizados no Brasil.

 

O exemplo mais explícito - e assustador -, na minha opinião, foi o grupo autoproclamado "300 pelo Brasil" protestar com máscaras e tochas em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mais referência à Ku Klux Klan (KKK) impossível. Ainda assim, há quem defenda essa mobilização como "liberdade de expressão". Não dá para fingir que não é criminoso utilizar esse direito para divulgar algo tão abjeto como as ideias da KKK. A liberdade de um só existe até o momento em que invade a liberdade do outro. Ser um supremacista branco deveria render prisão e rejeição social. Esse é um dos pontos defendidos pelos movimentos antirracistas inflamados pela morte de George Floyd.

 

Outro ponto crítico é o ato de beber leite puro, compartilhado pelas hostes bolsonaristas e pelo próprio presidente em transmissões online. É mais uma apropriação da direita radical dos EUA, comprovando o complexo de vira-lata tão presente na política externa do Itamaraty após a posse de Ernesto Araújo como Chanceler. Além de lambe-botas do pseudo filósofo Olavo de Carvalho, viramos capacho oficial na Casa Branca, com direito a importação de muitas ideias imprestáveis da sociedade americana. Tudo isso com a anuência e apoio da elite econômica brasileira, que usou o sentimento antipetista para transformar o país em uma nação comandada por despreparados, bem menores do que o Brasil mereceria.

 

Enquanto nos EUA, o movimento "Black lives matter" ganha corpo e tenta transceder a realidade racista por lá, aqui fingimos o mito da democracia racial. Inclusive, já se prevê o uso do "quero respirar" para responsabilizar as mobilizações pelas novas ondas de contaminação pelo novo coronavírus. João Pedro, morto aos 14 anos em casa no Rio de Janeiro, se tornou mais um número na escalada criminosa do Estado contra os pobres - e contra a população negra. Fosse ele um garoto de classe média, haveria uma intensa cobrança por punição. Mas Ágatha Félix morreu há mais tempo e pouco se fala daqueles que assassinaram ela aos oito anos.

 

Feliz será o dia em que consigamos admitir o preconceito arraigado em cada um de nós. Especialmente o racismo, agora negado e rechaçado pelos detentores do poder no Palácio do Planalto. Se você não se deixou emocionar pelas últimas palavras de George Floyd ou pelas falas das mães dos pretos que são mortos diariamente no Brasil, talvez não resida aí humanidade. Vidas pretas importam. Cruzar os braços para esse genocídio ou fingir que não há nada de errado com a semiótica neo facista em ascensão no país fala mais sobre você do que sobre esse projeto de nação que aos poucos vamos implodindo.

 

Este texto integra o comentário desta segunda-feira (1º) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios A Tarde FM, Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Alternativa FM Nazaré e Candeias FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.