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Marca Bahia Notícias

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Quando o 'amor hétero' entre Bolsonaro e Moro parece estar chegando ao fim

Por Fernando Duarte

Quando o 'amor hétero' entre Bolsonaro e Moro parece estar chegando ao fim
Foto: Carolina Antunes/ PR

Dois bicudos não se bicam. Parece um lema tucano, porém é um bom resumo da tensão criada entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro em torno do comando da Polícia Federal (PF). O assunto veio a público por informações de bastidores, porém a demora em negar o embate mostra que há o prenúncio de um estranhamento entre criador e criatura – e, nesse caso, ambos se enquadram nos dois perfis. O desgaste na relação não é novo, porém, nesta quinta-feira (23), tomou proporções até então não vistas. No entanto, engana-se quem acredita numa demissão pura e simples, como aconteceu com Luiz Henrique Mandetta.

 

Nas circunstâncias atuais, Moro é “indemissível”, para usar o termo popularizado pelo próprio Bolsonaro. O ex-juiz é o ministro mais popular e o responsável pelo endosso do lavajatismo ao modelo bolsonariano de gerir o Brasil. Uma saída abrupta dele da Esplanada geraria uma onda de desconfiança que poderia inviabilizar politicamente a permanência do presidente no cargo. É um esquema de retroalimentação. Bolsonaro precisa de Moro, porém a caneta dele também pode defenestrá-lo a qualquer tempo. E o morador do Alvorada esticou bastante a corda quando ameaçou substituir um indicado do ministro na PF. Maurício Valeixo é o homem de Moro na corporação e sua saída imporia a pior derrota política do ex-juiz desde seu embarque no projeto de poder do presidente.

 

Bolsonaro, por sua vez, entende que é preciso manter a figura de Moro sob rédeas curtas. O ex-juiz gosta de holofotes desde a época da 13ª Vara Federal de Curitiba e pode ofuscar facilmente o presidente. É uma espécie de duelo de titãs da nova direita brasileira, cujas raízes políticas ainda estão em fase de fixação. Por isso é bem natural que haja essa eterna disputa. Depois de traçar o plano para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, Moro também começa a enxergar a esvaziamento de poder vivenciado pelo presidente e esse vácuo não deve ficar muito tempo ocupado.

 

Ah, mas tudo não passou de uma informação falsa divulgada pela imprensa, já que o bolsonarismo e o lavajatismo vivem em constante lua-de-mel. Isso não é verdade há algum tempo, ainda que muitos insistam em não manter distância suficiente para enxergar. A movimentação é macro e a troca de comando da PF é apenas um pretexto para mostrar que não há mil maravilhas em uma relação de “amor hétero” entre Bolsonaro e Moro. Se fosse mentira, a milícia digital teria feito questão de evidenciar.

 

Pelos sinais dados nesta quinta-feira, a pergunta que fica não é SE Moro deve deixar o governo de Jair Bolsonaro. A grande questão é QUANDO isso deve acontecer. E essas não foram as primeiras pistas de desentendimento entre ele e o presidente. Pelo andar da carruagem e da gestão da crise do novo coronavírus, uma ruptura parece iminente. Qual dos dois lados vai pagar para ver? Com a confirmação da exoneração de Valeixo, parece que já sabemos qual deles apostou alto.

 

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (24) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.