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Golpe não veio, mas está bem estruturado - e explícito

Por Fernando Duarte

Golpe não veio, mas está bem estruturado - e explícito
Foto: Isac Nóbrega/PR

"Só saio da presidência morto, preso ou vitorioso". O golpe de Jair Bolsonaro à democracia não segue o modelo clássico. Ele tem o roteiro bem escrito e, aos poucos, vai demonstrando publicamente qual o objetivo: permanecer no poder, independente do resultado que as urnas definirem em 2022. Tudo isso com apoio de uma parcela expressiva da população, que não enxerga problema. Ou melhor, representa a fotografia desse "novo momento" do Brasil. Os atos em Brasília e São Paulo foram a degustação do acirramento dos ânimos proposto por Bolsonaro e seus aliados.

 

Mais cedo, no Distrito Federal, o presidente citou a convocação do Conselho da República, uma instância consultiva, para situações extremas. Por mais que haja extremismo com origem em Bolsonaro, não há ameaças, além das criadas por ele, à República. Sim, as instituições estão sendo corroídas paulatinamente e o descrédito lançado por ele segue fazendo vítimas. As principais, sem dúvidas, são as instituições. Mas as colaterais envolvem toda a população. E não há meio de frear a ameaça já lançada. Ou o campo democrático aprende a jogar o jogo do bolsonarismo, ou não teremos um país para chamar de nação em futuro próximo. Não nos moldes que conhecemos hoje.

 

A democracia está fragilizada e com a atuação fundamental daqueles que dizem defendê-la. Não há liberdade que autorize ataques massivos ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou ao Congresso Nacional. Não há liberdade que autorize as ameaças ao funcionamento da República dentro das linhas da Constituição. Sem pudor. O discurso é de um golpe construído tijolo a tijolo, com anuência do restante do país. O silêncio é tão fugaz quanto o barulho causado pelo discurso golpista  - que insiste em negar estar colocando em risco a estruturação republicana. É assustador ver as cenas que estamos vendo, como se tudo fosse normal, como se estivéssemos vivendo sob condições republicanas plenas. Não estamos. E estamos longe de estar.

 

Os "canalhas" a quem Bolsonaro ameaça não são apenas os ministros do STF, alvos citados direta e indiretamente pelo presidente. Canalhas são aqueles que conseguem ver que o balde está entornando, seja com o uso da eleição como mote - vide o retorno do discurso do voto impresso -, seja com a ação sórdida de enfraquecimento com o discurso antissistema. A fotografia, como pregou Bolsonaro, representa um Brasil em ruptura permanente, em fragmentação lenta e sem condições de lidar com o jabuti em cima da árvore da eleição de 2018.

 

O roteiro do golpe está bem estruturado. Ele ainda não veio da forma clássica - e talvez não virá. Porém as cartas estão à mesa, explícitas para quem quiser ver. Pena que nem todo mundo esteja disposto a enxergar.