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Falsa sensação de segurança e o lobby da retomada

Por Fernando Duarte

Falsa sensação de segurança e o lobby da retomada
Foto: Bahia Notícias

É cada vez mais forte o movimento para incentivar a retomada integral das atividades econômicas e sociais em Salvador e na Bahia. Trato como incentivo para não falar em “forçar a barra”. Há, inclusive, a simulação de um clima de aparente normalidade que não existe ainda. Principalmente nas camadas mais altas da sociedade, parte que mantém em alta o clima de negacionismo da pandemia. Enquanto isso, a classe hipossuficiente segue mais reticente, pois sabe que os desafios para acesso a saúde não são iguais nos momentos pré-crise.

 

Em entrevista à repórter Jade Coelho na última segunda-feira (25), o infectologista Igor Brandão alertou para o risco de estarmos enfrentando, agora em janeiro, o pior momento da pandemia do novo coronavírus. Em um contexto de desgaste das medidas restritivas, da insistência de autoridades públicas em rechaçarem medidas como o distanciamento social e o início da campanha de vacinação, cria-se a falsa sensação de segurança. Como se não bastassem esses pontos, convivemos com a possibilidade de uma cepa que se disseminaria de maneira mais rápida e com observações de que pode inclusive gerar casos mais graves. Ou seja, temos um caldo perfeito para uma crise de saúde, aquela não vista durante os meses iniciais da pandemia na Bahia.

 

Análises recentes sugerem que houve um aumento expressivo do número de casos entre os baianos no primeiro mês de 2021. Resultado da flexibilização das festas de final de ano também. Porém aumenta um pouco a preocupação quando vemos informações conflitantes entre os dados disponibilizados por órgãos da área. Porto Seguro, por exemplo, apresenta apenas 160 casos ativos no boletim da Secretaria Estadual de Saúde, mas mantém 487 pessoas em isolamento domiciliar sob suspeita clínica de Covid-19. O número baixo de casos nos leva a crer que, infelizmente, o volume de testes foi diminuindo gradativamente e muitos gestores do interior do estado desistiram de empenhar recursos e energia contra o novo coronavírus.

 

Diante de um quadro cada vez mais tenso, com o medo das cenas das câmaras de asfixia nos leitos de Manaus (AM) se repetindo em outras partes do país, é preciso ter muita cautela ao falarmos sobre o retorno de atividades que podem potencializar a disseminação da doença. Diversos especialistas sugerem o lockdown para frear o coronavírus. É uma medida extrema que não funcionou no Brasil - porque nenhum gestor público optou por fazê-la. Agora, enquanto o resto do mundo retoma medidas duras contra a pandemia, os brasileiros vivem no país das maravilhas e acham que é preciso retomar a normalidade do período pré-pandêmico.

 

Mesmo que existam sinais positivos para efetivar a reabertura, inclusive das escolas com aulas presenciais, é preciso ter muita cautela para não acelerar demais o processo. Sob o risco de jogar fora tudo o que passamos até aqui. Lembram daquela dicotomia entre vidas e a economia? Eu ainda fico na defesa do primeiro ponto.

 

Este texto integra o comentário desta quarta-feira (27) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.