O PSD, o 'leão de chácara' e a pressão sobre Rui
por Fernando Duarte

“Não foi exitosa”. É um eufemismo interessante adotado pelo senador Otto Alencar, presidente do PSD na Bahia, ao minimizar as tensões criadas entre o correligionário Angelo Coronel e o governador Rui Costa (PT) a partir do debate sobre as estratégias da base aliada em Salvador. Há uma rusga premente e esse episódio traz a público uma insatisfação até então tratada apenas nos bastidores. Rui, mesmo que tenha um bom trânsito entre os aliados, não chega a ser unanimidade.
Entre os partidos que compõem a base estadual, PSD e PP são os mais relevantes na construção de uma aliança ampla para dar continuidade ao projeto comandado pelo PT na Bahia. Os partidos possuem as maiores bancadas na Assembleia e o maior número de prefeitos e tendem a ser decisivos na corrida de 2022. Por isso os afagos para mantê-los no mesmo barco devem ser constantes até lá. E alguns momentos caminham para dar o tom dessa relação.
A primeira pedra no caminho é a eleição para a presidência do Legislativo baiano. O acordo para que PSD suceda a gestão de Nelson Leal (PP), avalizado pelo próprio Rui, é um desses instantes. O vice-governador João Leão, cacique do PP, vociferou desconhecer a existência desse aperto de mãos. O governador, instado a falar sobre o tema, frisou que o pacto é real e deve ser cumprido. Se escolher o lado do PP, briga com o PSD. Se for pelo outro, a indisposição será com o partido do vice. É uma espada dependurada sobre a cabeça difícil de ser removida.
Mesmo que a disputa na Assembleia tenha um final feliz, há outras nuances a serem observadas. O PSD, por exemplo, não esconde o interesse em participar de uma chapa presidencial daqui a dois anos. Caso aconteça - e a aliança não seja a mesma local -, o partido terá que construir palanque para essa candidatura. Quem trouxe o tema à pauta foi o próprio presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que citou até o nome de Otto como um potencial candidato.
Coronel não é inocente e sempre foi um bom “leão de chácara”. Como senador até 2026, ele tem gordura para queimar e a utiliza como uma forma de pressionar o governador a agir pró-PSD quando for necessário. Se na eleição de 2020, quando a legenda foi colocada em segundo plano em Salvador, coube a ele bradar, não estranhemos se ele assumir uma posição mais crítica em relação a Rui. O PSD não está para brincadeira.
Este texto integra o comentário desta quinta-feira (26) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.
Notícias relacionadas
Notícias Mais Lidas da Semana
Podcasts

'Terceiro Turno': Saída da Ford e o desemprego na Bahia
Logo no início da semana uma notícia preocupante foi manchete no país inteiro: a Ford anunciou o encerramento de sua produção no Brasil. A medida atinge em cheio a economia baiana, já que há duas décadas o município de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, abriga uma das fábricas da empresa americana no país. Com isso, milhares de profissionais perderão seus postos de trabalho. A Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) avalia que a saída do setor automotivo do estado pode reduzir a riqueza gerada em torno de R$ 5 bilhões por ano. Mais avaliações e desdobramentos são abordados no episódio de nº 60 do podcast Terceiro Turno, apresentado pelos jornalistas Jade Coelho, Ailma Teixeira e Bruno Luiz.
DESENVOLVIMENTO SALVANDO VIDAS
Ver maisBuscar
Enquete
Artigos
Gestão Municipal: todos falaram em mudança, mas quantos têm coragem pra mudar?
Quando todos os gestores estão abrindo os trabalhos da terceira década do século XXI, a palavra da moda é mudança. Mas, infelizmente, este tem sido um termo cosmético e de enganação em nossa sociedade. Principalmente, na Gestão Pública.