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Marca Bahia Notícias

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Denice e o reducionismo da 'mãe para Salvador'

Por Fernando Duarte

Denice e o reducionismo da 'mãe para Salvador'
Foto: Mila Cordeiro/ Ascom Major Denice

Salvador precisa de uma mãe. Esse tem sido o mote, bem simplório, da largada da campanha da petista Major Denice Santiago para a corrida pela prefeitura de Salvador em 2020. Por mais que a figura materna tenha um peso muito grande na construção da imagem de uma candidatura, ela acaba reducionista. Denice tem outras qualidades que precisam ser exaltadas para fazer frente aos adversários, porém há um martelo fixo na imagem da mulher negra com origem na periferia. Funciona para uma esquerda intelectual e como estética de campanha, mas não necessariamente garante votos.

 

Denice surgiu para o grande público como comandante da Ronda Maria da Penha. Um trabalho reconhecido nacionalmente de enfrentamento à violência contra a mulher. Uma pauta tipicamente de esquerda. No entanto, na condição de militar, ela conversaria com maior facilidade com a direita conservadora. Esse meio termo proposto pelo governador Rui Costa ao alçá-la candidata a prefeita não foi encontrado. Tanto que setores do próprio PT resistiram durante os últimos meses a aceitá-la como a “cara” do partido para o pleito da capital baiana.

 

O próprio voto identitário, para uma mulher negra, será disputado frente a frente com Olívia Santana (PCdoB), que tem tradição de militância política em Salvador, obtendo êxito em eleições para a Câmara de Vereadores e para a Assembleia Legislativa da Bahia. Como as histórias de vida das duas são importantes para a construção narrativa da campanha, será difícil dissociá-las, então a aposta na “maternidade” e na “mulher negra” pode não surtir o impacto necessário para tornar Denice uma expoente em votos.

 

A candidatura petista aposta, mais do que a de Bruno Reis (DEM), na lógica dos cabos eleitores de renome: leia-se Rui Costa e Jaques Wagner. Durante a convenção que homologou Denice no pleito, a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a ser utilizada, porém com um texto padronizado para as candidaturas em todo o Brasil. Ainda que Salvador tenha dado resultados importantes ao PT nas eleições gerais, o movimento jamais se repetiu com a mesma força nos pleitos para prefeito. O maior exemplo disso é a onda vermelha de 2012, que não conseguiu eleger Nelson Pelegrino contra, à época, um diminuto ACM Neto. Fincar os pés nessa premissa pode também não avançar muito.

 

Denice tem dois meses para se apresentar com outras qualidades que a tornem aprazível para os eleitores. A candidatura dela precisa furar a bolha da esquerda e dialogar com outros setores diferentes daqueles frequentados por correligionários. É um desafio e tanto. E evidenciar que não será tão simples não significa desconhecer política, como chegou a sugerir Wagner. É ter noção de que a realidade é muito mais complexa do que apostas de caciques.

 

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (17) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.