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Em meio a guerra de discurso, os blocos afro vão aprender com 'susto' em edital?

Por Fernando Duarte

Em meio a guerra de discurso, os blocos afro vão aprender com 'susto' em edital?
Foto: Sérgio Pedreira/ Ag. Haack/ Bahia Notícias

A participação de blocos afro no Carnaval de Salvador em 2020 beirou uma tragicomédia política. De um lado, entidades que se organizam mal para entregar documentos para conseguir viabilizar os recursos para os desfiles. Do outro, um jogo de vaidades entre políticos que, por incrível que pareça, estão com boas intenções. Por muito pouco, os tradicionais Ilê Aiyê e Olodum não ficaram de fora da lista de patrocínios de entes públicos. E o trajeto até chegar a esse ponto não foi tão simples...

 

A situação do bloco da Senzala do Barro Preto foi a que acabou chamando mais a atenção. O presidente dele, Vovô do Ilê, bradou publicamente críticas à política de editais. A iniciativa, conhecida como Carnaval Ouro Negro, é o formato utilizado pelo governo da Bahia para democratizar o acesso aos recursos. É uma burocracia necessária, visto que é dinheiro público que não pode escoar sem a fiscalização adequada. No caso do Ilê, uma certidão vencida – por inoperância administrativa do bloco – gerou a recusa do bloco no edital. Vovô, ao invés de atacar a causa do problema, sugeriu que a política era o problema. É comodismo, misturado a uma guerra de desinformação, algo bem típico no nosso cotidiano.

 

Depois do Ilê, o Olodum também reclamou nas redes sociais. O internacionalmente conhecido bloco usou até o nome da música que Michael Jackson gravou nas ruas do Pelourinho para criticar o edital que não o beneficiou. “Eles não ligam pra gente”, publicou um dos símbolos brasileiros no exterior. Para quem também teve inconformidade na entrega de documentos para ter acesso ao benefício – como aponta a aprovação após um recurso –, é muito fácil apontar o dedo para o governo.

 

A política de editais tem problemas. Pode até ser ligeiramente revista, como sugeriu o presidente do afoxé Filhos de Gandhy, Gilsoney de Oliveira. Blocos tradicionais poderiam ser convidados a participar do Carnaval, tal qual artistas de renome que não precisam passar por algumas fases da burocracia estatal. Mas as sucessivas falhas com documentos apresentadas pelos blocos afro não seriam solucionadas com esses “convites”.

 

Entre mortos e feridos, no entanto, salvaram-se todos. A prefeitura de Salvador resolveu participar ainda mais ativamente do processo de financiamento dos blocos afro e afoxés da capital baiana. O governo da Bahia reviu a sua decisão e liberou recursos para o Olodum, por exemplo. Tudo dentro da legalidade, frisemos. Porém esse sacode deveria servir para que dirigentes dessas entidades acordassem um pouco. Pelo menos para que no Carnaval do próximo ano esse problema não se repita pelos mesmos erros.

 

Este texto integra o comentário desta sexta-feira (14) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM Alternativa FM Nazaré.

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