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Fernando Duarte

Artigos

Karla Borges
Por que Salvador tem o IPTU mais caro do Brasil?
Foto: Arquivo Pessoal

Por que Salvador tem o IPTU mais caro do Brasil?

A legislação do IPTU de Salvador foi profundamente alterada em 2013, quando uma revisão na Planta Genérica dos Imóveis foi feita, culminando num exagerado aumento nos valores do m² dos terrenos e das construções da cidade, elementos que compõem a base de cálculo do tributo. Uma estranha e desproporcional tabela de receita foi elaborada com uma progressividade duvidosa e questionável. Portanto, as leis 8.464/13 e 8.473/13 transformaram o IPTU de Salvador no mais caro e mais injusto do Brasil nos últimos dez anos.

Multimídia

Apesar de promessas, governo Jerônimo segue sem quitar pagamento de emendas impositivas a deputados da AL-BA

Apesar de promessas, governo Jerônimo segue sem quitar pagamento de emendas impositivas a deputados da AL-BA
Volta e meia o debate sobre a liberação das emendas impositivas aos deputados estaduais, em 2023, retorna aos holofotes. A pauta é alvo de insatisfação, tanto de parlamentares da base do governo, como também da bancada de oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), que é o caso do deputado Alan Sanches (União).

Entrevistas

Vitor Azevedo afirma que ausência em evento de Bolsonaro não abalou relação com o PL, nem com João Roma

 Vitor Azevedo afirma que ausência em evento de Bolsonaro não abalou relação com o PL, nem com João Roma
Foto: Divulgação / Assessoria /Crédito: Max Haack
Nascido em 1979, em Salvador, o deputado estadual Vitor Azevedo tem 44 anos, é publicitário por formação, casado e pai de uma menina. Embora seja da capital, desde cedo desenvolveu uma relação próxima com o interior do Estado, sobretudo por ter vivido a infância em Vitória da Conquista, onde criou laços que permanecem fortes até hoje. 

Fernando Duarte

Opinião: Casal Bolsonaro prega para convertidos em Salvador e ainda arrasta militância
Foto: Gabriel Lopes/ Bahia Notícias

A passagem de Jair e Michelle Bolsonaro por Salvador não teve tanto impacto quanto os aliados gostariam. Ainda assim, não deixa de chamar atenção que o casal arrasta uma militância que não se importa se eventualmente existam investigações que colocam Jair no centro de uma trama golpista ou se Michelle tenha se tornado uma alternativa política possível diante dos enroscos do marido.

 

O ex-presidente não fugiu do script favorito: pregou para convertidos e atacou o petismo e os adversários. A fala sobre Israel e o convite de Benjamin Netanyahu foi uma provocação explícita, em um ambiente em que a bandeira israelense tremulava, apoiada pela confusão causada pelas igrejas neopentecostais e o Estado de Israel bíblico. Eis um exemplo de como o discurso continua repleto de falhas, porém continua sendo aplaudido por um séquito de apoiadores, que muitas vezes desacreditam da Terra ser redonda.

 

Entre os políticos, poucos gostaram da ideia de posar para fotos ou ser associado ao casal ex-presidencial. Fora aqueles eleitos na onda do bolsonarismo ou do conservadorismo que teve quase 50% dos votos no Brasil e pouco menos de 30% na Bahia, quase ninguém com mandato participou do tradicional beija-mão que aconteceria com alguém que há pouco tempo deixou o poder. A lógica do café frio continua sendo válida, ainda que insistam em fingir que não há.

 

Michelle foi pelo mesmo caminho. Discursou no tom de quem reconhece o filão eleitoral no qual investir e que tem sido alimentado por Bolsonaro há pelo menos 10 anos na cena política nacional. É reacionária e conservadora ao ponto de fazer um contraponto entre "ser feminina" e "ser feminista". No entanto, ela ecoa como uma expressão de uma sociedade que pensa - ou pelo menos acredita pensar - dessa forma antiprogressista. A ex-primeira-dama se coloca como opção nas urnas e, não duvidemos, de ser ela a maior expressão do bolsonarismo em 2026.

 

Na esteira do populismo, típico do estilo de liderança que o consagrou, Bolsonaro ainda posou de "gente como a gente" em uma pizzaria e uma churrascaria de Salvador e achou tempo para comparecer a um funeral do pai de um colaborador do escudeiro baiano (e pernambucano) João Roma. Tais eventos podem não ter sido planejados com antecedência, mas refletem uma estratégia cristalizada desde o café da manhã com leite condensado e pão.

 

Na Bahia, não necessariamente o bolsonarismo encontra guarida. Porém não é uma força inteiramente desprezível. Só que ainda não consegue furar a própria bolha, ainda que o discurso encontre eco em um percentual significativo da população. O casal Bolsonaro prega para convertidos e arrasta muita gente. Mesmo que esses eleitores não sejam suficientes para definir uma eleição em território baiano.

Opinião: Derrota de Marcelo Nilo ao TCM é derradeiro episódio tragicômico da política baiana
Foto: Priscila Melo/ Bahia Notícias

Marcelo Nilo disse, durante a própria defesa como candidato a conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), que uma derrota significaria o final da vida pública daquele que foi de “estagiário da Embasa” à governador interino. Como políticos têm o hábito de não necessariamente cumprirem a palavra, isso não quer dizer que o ex-deputado pôs fim a carreira política. Porém foi uma derrota dura para quem, outrora, foi poderoso ao ponto de permanecer por 10 anos à frente da Assembleia Legislativa da Bahia.

 

Desde que o senador Jaques Wagner entrou no circuito para articular a candidatura de Paulo Rangel, Nilo se tornou um azarão para a cadeira do TCM. Não deixa de ser uma fina ironia, inclusive, caber a Wagner o papel de sepultar as chances de o antigo aliado permanecer na vida pública. O Galego foi quem tornara Nilo poderoso, quando derrotou o carlismo em 2006 e o “bancou” pela primeira vez na Assembleia. Também veio do próprio Wagner o ato de defenestrar o “amigo” da chapa majoritária em 2014, mas até ali a relação de aproximação continuava. Só que, em 2017, já brigado com o novo governador Rui Costa (PT), o ex-chefe do Legislativo iniciou sua derrocada.

 

A “traição” do PCdoB, quando em 2017 abandonou o barco da quinta reeleição de Nilo na Assembleia, foi a ponta visível. Ali, ficava claro o distanciamento do então presidente do entorno do governo da Bahia, representado por Rui, mas sem o distanciamento de Wagner - afinal, os comunistas se colocaram na condição de apêndice petista. Angelo Coronel (PSD) não apenas ascendeu para colocar um fim na Era Nilo, como acabou alçado à condição de candidato ao Senado em 2018, de onde assistiu o desenrolar dos fatos.

 

Naquele ano, depois de ficar um biênio como um deputado estadual da planície, Nilo resolveu ser candidato a deputado federal, indicando o genro, Marcelo Veiga, para ser o herdeiro dos votos para Assembleia. Agora deputado federal, ele poderia ter ficado em Brasília, mas nunca escondeu que preferia estar pela Bahia. Assim, Nilo iniciou a caminhada para migrar para as figuras que, num passado não tão distante, estiveram do lado oposto ao qual ele construiu a vida pública. Anunciou ainda no começo de 2022 o rompimento com o PT e o apoio a ACM Neto (DEM) na corrida eleitoral daquele ano. 

 

Os desdobramentos desse processo são de conhecimento público. Caiu da candidatura ao Senado. Caiu da disputa pela vaga de vice. Ficou com uma votação reduzida para tentar retornar à Câmara, depois que distribuiu suas bases para os novos aliados. Agora, depois de ficar um tempo como assessor especial do prefeito de Salvador, Bruno Reis - uma espécie de prêmio de consolação -, Nilo se deparou com a maior derrota política: sequer ameaçou o favoritismo de Paulo Rangel (que manteve a discrição que sempre o acompanhou e lidou com apenas duas ou três traições) e toda a influência de Wagner sobre a base aliada do PT na Bahia.

 

O potro de Marcelo Nilo passou selado há muito tempo. Alguns já tinham percebido isso. Ele, nem tanto. Insistiu em tentar ir para o TCM, mesmo contra todos aqueles que o aconselhavam a não o fazer. Cobrou (ou lembrou, para não parecer uma troca de favores) todas as benesses que fizera ao longo de 10 anos de mandato na presidência da AL-BA e que ainda beneficiam os parlamentares. Não deu. Confirmada a própria perspectiva de Nilo, o eclipse de uma carreira de vitórias culminou com um fim bem menor do a história em si. Quando ele tentou montar, o tal cavalo já tinha ido com o tempo...

Opinião: Nilo x Rangel: Duelo no TCM define futuro do ex-presidente e da estratégia de dominar Cortes de contas
Foto: Carine Andrade / Bahia Notícias

O grande tema político na Bahia ao longo da semana pode ter fim já nesta terça-feira: a escolha do novo conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). O duelo está restrito a dois velhos conhecidos da Assembleia Legislativa da Bahia, o ex-presidente Marcelo Nilo e um até então discreto deputado, Paulo Rangel. A disputa poderia até ter um terceiro nome, mas a candidatura de Fabrício Falcão foi esvaziada antes mesmo de ser colocada em prática. Tudo pela unidade, desde que haja subserviência ao grupo dominante.

 

Nilo terá a sua grande prova de fogo sobre o futuro na vida pública. Se perder - o que o bolão de aposta paga menos -, pode por fim a uma carreira que "começou como estagiário da Embasa", como o próprio ressalta, e terminou com uma derrota articulada por um "amigo", como ele gosta de chamar o ex-governador Jaques Wagner. Afinal, por mais que o governador Jerônimo Rodrigues seja a atual face do PT na Bahia, Wagner segue dando cartas mesmo que não apareça por isso. Partiu do grupo liderado por ele a ideia de indicar Rangel ao TCM, passando até pela negociação de abrir mão da candidatura petista em Salvador.

 

Foi um preço baixo a ser pago, especialmente no contexto de que Geraldo Jr. jogado aos leões é muito mais útil como efeito colateral de ganhar mais uma cadeira na Corte de contas, que seria completamente dominada pelo PT e suas quatro cadeiras. O artífice não é será público e os efeitos serão sentidos no longo prazo, dada a estratégia do carlismo ter se perpetuado por muito mais tempo nesses espaços do que no Executivo baiano. É uma cópia renovada e remasterizada dessa lógica e o Galego entende mais disso do que qualquer um outro.

 

Rangel é um peão que vai jogar o jogo para poder ganhar um cargo vitalício e empregar assessores sem a fiscalização que enfrentaria na Assembleia. Além do espaço para a eterna troca de postos entre aliados, que, convenhamos, acontece desde que o mundo é mundo. O PT tende a ser majoritário no embate pelo TCM, ainda que os comunistas façam muxoxo e digam que não vão votar: teria um efeito político mais prático se o choque de realidade colocasse Nilo no posto, diminuindo a ascendência e o protagonismo do PT na cena baiana.

 

O azarão Nilo não é uma figura pequena e aposta no voto secreto para não sair derrotado. Ao longo dos últimos meses, cobrou faturas e favores da época em que presidiu por 10 anos a Assembleia e deu cartas com uma caneta com menos tinta, mas bem simbólica para quem conhece o ego de parlamentares. Dificilmente ele sairá vencedor, mas, se conseguir, aplicará uma derrota ao petismo baiano que, pelo menos desde 2006, só acumula vitórias e vitórias. O ex-presidente que outrora foi Golias e acabou derrotado pelas circunstâncias da vida, poderia então renascer como David. É isso ou um fragoroso adeus à arena política.

 

O TCM não é um campo de batalha como estamos acostumados a acompanhar no dia a dia dos poderes. Muitas vezes, tal qual o Tribunal de Contas do Estado, passa despercebido da esfera pública. Por isso, há tanto interesse da classe política neles. Dá pra fazer política sem ter mandato e sem ser notado. Ganhe Nilo ou Rangel, saibamos que, para o restante da população, poucos vão se importar. Já os envolvidos terão muito a perder com qualquer derrota.

Opinião: Muniz optou por apoio a Bruno Reis após “ler” que Geraldo Jr. não conseguiria agregar base de Jerônimo
Foto: Fernando Duarte/ Bahia Notícias

O presidente da Câmara de Vereadores de Salvador, Carlos Muniz (PSDB), confessou ter ficado em uma posição delicada quando o amigo Geraldo Jr. (MDB) decidiu ser candidato a prefeito da capital baiana. No final de agosto, Muniz declarou publicamente que iria apoiar a reeleição do prefeito Bruno Reis (União) e como “cumpridor de palavra”, numa expressão comum na política e usada pelo próprio vereador, deve seguir assim até outubro. Isso não impede que ele seja pressionado para ir por outro caminho.

 

Durante entrevista ao podcast Projeto Prisma, Muniz explicou que, quando decidiu pelo apoio a Bruno, o primeiro a receber um telefonema foi Geraldo Jr. Antes mesmo do próprio prefeito, conforme relato dele. À época, na avaliação de Muniz, o vice-governador não reunia condições para agregar a base que construiu a vitória de Jerônimo Rodrigues para o governo da Bahia em 2022 e dificilmente iria conseguir fazê-lo. Foi uma visão bem pragmática e que se confirmou ao longo de toda a demora para conseguir unificar a base aliada de Jerônimo em Salvador.

 

Quando Geraldo Jr. foi alçado ao posto de representante único do grupo político petista para disputar a prefeitura de Salvador, Muniz seria cobrado pela postura antecipada, que o deixou afastado politicamente do amigo. É claro que, até aqui, o presidente da Câmara não deu sinais de rever a decisão de se manter mais próximo de Bruno Reis. E isso pode ser explicado não apenas pela posição de “cumpridor de palavra”, mas também pela própria dificuldade de Geraldo Jr. em agregar os aliados do entorno petista.

 

Por mais, no discurso, haja a simulação de que o vice-governador congregou os apoios necessários para ser candidato único da esquerda, não faltam alfinetadas, públicas ou não, de aliados que se sentem desconfortáveis em tê-lo como representante nas urnas. Isso mostra que existe um distanciamento grande entre o posicionamento de figuras proeminentes da política - Jerônimo Rodrigues como o mais audível - e a postura real da militância, que não tende a marcar unificada em torno de Geraldo Jr.

 

Talvez essa seja a justificativa perfeita para que Muniz não se sinta desconfortável inteiramente em se manter equidistante daquele que o “fez” presidente da Câmara. Lembremo-nos que ele fora eleito vice-presidente e, com a vitória de Jerônimo e Geraldo Jr., acabou herdando o comando do Legislativo soteropolitano. Tal “favor” poderia entrar numa cobrança de fatura, caso haja um desdobramento raso da disputa, porém Muniz teria muito menos a perder do que os demais envolvidos.

 

Isso não quer dizer, no entanto, que o presidente da Câmara fique apenas passivo no processo eleitoral da capital baiana. Ele é um ator que consegue reverberar as opiniões e, de alguma forma, interferir no calendário da política local. Tanto que, dias após ele sugerir que Bruno Reis não deve adiar por muito mais tempo a assunção enquanto candidato à reeleição, o prefeito iniciou debates com aliados que passam, principalmente, pela construção de outubro. Recado dado, recado recebido, mesmo que tenha sido um jogo combinado entre eles.

 

Como a política é cíclica, nada impede que, no futuro, Muniz e Geraldo Jr. estejam de novo lado a lado, como até se ensaiou em 2023, quando o presidente da Câmara chegou ao PSDB e o partido “namorou” uma aproximação com o governo da Bahia. Todavia, em 2024, dificilmente isso vai acontecer.

Opinião: Bolsonaro defende "minuta de golpe" para pedir que Brasil "passe borracha" e anistie presos do 8 de janeiro
Foto: Josenildo Moreira/ Bahia Notícias

Com um discurso extremamente comedido para os próprios padrões, o ex-presidente Jair Bolsonaro conseguiu o que queria com o ato na Avenida Paulista: uma fotografia com milhares de apoiadores que possa transparecer que o "povo está ao lado dele". Em uma fala de auto-exaltação, o ex-presidente defendeu a "minuta de golpe", evitou criticar diretamente adversários e pediu anistia para os presos no 8 de janeiro de 2023.

 

Primeira grande aparição pública de Bolsonaro após investigações da Polícia Federal aproximarem a orquestração de um golpe de Estado dele, o ex-presidente ironizou as motivações para que ele tenha sido sucessivamente "atacado" desde antes de chegar à presidência da República e intensificada após ele deixar o Palácio do Planalto. 

 

Em um determinado momento, Bolsonaro chegou a sugerir que a minuta pedia uma intervenção com base na Constituição, o que automaticamente a descartaria como uma tentativa de golpe à República - ou seja, admitiu que o documento era de seu conhecimento e mereceu ter sido debatido internamente. Nessa oportunidade, ele pregou que o país passasse uma borracha para esquecer o passado.

 

Ao lado dele, estavam bolsonaristas "raízes" e lideranças neopentecostais, capitaneadas pelo pastor Silas Malafaias, que frisaram durante as falas o caráter de vítima do ex-presidente frente a eventuais abusos de "alguns". Foi um evento em tom messiânico, ao fim e ao cabo, como era esperado. De Michelle Bolsonaro aos políticos de maior proeminência, o ato na Paulista foi um "suco" das falas pregadas pelos apoiadores de Bolsonaro antes, durante e após a passagem dele pela presidência.

 

Não dá para tratar como um teatro de absurdos. Foi tudo dentro do esperado, desde a defesa de um evento de paz estando o próprio Bolsonaro usando um colete à prova de balas, até o roteiro em que a facada foi rememorada e o resultado das eleições em 2022 tenha sido questionado, ainda que de maneira tangencial.

 

Para efeitos práticos, o ex-presidente manteve cativa e ativa a militância a seu favor, que agora ganha novo reforço de que a "nação" está em defesa das liberdades através do neovitimismo de que ele agora é o grande alvo dos esforços para retirar um político da cena - em moldes relativamente similares ao que os petistas argumentavam quando, em 2018, Luiz Inácio Lula da Silva foi inviabilizado de participar do pleito.

 

O retrato da Paulista é o que o bolsonarismo precisava. A leitura feita por Silas Malafaia, que tomou a frente da organização, e do entorno de Bolsonaro foi bem feita. Não deixa de ter certo nível de coação para quem prefere evitar um cenário de embate civil ao enfrentamento que o 8 de janeiro mostrou como possível. Pensar diferente disso é não enxergar que a divisão política permanece tão forte como nos últimos anos.

Opinião: Lula cria crise, reduz papel de conciliador e reforça justificativas de Netanyahu em Israel
Foto: Ricardo Stuckert / PR

A falta de roteiro para presidentes da República brasileiros nos últimos anos tem dado mais dor de cabeça ao Itamaraty do que deveria acontecer. Durante o governo de Jair Bolsonaro, foram inúmeras as situações em que a verborragia do ex-presidente colocou o país em uma zona limítrofe sobre o que era aceitável ou não. Neste final de semana, mais uma vez, coube a Luiz Inácio Lula da Silva causar constrangimento na área de relações exteriores. A “linha vermelha” que Israel acusa Lula de passar ao comparar o massacre em Gaza com o Holocausto é apenas mais um exemplo de como não dá para haver improviso sobre declarações sobre conflitos internacionais.

 

A comparação de Lula não foi direta. É preciso explicitar isso. Porém falar sobre o Holocausto em um contexto de comparação com atuação do Estado de Israel é reforçar o discurso de antissemitismo que justifica a atuação de Benjamin Netanyahu como um “herói” na luta contra o Hamas. O brasileiro errou feio ao traçar esse paralelo e essa barbeiragem deve trazer repercussões graves para o comportamento que o próprio Lula vinha tentando pregar, como de um interlocutor capaz de mediar conflitos em busca da paz.

 

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Netanyahu tem cometido crimes de guerra nesse processo de enfrentamento às células terroristas. Apesar do Hamas e outros braços armados antissemitas que atuam em Israel e no entorno terem que ser responsabilizados pelos atos desencadeados a partir do ataque de 7 de outubro, a forma desproporcional como a população palestina tem sofrido as consequências dessa ação precisa ser condenada.

 

A fala do brasileiro desviou o foco do problema real, que é a morte de civis em meio a uma guerra que não terá uma solução em curto prazo. Até aqui, Lula vinha fazendo o enfrentamento ao modus operandi de Netanyahu de maneira cuidadosa. Agora perdeu a mão totalmente. E deixa de ter condições de assumir o protagonismo desejado por ele até então. São consequências da ausência de roteiro para assuntos que não são plenamente dominados pelos gestores brasileiros.  

Opinião: Elmar mostra força ao juntar Lira e Jerônimo, mas presença de Antonio Brito equilibrou cenário
Foto: Reprodução/ Instagram @jeronimorodriguesba

Não foi um simples café da manhã entre o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), durante a passagem do alagoano pelo Carnaval de Salvador. O encontro foi marcado pelo simbolismo do oposicionista Elmar Nascimento (União), cicerone de Lira, ter levado o todo-poderoso da Câmara para o ninho petista no Palácio de Ondina. Foi, ao mesmo tempo, uma demonstração de força e um teste para saber até que ponto a corda pode ser esticada para manter relações republicanas.

 

Quem esteve no encontro sinalizou que, em um primeiro momento, houve a tentativa de ser um momento mais intimista, sem a presença dos pares de deputados que se deixaram fotografar com Lira e o governador. Para Elmar, uma foto sem a presença de tantos aliados do governo da Bahia renderia muito mais impacto, especialmente após o veto dos petistas baianos à ascensão dele para uma cadeira na Esplanada dos Ministérios. Não deu lá muito certo a estratégia.

 

Para Jerônimo, não é interessante fortalecer tanto a candidatura de Elmar à presidência da Câmara. O União Brasil é a antítese aos mais de 16 anos do PT no poder na Bahia e o líder do partido na Câmara é um desses representantes. Somado à grande chance de Davi Alcolumbre presidir o Senado Federal, os eventuais riscos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva se tornar refém do grupo adversário é grande demais para quem consegue antever os passos dos adversários.

 

Foi por isso, principalmente, que todos os registros que vieram a público em que Elmar aparece no Palácio de Ondina, mesmo que à distância aparece o deputado federal Antonio Brito (PSD), considerado um dos oponentes com chance de impor certo nível de incerteza na condução de Elmar como o sucessor de Lira na Câmara. A preocupação veio não do governo, mas de parlamentares governistas que não queriam se comprometer com o apoio que poderia ser inferido a partir das fotografias ao lado do atual presidente e do então favorito à sucessão.

 

Brito, inclusive, manteve o padrão que consolidou na política: submerge para evitar atritos e só fala quando julga necessário. Enquanto isso, vai pelas beiradas, tentando se manter como uma alternativa viável, especialmente se o governo resolver entrar na jogada para impedir que o Congresso Nacional fique inteiramente sob o comando de um único partido que, em essência, é antipetista desde as origens. Caso isso aconteça, o PSD é um autêntico representante do centro político e vai abusar desse papel conciliador para fazer Brito presidente da Câmara.

 

A eleição para a direção do “sindicato dos deputados” acontece apenas em fevereiro de 2025. Essa antecipação tem sido colocada na conta de Elmar e de Lira, que tentam evitar perder a ascendência que atualmente têm sobre os companheiros de Câmara. Esse é um dos fatores que mais pesa para que a dupla continue a dar as cartas no próximo biênio. A vinda à Bahia e o café da manhã com Jerônimo foram bons trunfos para Elmar. Porém não foram tão grandes como ele imaginaria, justamente porque os ora aliados ora adversários sabem que não podem dormir no ponto. 

 

O cardápio do encontro em Ondina não foi a eleição da Câmara. Mas quem negar que a sucessão de Lira não moveu as conversas antes, durante e depois pode estar perdendo o bonde que já não anda - corre a uma velocidade considerável para quem está tão distante do pleito.

Opinião: Carnaval de ano eleitoral teve desempenho político bem abaixo da expectativa
Foto: André Carvalho/ Bahia Notícias

Tradicionalmente, em anos eleitorais, os debates políticos acontecem no calor do Carnaval e rendem boas aspas de candidatos, aliados e adversários. Em 2024, não houve tempo ou ânimo para aquecer as discussões sobre o pleito de outubro. As chuvas do domingo, dia mais usual para manifestações políticas, podem ter contribuído para o clima ameno. Porém o protagonismo do prefeito Bruno Reis no período também justifica a falta de espaço para que outros nomes captassem os holofotes.

 

A aposta de um Carnaval alongado, com quase 15 dias de duração, foi arriscada. Um erro simples poderia comprometer todo o desempenho da gestão de Bruno Reis na folia, algo crucial para um prefeito que deve tentar a reeleição. A principal preocupação acabou sendo a “passarela dos ambulantes” na Barra, que, felizmente para Bruno, não teve repercussão negativa após ter entrado em operação - e olha que não faltaram tentativas de capitalizar politicamente e na mídia a instalação do equipamento.

 

Tal qual em 2023, quando praticamente “reinou” absoluto, o prefeito concentrou boa parte das atenções da imprensa. No entanto, o governador Jerônimo Rodrigues também soube usar o espaço que lhe cabe. O resultado é que o funcionamento dos serviços públicos, tanto do município quanto do estado, pode ser muito bem avaliado, então acaba sendo um ponto positivo para o gestor. Os dados do Carnaval favorecem - e muito - as razões para que tanto Bruno quando Jerônimo tenham razões para comemorar.

 

Chamou atenção o esforço de ambos em carregar os vices a tiracolo. O prefeito, que sempre fazia um rodízio entre os secretários que o acompanhava nas coletivas, optou por ter apenas Ana Paula Matos ao seu lado, ampliando a visibilidade da vice-prefeita, que também ocupa a Secretaria de Saúde de Salvador. Foi uma escolha óbvia e fortalece o nome dela para permanecer no posto - algo que sequer foi alvo de farpas de aliados no período, o que normalmente aconteceria.

 

Já Jerônimo chegou a colocar o vice-governador Geraldo Jr. como coordenador do Carnaval. Porém apenas quando o titular estava na folia em Salvador era possível atrair a atenção para o vice. Fora desses momentos, a fala de Geraldo Jr. parecia uma vitrola quebrada, com a repetição e exaltação dos feitos do governador. Algo esperado para um vice, mas bem abaixo da expectativa para quem se coloca como candidato de oposição a um prefeito candidato à reeleição. Ou seja, ainda que tenha tentado, Jerônimo não conseguiu transferir o prestígio do posto para o vice e candidato único do seu grupo político à prefeitura de Salvador.

 

Ainda passaram pelo circuito figuras mais “nacionais” como Nunes Marques, Arthur Lira e Elmar Nascimento - todos em trios do cantor Bell Marques. O ministro do Supremo Tribunal Federal foi flagrado em vídeos e fotos e somente isso. Já Arthur e Elmar conseguiram holofotes, especialmente após um café da manhã entre o presidente da Câmara dos Deputados e o governador Jerônimo Rodrigues. Elmar, que é adversário do PT na Bahia, foi recebido no Palácio de Ondina com as honras de visitante ilustre (mesmo que tenha ido na condição de acompanhante).

 

O parlamentar baiano, inclusive, conseguiu atrair um certo número de aliados para a folia baiana. E Lira talvez tenha sido o mais simbólico de tudo isso. Elmar busca se consolidar como candidato à sucessão do aliado, mas não ficou completamente confortável em Ondina, dado o fato que um dos adversários, Antônio Brito, também esteve lá, ciceroneando o todo-poderoso presidente da Câmara.

 

A Quarta-Feira de Cinzas, quando acontecem as coletivas de imprensa de balanço da prefeitura e do governo, também não trouxe farpas ou tensões. Ou seja, enquanto o Momo esteve com as chaves da cidade, a paz reinou na cidade. Algo bem incomum para um ano em que a eleição promete aquecer o coração dos políticos.

Opinião: Lira empareda governo Lula e mostra esforço de parlamentares em subjugar o Executivo
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Não cabe ao Legislativo direcionar o orçamento público, seja no plano federal, estadual ou municipal. No entanto, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi bem pouco discreto ao tentar emparedar o Executivo federal durante a reabertura dos trabalhos do Congresso Nacional. Lira, que durante o governo de Jair Bolsonaro controlou boa parte dos recursos públicos não reservados, quer manter o padrão durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. É mais uma tentativa de subjugamento entre os poderes da República.

 

Se no passado recente víamos o Executivo acuado, sob o risco de um processo de impedimento que inviabilizaria a permanência de Bolsonaro no poder, por mais que Lula não tenha uma base aliada confortável o petista está longe de ter a mesma insegurança política para lidar com parlamentares. A sobreposição de poderes antes tinha um embate mais visível envolvendo o Judiciário. Agora, Lira partiu para uma cruzada contra a União e expõe a falta de pudores, especialmente da Câmara, em pressionar por recursos sob a caneta das lideranças do Legislativo.

 

A justificativa populista de que os parlamentares são quem efetivamente sabem as carências e as demandas da população não é amparada pelas legislações brasileiras até aqui. Cabe ao Poder Legislativo debater e discutir políticas públicas, mas a execução do orçamento sempre coube ao Executivo (o nome é autoexplicativo, mas há quem insista em não identificar as razões pelas quais a divisão de poderes adota tais nomenclaturas). Fugir disso é tentar subtrair uma função para manter o status quo adquirido durante um governo fragilizado e que colocou em risco o próprio funcionamento da democracia.

 

“Gastar sola do sapato” é um eufemismo para a forma com que os parlamentares direcionam recursos sequestrados do orçamento da União por meio de emendas parlamentares e outros “subterfúgios” encontrados em brechas legais para o auto favorecimento. Quem acredita na bondade de deputados - e de senadores - também deve ver Papai Noel e outros mitos. Afinal, o próprio umbigo é muito mais relevante para garantir sucessivas reeleições do que levar dinheiro a quem realmente precisa - e olha que os Executivos estão longe de serem efetivos em fazê-lo.

Opinião: Disputa criada por Léo Prates pela vice é briga por sucessão em 2028
Foto: Divulgação

Alijado de ser vice de ACM Neto em 2016 - quando sequer ficou no páreo até os últimos momentos -, o deputado federal Léo Prates (PDT) tem qualidades que o colocam como sucessor natural de Bruno Reis (União) em 2028. No entanto, a ansiedade dele é classificada, segundo aliados, como um problema a ser tratado. Essa disputa com Ana Paula Matos pela vaga de vice de Bruno em 2024 é um exemplo disso.

 

No entorno de ACM Neto, a ligação entre o ex-prefeito e a dupla Bruno Reis e Léo Prates é tratada como quase familiar. O deputado federal, inclusive, trata os pais de Neto como "tios". Já Bruno chegou um pouco depois, mas adquiriu a confiança política em um nível maior que Léo. Responsável por montar chapas e azeitar relações políticas, o atual prefeito de Salvador "passou na frente" na fila. Porém isso não quer dizer que Léo tenha ido para o final dela. Ele apenas entrou na cota de "amizade" e ficou no banco de reservas.

 

Nessa posição, o pedetista que saiu do antigo DEM para cumprir função política, nutriu a expectativa lá em 2020 de que ficaria como vice de Bruno. Mas indicar Léo para vice geraria ruídos entre aliados e poderia provocar até um racha na base política que o ainda candidato a prefeito construiu como vice. Daí Bruno tirou Ana Paula da cartola (a terceira opção, inclusive) para garantir que a unidade fosse mantida. No acordo, Léo sairia candidato a deputado federal e as eventuais bases articuladas por Bruno e a vice seriam herdadas por ele. Deu certo. Foi o mais votado na capital, com folga para a segunda colocação.

 

Como Ana Paula não teve pretensões até aqui de criar musculatura política para ser candidata a prefeita e suceder Bruno, o capital eleitoral do grupo estaria centrado então em Léo Prates. Pelo menos é essa a perspectiva de quem acompanha de perto as conversas da cozinha do grupo político. Só que o deputado federal acredita que estando como vice a vaga de candidato a prefeito não poderia ser negada, razão pela qual insiste em ficar na virtual segunda gestão de Bruno nessa cadeira. E, por isso, durante algum tempo, ele centrou esforços para substituir Ana Paula.

 

Já a leitura pragmática de outras figuras apontam que, estando ele como deputado federal, há mais chances de garantir a atuação da máquina a seu favor, com os próprios diálogos que Léo tem mantido com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e interlocutores petistas. A dificuldade é saber ter paciência pra esperar e acreditar na palavra de quem já prometera que a hora dele vai chegar. Entre tantas qualidades, Léo não é lá tão paciente. Eis o ponto mais delicado disso tudo.

Curtas do Poder

Ilustração de uma cobra verde vestindo um elegante terno azul, gravata escura e língua para fora
Tenho pra mim que o povo não tá querendo comemorar pesquisa. E acho que sei o motivo. Falando em comemorar, o Pernambucano teve um gostinho da diferença entre expectativa e realidade. Já Lero Pai e Lero Filho parecem ter desistido da capital, e estão investindo na RMS. Tem coisa na política que só é mais difícil do que fazer o cabelo de Selfie crescer. Mas o importante mesmo é cuidar da saúde, principalmente se você souber que sua pressão tende a subir nos próximos anos. Saiba mais!
Marca Metropoles

Pérolas do Dia

Tiago Ferreira

Tiago Ferreira
Foto: Reprodução / Salvador Fm

"Está precisando de uma Serin Salvador, o governo precisa destacar alguém do governo, para tratar com os vereadores e pré-candidatos para fazer uma política transversal com todas as secretarias. O governador precisa chamar os seus secretários e colocar como prioridade a discussão de Salvador. Muitas vezes se liga para secretário, se tenta marcar, não todos, mas alguns estão nem aí".

 

Disse o vereador Tiago Ferreira (PT) ao comentar a articulação política da base de oposição, no período de pré-campanha, em Salvador, onde aponta que ainda tem deixado a desejar. 

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