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Nova narradora da TNT, 'baiana' Camilla Garcia lembra estreia na Champions: 'Inexplicável'

Por Nuno Krause

Nova narradora da TNT, 'baiana' Camilla Garcia lembra estreia na Champions: 'Inexplicável'
Foto: Reprodução / Instagram

Em 2018, Camilla Garcia nunca tinha narrado uma partida de futebol. Três anos depois, ela fez a transmissão da partida entre Lille e Wolfsbrug, pela Liga dos Campeões da Europa 2021/22, na TNT Sports. "Foi tão inexplicável que fica difícil de descrever. Saber que represento mulheres, a Bahia, o Nordeste. Eu pensei: 'Esse lugar é tão pouco habitado por mulheres nordestinas que eu tenho que fazer um bom trabalho. Ao mesmo tempo, não deixei me levar por ansiedade, insegurança ou medo. Falei: 'Vou arrebentar, do meu jeito. Esse é meu sotaque, minha forma de falar é essa'", contou, em entrevista ao Bahia Notícias. 

 

"Massa", "pau viola", "barril" e outras expressões utilizadas por ela durante a conversa deixam claro a influência da Bahia em sua vida. Porém, Camilla não nasceu por aqui. "Todo mundo fala que sou baiana, e eu me sinto baiana. Minha mãe é baiana, de Ribeira do Pombal, e meu pai é de Lins, em São Paulo. Quando meus pais se casaram, tiveram que se mudar pra Fortaleza, por causa da empresa dele. Eu nasci em Fortaleza, mas só fiquei quatro anos por lá. Depois, fomos pra Pindamonhangaba, e morei lá até os 11 anos, quando fomos para a Bahia", conta. 

 

Entre 1998 e 2018, Camilla viveu em Salvador. E a história que a tirou da capital baiana e a levou para os braços do maior torneio de clubes do mundo aconteceu como num estalo de dedos, mas envolveu muito trabalho. Durante as oitavas de final daquele ano, ela teve a ideia de se preparar para o confronto entre Real Madrid e Paris Saint Germain (PSG), com a ideia de testar sua capacidade de narração. Durante a partida, André Henning, principal narrador do Esporte Interativo (antigo nome da TNT Sports), fez a pergunta: "Ei, você, mulher que gosta de futebol, já pensou em ser narradora?".

 

Tratava-se do anúncio para o reality A Narradora Lays 2018, um concurso para selecionar duas profissionais para comandar transmissões da Liga dos Campeões por uma temporada. "Fiquei impressionada com a mensagem e falei: 'Preciso participar dessa parada. Nem sei narrar, mas dane-se'. Falei para os meus amigos não me chamarem para sair para beber. Lembro que peguei a minha camisa do Chelsea, vesti e fui gravar o vídeo", recorda. 

 

Entre os vários lances que poderiam ser escolhidos para fazer a narração do vídeo, Camilla selecionou aquele que determinou a vitória do Barcelona sobre o PSG por 6 a 1, na Champions de 2017, que classificou o clube balaugrana para as quartas de final. O resto é história. A cearense-baiana foi selecionada e foi para São Paulo, onde começou a aprender as técnicas de narração com os profissionais da casa. Entre 12 mulheres, ficou com a quinta colocação no reality, e não voltou mais para Salvador. 

 

Durante um bom tempo, fez transmissões para uma webrádio da capital paulista, sem ganhar nada. Fez trabalhos também pela Rádio Coringão, na qual narrou o Paulistão Feminino, participou de outro reality, no SporTV, para narrar e-Sports, até que enfim teve uma oportunidade de entrar na plataforma DAZN. O serviço, especializado em transmissão esportiva, alavancou sua carreira para que ela chegasse até a TNT Sports. 

 

ESTREIA NA CHAMPIONS 

O placar do jogo entre Lille e Wolfsburg, 0 a 0, não facilitou muito a estreia de Camilla na Liga dos Campeões. Especialmente porque o comentarista da partida não conseguiu fazer o primeiro tempo. Devido a um acidente na estrada, ele só chegou nos estúdios para comentar a etapa final. O grito de gol até saiu, quando o atacante Jonathan David abriu o placar para os franceses, mas, na sequência, o VAR anulou o tento.

 

"Narrei com uma vontade... o 0 a 0 é mais difícil, mas foi um bom jogo, fiquei feliz. Tive que narrar o primeiro tempo sem comentarista. Quando tem, dá um descanso na voz. Assim que ele chegou, foi melhor ainda, para a galera não ficar ouvindo só uma voz. O outro jogo foi pau viola...", recorda. 

 

O outro jogo citado foi Sporting e Ajax, que terminou com vantagem de 5 a 1 para os holandeses. O atacante Sébastien Haller marcou quatro dos cinco gols da vitória do time visitante. "Durante a transmissão, eu fui vendo os comentários e a galera falando 'o jogo do Ajax tá melhor que o do PSG (que empatou com o Brugge em 1 a 1)', e foi bem legal. Eu pensei 'rapaz, esse é o jogo mesmo, tá bom demais'. Quando você conta uma história, quer que seja a melhor possível. A gente sempre quer que tenha muitos gols", afirma Camilla.

 

CHOQUE DE CULTURA 

Com vozes masculinas ecoando pelos rádios e televisões desde o início das transmissões esportivas, ter cada vez mais vozes femininas ocupando esses espaços é motivo de orgulho para Camilla. "Quando eu comecei a narrar, eu nunca tinha visto uma mulher narrando. E nunca tinha me incomodado. Pense aí, a pessoa nunca ocupar um espaço e não perceber que nunca ocupou ele. É uma oportunidade para o público conhecer. Eu sei que é difícil no início, falta o costume das pessoas ouvirem uma voz feminina, mas tem que entender que é assim. A pessoa ouviu 20 anos um homem narrando, vai ouvir uma mulher narrando, não vai ser estranho? Claro que vai. Mas tem que abrir o coração e entender. É mais agudo, eu sei, não é igual homem, mas não tem que ser. A gente tem que fazer do nosso jeito", destaca.

 

Ela, inclusive, não deseja ocupar esse espaço sozinha. "Espero do fundo do coração que daqui pra frente a gente não seja uma novidade. Eu quero narrar os melhores campeonatos e quero que muitas mulheres possam fazer isso. Sozinha é fácil de derrubarem, juntas é difícil", pontua.