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Convocado para a seleção brasileira de vôlei, Cledenílson, o Pingo, é exceção entre baianos

Por Nuno Krause

Convocado para a seleção brasileira de vôlei, Cledenílson, o Pingo, é exceção entre baianos
Foto: Guilherme Cirino / Superliga

Quando Ronaldo, professor de uma escolinha de vôlei em Santo Antônio de Jesus, descobriu que havia um menino alto na cidade, de 16 anos, não hesitou em procurá-lo para sua turma. Primeiro, foi à escola da região - busca infrutífera, pois o jovem já tinha ido para casa. Sendo assim, Ronaldo descobriu onde ficava a residência do menino, que, ao receber o convite, ficou em dúvida: "Eu já praticava futebol". Mas sua mãe o convenceu, dizendo: "Vá um dia. Se não gostar, pare de ir". Ele não ficou apenas um dia, mas meses, e, hoje, ele é um dos centrais da seleção brasileira principal que disputará o Sul-Americano de vôlei, que dá vaga no mundial. Seu nome? Cledenilson, ou simplesmente "Pingo".

 

Por mais fofa que essa história pareça, o caminho percorrido por Pingo para chegar a tamanha conquista envolveu muitos percalços. Por ser de uma cidade do interior baiano, o atleta precisou de muita persistência para atingir nível internacional. Em um mês, o jovem já se destacava entre os demais. Após completar 17 anos, já medindo 2 metros e 3, Pingo não teve outra alternativa a não ser se mudar para Itaparica. O projeto da escolinha de vôlei em Santo Antônio de Jesus acabou, por falta de investimento, e ele veio atuar no Vitória.

 

Clube de maior sucesso no vôlei baiano, o Vitória deu base para que o jogador pudesse se preparar para seu grande sonho: ir a Minas Gerais. "Eu estava focado em virar um jogador profissional, mas só tinha 6 meses para conseguir o que queria, pois estava próximo de completar 18 anos. Comecei a jogar no Vitória, e meu professor Márcio [Sacramento] começou a fazer vídeos e mandar para Minas e São Paulo", relatou, em entrevista ao Bahia Notícias. Graças aos vídeos, quatro meses depois de sair de SAJ, Pingo foi chamado para o Minas Tênis Clube, em 2015.

 

"Cheguei aqui meio sem saber muito o que era vôlei. Eu comecei a jogar vôlei de verdade depois que vim para Minas Gerais. Na Bahia, eu sabia o básico, me destacava porque era bem mais alto, atacava mais forte. Aqui, o nível aumentou bastante, os meninos eram maiores. Mas consegui me adaptar rápido, e aprendi muito com os técnicos daqui", revelou. Atualmente, ele defende o Sada/Cruzeiro. 

 

Pingo, o mais alto, atuou por quatro meses no Vitória (Foto: Arquivo Pessoal)

 

A história de Pingo exemplifica as dificuldades de baianos e baianas para fazerem carreira profissional no voleibol. Na Olimpíada de Tóquio, nem a seleção masculina, nem a feminina, possuíam atletas do estado. Para o Sul-Americano, Cledenílson é o único entre as categorias. Ele é tido como uma das promessas do Brasil, já que possui apenas 22 anos e sempre apareceu nas seleções de base. 

 

"Isso é bom para mim, para incentivar jovens a jogar voleibol. O investimento é complicado, queria bastante que tivesse uma estrutura bacana, que a prefeitura pudesse montar uma estrutura. Na Bahia, tem bastante talento", pontua Pingo. Outro atleta que já figurou na base da seleção brasileira é Pietro Pereira, que até chegou a pensar em desistir de jogar vôlei (lembre aqui). 

 

Treinador do Vitória, Rodrigo Oliveira conta que os problemas se intensificaram durante a pandemia de Covid-19. Apesar de ter os protocolos estabelecidos para a volta dos treinamentos das equipes, há uma dificuldade muito grande em encontrar quadras para realizá-los. Normalmente, esse trabalho é feito em colégios que cedem seus espaços, mas que não se sentiram seguros para liberar em meio à crise sanitária. 

 

"Em agosto [de 2020], saiu uma resolução para que a gente voltasse a treinar online. Fomos fazendo treino em casa, funcional, de força, e assim seguimos até dezembro. Depois, fizemos treinos em quadras cedidas, de areia, adaptamos. Mas aí parou para o final do ano e seguimos parados, porque estávamos sem quadra, tanto o Salesiano quanto outros lugares não se sentiam seguros para liberar. Há dois meses, mais ou menos, no início de junho, conseguimos uma quadra cedida por um condomínio que tem um ginásio e conseguimos treinar uma vez por semana. Os atletas fazem preparação física, tem atletas que mantêm no vôlei de areia, mas, enquanto equipe, treinamos um dia na semana", revelou, em entrevista ao BN. 

 

Vitória treina em condomínio durante a pandemia (Foto: Ana Beatriz Sales / EC Vitória)

 

A volta das competições na Bahia, segundo o presidente da Federação de Voleibol do estado, Eduardo Souza, deve ocorrer a partir de novembro, com a Copa do Estado da Bahia. Inicialmente, as datas previstas são 20, 21 e 22 daquele mês, e devem participar 12 equipes masculinas e 12 femininas. O Campeonato Baiano ainda não tem previsão para acontecer, pois vai depender do avanço da vacinação e da liberação das autoridades sanitárias.

 

O Vitória é o maior clube de vôlei do estado, com o pentacampeonato baiano e da Copa da Bahia. Também foi o único que já pôde representar a Bahia na "Superliga B". Em 2013, a equipe ficou com o vice-campeonato da Liga Nacional, que hoje é chamada de "Superliga C". O campeão, Rio Claro-SP, era o único que tinha direito de subir, mas não conseguiu dar sequência às atividades. A vaga ficou com o Vitória, que acabou não conseguindo também. "A gente foi convidado, mas estávamos sem verba, sem patrocínio. Agora, estamos lutando para disputar a Superliga C", conta Rodrigo. 

 

A Primeira Divisão do vôlei nacional, a Superliga, nunca teve uma equipe baiana entre seus representantes, nem no masculino, nem no feminino. Para disputar a Superliga C, é preciso vencer o regional de vôlei. A última vez que o Vitória conquistou o feito foi em 2015. Desde então, nunca mais esteve na Terceira Divisão.

 

O apoio governamental recebido pelos clubes é o projeto FazAtleta, da Secretaria do Trabalho, Renda, Emprego e Esporte. Contudo, o técnico do Vitória diz que eles deixaram de receber em 2021, por falta de empresas que apoiem. O FazAtleta funciona por meio da concessão de abatimento no ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços que é dado às empresas, situadas no estado da Bahia e que apoiam financeiramente projetos esportivos que são aprovados pela Comissão Gerenciadora do Programa.

 

É destinado para atletas, equipes e eventos, que se enquadram na categoria de Esporte Amador Olímpico e Paralímpico, e que têm o objetivo de promover o incentivo ao desenvolvimento do esporte amador no estado da Bahia, levando em consideração aspectos como formação e desenvolvimento de atletas e equipes esportivas; treinamento e participação de atletas e equipes esportivas em competições estaduais, interestaduais, nacionais e internacionais; fomento à prática e ao desenvolvimento do esporte entre crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, aos portadores de necessidades especiais e de toda população pela prática habitual de esportes e especialização nas áreas do conhecimento aplicadas ao esporte de árbitros, técnicos, profissionais da área de educação física e outros profissionais de áreas afins.

 

Na busca por esse recurso, Rodrigo Oliveira fundará um novo clube, o Salvador Vôlei, que já está praticamente regularizado. "A partir do ano que vem, a ideia é tentar captar projetos. Fiz o clube em parceria com o Vitória. Não tínhamos equipe feminina no Vitória, formei a feminina no Salvador Vôlei e firmei a parceria", explica. 

 

Enquanto isso, jovens que desejam despontar no vôlei têm de procurar um meio de sair do estado para se desenvolver profissionalmente, como foi o caso de Cledenílson, o Pingo. O Sul-Americano de vôlei masculino está marcado para começar no dia 1º de setembro. O baiano estará em quadra.