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Paratleta cadeirante acusa gestor de agressão verbal em Pituaçu: 'Mandou levantar'

Por Gabriel Rios / Leandro Aragão

Paratleta cadeirante acusa gestor de agressão verbal em Pituaçu: 'Mandou levantar'
Foto: Arquivo Pessoal

Uma discussão entre um paratleta cadeirante da canoagem e um gestor administrativo do Parque de Pituaçu acabou virando caso de polícia. O caso aconteceu no último sábado (17) e o paratleta baiano Luan Guimarães acusou o funcionário, chamado Beto, de agredi-lo verbalmente quando tentava instalar uma rampa provisória de acesso para deficientes físicos. Na segunda-feira (19), o cadeirante prestou queixa na 9ª Delegacia Boca do Rio, em Salvador.

 

“Eu estava treinando, o ouvi me chamando e parei para olhar, mas meu treinador mandou continuar meu treino. Após o treino, fui falar com ele e ele já foi gritando: ‘É porque está tudo ilegal aqui. Levante e venha aqui até a mim’. Aí eu disse que era deficiente físico e que ele não tinha autoridade nenhuma sobre mim, já que recebemos do mesmo órgão e somos colegas”, revelou Luan em entrevista ao Bahia Notícias.

 

“Ele colocou o dedo na minha cara, me discriminou e diminuiu. Eu disse que daria uma queixa dele, e ele respondeu: ‘Pode dar. Não vai dar em nada, que nenhum delegadozinho ia fazer nada’. Pedi que não me gritasse, que eu não era vagabundo. Então ele colocou o dedo na minha cara e disse que eu era vagabundo. Falei que ele passou dos limites, e que eu tinha testemunhas”, completou o paratleta.

 

FALTA DE ACESSIBILIDADE

Luan Guimarães é paratleta, faz parte do programa FazAtleta há dois anos e treina no Parque de Pituaçu. Entretanto, a falta de acessibilidade no local tem atrapalhado os treinamentos do baiano, já que não há uma estrutura específica para o deficiente poder acessar a água. Foi então que começou o processo que culminou na confusão do último fim de semana.

 

O paratleta procurou o secretário Davidson Magalhães, da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), que o encaminhou para Marcos Andrade, da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb). Após cerca de um mês, Luan conseguiu o documento da entidade para ser enviado ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), que administra o parque. Segundo o atleta, a empresa que o patrocina doou os pallets para construção do píer, mas ele precisava levar o equipamento até o último sábado, quando ainda não tinha autorização do Inema para construção da estrutura.

 

“É tudo doado, custo zero para o estado. No sábado, falei com meu treinador e com o pessoal que estava lá. Eu disse que daria R$ 60 para eles me ajudarem a desembarcar e colocar os pallets na estrutura. Fizemos tudo. Aí o chefe da segurança veio perguntar o que era, e eu expliquei. Está na lei que qualquer estrutura física que seja aberta ao público tem que ter acessibilidade. E ali não tem acessibilidade nenhuma”, explicou.

 

"Pedi que olhassem o sistema, perguntei se queriam ver o protocolo [da instalação da rampa], mas disseram que não. Eu disse que não tiraria nada, que os pallets foram conseguidos de graça. Ele falou para parar tudo, que não ia descer mais nada", lamentou.

 

Ainda de acordo com Luan, a proibição partiu da gestão do parque. Ele entende que não tinha autorização, mas salientou que não teria problema em esperar a liberação do Inema. Entretanto, ele critica a forma que foi tratado pelo funcionário: “Foi infeliz ao assumir o que não era dele. Eles deveriam ter falado direito comigo. Tanto que quando ele falou de início, nós paramos. Depois que ele passou do ponto, resolvemos ir na delegacia”, afirmou Luan.

 

O píer já estava quase todo construído, mas segundo Luan, o material foi todo retirado pelos funcionários do parque no dia seguinte. “Está sem estrutura novamente. Paguei do meu bolso, carregamos material pesado, para retirarem tudo e não darem nem satisfação. Foi algo emergencial, um acordo que fiz com o secretário para colocar aquela estrutura lá. Fiz tudo que me pediram para fazer. Não tinha nada dizendo que eu poderia chegar lá e fazer, mas pensei que perderia os pallets, e aproveitei já para deixar no local. Mas o segurança faltou com o respeito no sábado, e ainda arrancou o material no domingo. Eram 60 e eles terão que prestar conta, pois eram meus. Já estava praticamente tudo pronto”, reclamou.

 

SUPERAÇÃO

Coincidência ou não, nesta terça (21) completa-se cinco anos do atentado que o deixou sem os movimentos da cintura para baixo. Luan estava em seu carro, quando percebeu que dois homens se aproximavam. Ele tentou acelerar, mas não conseguiu. Sofreu cinco tiros e um o atingiu na coluna.

 

“Tenho uma história de superação, tomei cinco tiros numa tentativa de assalto. Vivo sozinho, tenho problemas familiares, problemas de relacionamento, tenho projeto social... Prioridade e acessibilidade para mim não existe. Então eu vou reclamar. Ou para de vez de usar o parque, ou constrói uma estrutura com acessibilidade. São mais de seis atletas cadeirantes treinando no parque”, comentou.

 

Luan Guimarães terminou 2018 como 2º colocado no 200m e 3º colocado no 500m KL1 masculino, no ranking nacional de Paracanoagem. Além da 2ª colocação no KL1 masculino na Canoagem Maratona. No próximo dia 28 de agosto, ele disputa o campeonato brasileiro de paracanoagem velocidade.

Foto: Arquivo Pessoal 

 

O BN entrou em contato com a Sudesb, que confirmou que o projeto foi protocolado e encaminhado para aprovação e avaliação do Inema, mas que ainda não obteve resposta. O Inema também foi procurado, mas até a publicação desta matéria não se pronunciou.