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Dórea diz que na Bahia empresário quer tirar foto com campeões, ‘mas não acredita na base’

Por Leandro Aragão

Dórea diz que na Bahia empresário quer tirar foto com campeões, ‘mas não acredita na base’
Centro de Treinamento em Madre de Deus | Foto: Divulgação

O treinador de boxe Luiz Dórea é conhecido mundialmente por ter preparado campeões. Por ele, nomes como os boxeadores Acelino "Popó" Freitas, Kelson Pinto e o lutador de MMA Júnior Cigano chegaram ao topo nas suas modalidades. Recentemente, o baiano Robson Conceição segue firme em busca do cinturão dos pesos penas do boxe.


Mas paralelo ao trabalho feito com atletas profissionais que buscam títulos importantes, Luiz Dórea também mantém um projeto social. Criado em 1990, o projeto "Campeões da Vida" é mantido pelo treinador na sua Academia Champion, no bairro da Cidade Nova, em Salvador. Ele recebe crianças com idades a partir dos 9 anos que queiram treinar boxe, principalmente aquelas envolvidas com drogas ou que criam problemas na escola ou rua.

 

"Por esse projeto já passaram mais de sete mil crianças e jovens. Graças a Deus conseguimos mudar a vida de muita gente através do esporte, das artes marciais. E além de formar cidadãos, formamos inúmeros campeões mundiais, olímpicos, sul-americanos...", vibrou. "A maior parte dos medalhistas olímpicos foi de atletas nossos, como Adriana Araújo em 2012, como Robson Conceição em 2016. Lá atrás temos Popó, Kelson Pinto, que foram campeões mundiais. Todos foram formados nesse projeto. Também temos campeões no MMA com Júnior Cigano, Rodrigo Minotauro, Rogério Minotouro... todos saíram da Champion. Bruno Menezes, Edilberto Crocotá. Vários outros nomes do MMA e do Boxe", completou.

Garotos do projeto Campeões da Vida | Foto: Divulgação

 

Ele explicou que jovens "pupilos" já estão se destacando nas suas categorias. Alguns já colecionam títulos dando os seus primeiros jabs e nocautes. "Agora temos Breno 'Zé Bim’, que já era campeão baiano, se tornou campeão brasileiro da classe cadete, que é de 15 até 16 anos. Ele está com a gente desde os 9 anos de idade. Isso é muito gratificante para a gente. Além de Breno, tem Herbert Conceição, que faz parte da equipe da seleção brasileira olímpica e está com a gente desde os 14 anos de idade. É o que nos impulsiona", exaltou.

 

Para ingressar no projeto, a criança precisa estar matriculada na escola e chegar acompanhada dos pais. "Primeiro ele entra com o intuito de praticar boxe. Consequentemente, alguns querem virar lutadores. O projeto é para treinar. É um boxe recreativo. A gente começa com o menino num boxe para iniciante, depois intermediário e depois avançado, que já vira o de alto-rendimento. Alguns entram para perder peso, emagrecer ou estavam envolvidos com drogas e tal. Para nós treinadores, é bacana quando a mãe ou pai nos procuram para ajudar seus filhos. Um garoto que brigava na rua, que não se comportava direito na escola, que se metia com drogas...", contou.

 

Ele destacou a importância do projeto. "O que me deixa muito feliz, e falo com muita propriedade, é o esporte como ferramenta de inclusão social. A força de mudança que nós temos com o esporte. Robson, que foi campeão olímpico, esse mesmo garoto tinha 14 anos quando entrou no projeto Campeões da Vida da academia Champion. Se não existisse esse projeto lá atrás, esse Robson seria campeão olímpico em 2016? Com certeza não, porque muitas vezes não teria a condição de ter um treinamento adequado ou de pagar uma academia".

Júnior Cigano, Breno Zé Bim e Luiz Dórea | Foto: Divulgação

 

Dórea disse que o projeto é mantido por ele, pelo filho Luiz Dórea Júnior, que é o coordenador da academia, e pela sua filha Laila Dórea, que gerencia a parte financeira do local. Segundo ele, a iniciativa sobrevive através de doações e trabalho voluntário. Inclusive, uma boa parte dos equipamentos foi doada por empresas do Sudeste. O treinador lamentou a mentalidade do empresariado baiano, que não investe na base do esporte, apenas em atletas já consagrados, além da falta de apoio da prefeitura e governo.

 

"Todos os patrocínios que já tivemos são empresas de fora, de São Paulo, do Rio, que nos ajudam. Na Bahia não temos a sensibilidade dos nossos empresários. Eles querem quando chega um campeão, estar ali junto para tirar foto, mas não acreditam na base. Temos que mudar essa nossa conscientização. Os nosso governantes precisam ter essa sensibilidade não só quando o cara é campeão. Nossa relação com a prefeitura é muito distante, não temos nenhum apoio. Temos campeões olímpicos e mundial, mas não temos nenhum apoio da Prefeitura. E não é só dessa Prefeitura não, as outras também não ajudaram", reclamou.

 

INVESTIMENTO NO INTERIOR

Mas se a maioria das prefeituras não apoia a base, Dórea conta que há algumas que decidiram investir no esporte e levá-lo para as escolas.

 

No ano passado, a prefeitura de Madre de Deus iniciou um projeto piloto Tempo Integral, em que os alunos do quinto ano da Escola Deijair Maria Pinheiro desenvolvem atividades esportivas, culturais, reforço escolar, informática avançada, além de aprenderem outras línguas, como o inglês, no segundo turno das atividades. Dentre as modalidades esportivas está o boxe.

 

"É um trabalho feito pela prefeitura de Madre de Deus do qual eu faço parte. É um trabalho que tem que ser divulgado, para que sirva de exemplo para outros lugares. Nessa escola (em Tempo Integral), o boxe, o judô, o karatê e o jiu-jítsu fazem parte da disciplina. O garoto que estuda de manhã, treina duas modalidades de tarde. Quem estuda de tarde, treina de manhã", disse Dórea. "Esses bons exemplos que têm que ser seguidos. É muito fácil chamar um Robson para ser homenageado, um Cigano ser homenageado. Mas ninguém lembra que aquele Cigano e Robson de hoje foram aquelas crianças de 15, 20 anos atrás que dependiam de um projeto. Que se não existisse aquele projeto não chegariam lá. Madre de Deus saiu na frente", completou.

 

Já no início do mês de julho deste ano, a cidade inaugurou um centro de treinamento de alto rendimento na cidade. O complexo é voltado para as modalidades de boxe, judô, karatê e jiu-jítsu. Dórea foi um dos convidados para a inauguração do equipamento. Além disso, a Câmara de Vereadores aprovou, no último dia 21 de agosto, o Madre Esportivo. Trata-se um benefício financeiro para estimular a prática de esportes como meio de promoção social, possibilitando um suporte para o treinamento e participação em competições regionais, nacionais e internacionais. A bolsa contemplou 79 atletas de alto rendimento que cumpriram as exigências necessárias. Os valores pagos pelo município são de R$ 300, R$ 600 e R$ 1.000. "As outras cidades, em especial a minha, que é Salvador, precisam seguir o exemplo", defende o treinador.

Dórea no Centro de treinamento de Madre de Deus | Foto: Divulgação