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Entrevista

Longevo no Bahia, Diego Cerri comenta formação do elenco para 2020: 'Encorpado'

Por Ulisses Gama

Longevo no Bahia, Diego Cerri comenta formação do elenco para 2020: 'Encorpado'
Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / EC Bahia

Diretor de futebol do Bahia, Diego Cerri está no clube desde a temporada 2016, quando foi contratado para assumir o cargo de gerente. No comando executivo desde o início de 2017, ele ficou próximo de deixar o clube e seguir para o Palmeiras em dezembro de 2019, mas a oferta foi recusada e ele preferiu continuar no Esquadrão de Aço. Em entrevista ao Bahia Notícias, o diretor afirmou que a negativa passou longe de ser comodismo no Tricolor. "De um jeito ou de outro, a gente se sente valorizado de estarem analisando meu trabalho. Mas aqui eu me sinto bem e isso tem sentido. Ao contrário do que possam imaginar, não é comodismo. Na verdade fica mais difícil", indicou.

 

Com foco no trabalho para 2020, Cerri acredita que a formação do elenco está sendo positiva e o grupo vai chegar "encorpado" para disputar as competições. "Mantivemos o treinador que eu acho importante... Uma parte grande do grupo já domina os conceitos do Roger e isso facilita. Com jeito de jogar, fica mais fácil ir montando o elenco de acordo com as características que o treinador gostaria de ter", indicou. Cerri também falou sobre o meia Régis, os esforços para segurar o volante Gregore e o atacante Gilberto, além de comentar a ida de David para o Fortaleza. Confira a entrevista completa:

 

No futebol brasileiro, a rotividade de técnicos e dirigentes é grande. A que você atribui essa passagem duradoura no Bahia?

Talvez hoje eu seja, é ruim o que vou dizer, o diretor mais longevo da Série A do Brasil. Falo que é ruim não pelo meu caso, mas pelo cenário geral. Treinadores e dirigentes deveriam permanecer por mais tempo para colocar um trabalho em prática. Eu opto por ficar mais tempo nos clubes porque é quando você consegue planejar alguma coisa e iniciar a construção. Se não fica no quase e algo que se derruba facilmente. Gosto muito de ficar. Em 2016 tive convites de outros clubes, mas tinha uma paquera com o Bahia e tive o feeling de que seria um projeto legal. Na época, vim como gerente e tinha tempo que não fazia aquela função. Vim para ajudar e sem saber o que viria. Gostei do clube, me adaptei bem e estou aqui até hoje.

 

 

O que pesou para recusar a proposta do Palmeiras e ficar no Bahia?

Essa do Palmeiras vazou. Às vezes vaza e acontece uma situação meio chata, assim como vazou a do Santos. Tive propostas do Rio que não vazaram e acho mais legal assim, com uma conversa interna. De um jeito ou de outro, a gente se sente valorizado de estarem analisando meu trabalho. Mas aqui eu me sinto bem e isso tem sentido. Ao contrário do que possam imaginar, não é comodismo. Na verdade fica mais difícil. Acho que estamos construindo de tijolinho em tijolinho e isso é importante.

 

 

O que você aponta de erros no Bahia em 2019 que podem melhorar em 2020?

Não foi assim que só errou e só acertou. Teve muita coisa boa e uma queda de rendimento no final, assim como teve no início do ano. A gente teve mérito de ter ficado bastante tempo ali em cima. Aconteceu um roteiro inverso dos outros anos. Antes subíamos de produção no final. O elenco era mais qualificado que em 2017 e 2018 e dessa vez aconteceu o inverso. Não foi pelo elenco ser "pequeno". Eu acho que veio um desgaste, principalmente no momento do jogo contra o Ceará, que perdemos em casa. Aquele jogo nos levaria para a quinta posição. Perder aquele jogo gerou uma pressão, jogamos contra o Inter e erramos muito. Depois saímos para o jogo contra o Santos em um gol polêmico que foi anulado. Resultados que tiram a confiança e o resultado não vinha, até que mais na frente demos uma desafogada, mas não chegamos onde a gente queria.

 

Em relação ao ano passado, o grupo chega melhor?

Acho que chega mais encorpado. Mantivemos o treinador que eu acho importante... Uma parte grande do grupo já domina os conceitos do Roger e isso facilita. Com jeito de jogar, fica mais fácil ir montando o elenco de acordo com as características que o treinador gostaria de ter. Normalmente vamos precisar de ajustes durante o ano, mas sempre digo que trabalhamos com elenco curto porque nossa receita é difícil de competir com os times de cima. O torcedor fica chateado, mas é verdade. Tem que reclamar com o sistema. Se eu tenho uma receita X, vou dividir por menos atletas porque vou ter atletas de qualidade. Temos um time B que pode vir a completar o time A do Roger. Posso trabalhar com um elenco reduzido, com todos os atletas brigando por posição. Você quase não vê um jogador que não é relacionado. É bom para gerir o grupo e você concentra dinheiro em menos jogadores. Aí você tem a chance de trazer jogadores do time B que podem ter oportunidades.

 

Ficou alguma rusga com Régis por ter deixado o Bahia em 2018 relembre o caso aqui?

Tudo que tinha para ser falado naquele momento foi conversado. É um jogador que tem contrato com o clube, que tem qualidade e aquela questão que disse que não tínhamos definido exatamente é porque o treinador está conhecendo o atleta, vamos ver se ele se adapta e é algo normal. Ele tinha ficado fora do país, depois foi para o Corinthians e é algo normal nesse início da temporada.

 

Como avalia esses primeiros jogos do Bahia?

Tô gostando do trabalho. Como a pré-temporada é sempre curta, não estamos no ideal ainda. Tenho gostado que a equipe tem criados oportunidades. Não temos jogos de elite ainda, mas a criatividade está bacana dentro do campo. Os jogadores estão se conhecendo e entrosando. Vai chegar o momento que estaremos no ápice físico e técnico, aí vamos ver um crescimento. O nível vai aumentando e é aí que vamos avaliar uma série de coisas, dentre elas os ajustes que o elenco sofre durante a temporada. A gente falou da contratação direta de jogadores, mas houve situações difíceis que sofremos internamente.

 

Diego Cerri em sua "tradicional" foto com jogadores contratados | Foto: Felipe Oliveira / Divulgação / EC Bahia

 

 

Qual o segredo para o Bahia fazer jogo duro no mercado e recusar propostas?

Vou te falar: recusar uma proposta não significa que você não vai vender o atleta nunca mais. O campo é a coisa mais importante que você tem no clube. Desfazer da espinha dorsal é complicado. Quanto mais você puder segurar os atletas de rendimento, melhor. Até trazer outro atleta, é um risco. Em outro momento você pode vender mais caro ou mais barato, depende... Tem tido muita procura por esse volante. No caso do Gilberto, não dependia só do clube, mas fizemos um esforço muito grande para a permanência dele e ele fez uma opção pelo carinho com o clube. Tivemos que cobrir a situação de um time de fora, algo acima da média. O Bahia não seria capaz de trazer em outros tempos. Foi uma opção que fizemos. Ou arrisca com jogadores de fora para ver se adaptam aqui ou mantém jogadores do elenco. Não conseguimos manter o Arturzinho, que foi vendido pelo Palmeiras ao Red Bull Bragantino, esse não tinha jeito. Fomos ao mercado e buscamos opções do mercado que foram difíceis também. Foi difícil tirar o Clayson do Corinthians, o Rossi que era titular do Vasco...

 

O torcedor tem um saudosismo grande com o camisa 10, um meia clássico... O Bahia entende que precisa se reforçar nesse setor?

Tem poucos jogadores com essa característica. É muito difícil. Gosto do futebol bem jogado, técnico, mas temos que entender que o bonito do futebol hoje é trabalhar com intensidade e qualidade. Aquele meia cadenciado, tipo camisa 10, está em extinção. Pode ser que volte, né? Assim como todos os modismos. Se eu te disser que a gente não continua tentando achar um jogador dessa característica, é mentira. Mas está difícil de encontrar. Tivemos jogadores com qualidade grande, mas não renderam o que poderiam. E o Roger não é dependente dessa caraterística e ele tem me pedido qualidade nas pontas, com capacidade técnica de resolver os problemas do jogo, além de um meio de campo forte. O Daniel sempre foi o camisa 10 e foi recuado um pouquinho, tem o Régis que é um meia-atacante, o Arthur Rezende, o Ramon que é um meia canhoto. Temos alternativas e estamos dando uma geral no mercado para ver se a gente encontra.

 

Como tem observado o trabalho do time de transição?

Está sendo positivo, sim. Não só pelos resultados. Ganhamos do Bahia de Feira no último minuto, mas o time tem se portado bem. Me perguntaram se os resultados mostram que estávamos certos e eu disse que não. A equipe vai ganhar e perder jogos, mas esse projeto é o correto para o Bahia. Dia após dia é impossível jogar. Imagina um jogo a cada dia? Entra em parafuso e não sai nada. Foi uma decisão sábia. Não estamos engessados com equipe A ou B em cada campeonato. Se for interessante colocar o transição na Copa do Nordeste, vamos fazer. Se o Roger quiser jogar o Baiano também... 

 

O Bahia estava interessado em David e ele acabou indo para o Fortaleza. O que aconteceu?

O David era um jogador que tinha contrato e conseguiu uma liminar para acertar com o Fortaleza. Tem uma característica interessante, mas não progrediu aqui. Hoje temos o Arthur Caíke, Clayson, Élber e Rossi. Claro que tem os meninos do transição, mas tem esses quatro. Para iniciar, é um número satisfatório. Talvez a gente precise de mais.

 

Nessas temporadas com o Bahia, algum jogo em especial lhe marca?

Rapaz... É difícil selecionar um jogo. Lembro na nossa campanha da Série B em 2016. Cheguei aqui e estávamos em 13º. Começamos a ganhar jogos no último minuto, aquele negócio sofrido. Jogamos contra o Atlético Goianiense, perdemos e ficamos espremidos no vestiário para aguardar o jogo do Náutico. Foi marcante. A Copa do Nordeste também foi muito bacana. Na Copa do Brasil fizemos momentos marcantes, poderíamos ter passado contra o Palmeiras e ficou aquele gostinho. Contra o Grêmio fizemos um bom jogo lá, mas acabamos perdendo. Outro jogo muito especial foi aquele contra o Flamengo, algo muito legal. Poderíamos ter vencido no Maracanã também, mas não aconteceu. É difícil eleger um, mas no futebol você sofre para comemorar depois. Tem que estar preparado e convicto no projeto. 

 

Em 2017, Cerri celebrou a Copa do Nordeste pelo Bahia | Foto: Ulisses Gama / Bahia Notícias