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Entrevista

Ricardo Silva fala do Jacuipense e diz que Vitória tem que se acostumar a 'nova grama' do Barradão

Por Júlia Belas

Ricardo Silva fala do Jacuipense e diz que Vitória tem que se acostumar a 'nova grama' do Barradão
Foto: Max Haack / Ag. Haack / Bahia Notícias
Na liderança do Grupo 3 da Série D do Campeonato Brasileiro, o Jacuipense pode ser o representante da Bahia na segunda fase do torneio. Na luta pela classificação, os comandados do técnico Ricardo Silva se preparam para enfrentar o Central, em Caruaru (PE), neste domingo (31) e manter a liderança isolada na chave. O treinador, que tem passagens por Vitória, Botafogo-BA, ASA de Arapiraca, Feira de Santana e Galícia, falou com o Bahia Notícias sobre as dificuldades de manter a boa campanha no Brasileirão e as expectativas para os próximos desafios. Apesar do Jacuipense ter a fama de possuir um aplicativo para que os torcedores escalem o time, o comandante do Leão do Sisal pede para a torcida ajudar a equipe de outro jeito. "O que eu falo para o torcedor é que eles têm que ter um aplicativo para me ajudar com o jogador fora de campo. Se estiver até tarde na rua, se estiver bebendo, aí eles me ajudam", explicou Ricardo Silva. O técnico, que é o treinador com mais vitórias pelo Vitória jogando no Barradão, ainda falou sobre a atual fase do rubro-negro baiano e disse que o novo gramado do estádio pode estar atrapalhando o desempenho do time. "O Barradão antigamente tinha uma grama diferenciada. A gente treinava naquela grama antiga e ela era pesada, muitos times sentiam. Hoje a grama é padrão Fifa, igual para todo o mundo. O Vitória vai demorar um pouco para se acostumar, porque essa grama que está hoje ficou nivelada". Leia a entrevista completa.
 

Foto: Max Haack / Ag. Haack / Bahia Notícias
 
Bahia Notícias: Qual a sua avaliação do desempenho do Jacuipense na Série D do Campeonato Brasileiro? A equipe está bem no campeonato, mas ainda tem alguns jogos importantes para conseguir a classificação...
 
Ricardo Silva: Eu avalio da seguinte maneira: o momento é bom, mas não podemos, de maneira nenhuma, entrar em uma zona de conforto. O que acabou agora foi o primeiro turno, são dois turnos, são oito jogos e nós já fizemos quatro. Nós temos dez pontos e as outras equipes já disputaram cinco jogos, e a equipe que está no segundo lugar é o Central, que nós vamos enfrentar na casa deles. Nós vamos trabalhar para garantir primeiro a classificação. O time está bom, mas vai ficar ótimo quando a gente classificar, que é o nosso primeiro objetivo. Temos que manter o pé no chão, colocar a "sandalinha" da humildade, jogar em grupo, com união, e ser competitivo sempre.
 
BN: O próximo jogo, contra o Central, já é o primeiro para garantir a classificação. Já mudaram duas vezes a data [o jogo, que acontecerá no domingo (31), havia sido adiado para a segunda-feira (1º), mas depois voltou à data original], isso atrapalhou?
 
RS: Para mim, esse vai ser um jogo mais difícil. O Central tem seis pontos e faltam dois jogos em casa, três para a gente. Para eles, é muito importante ganhar da gente. Nós ganhamos deles aqui de 1 a 0, mas foi um jogo complicado. Como o dia foi mudado, nós tivemos que alterar a programação, mas nós estamos conscientes disso, falamos com os jogadores sobre isso. Vai ser tipo o jogo da vida deles, mas vai ser o da nossa também. Eu penso que, com uma vitória lá, a gente está praticamente classificado. A gente vai ficar longe do Central, iríamos a 13 pontos e botaríamos sete pontos de diferença para eles, nem com dois jogos eles chegariam na gente. É o nosso jogo da classificação e o jogo da sobrevivência deles. Estamos cientes disso, vai ser difícil para eles também. A torcida pode ficar tranquila, porque estamos com esse pensamento de jogo decisivo.
 

Foto: Divulgação / ASA
 
BN: E você é o treinador de um time que já contou com a ajuda dos torcedores na hora da escalação com o aplicativo Total Choice...
 
RS: Negativo, não tem nada disso aqui. Aqui não tem aplicativo porque o torcedor, para começar, não vem nos treinos. Eu não escuto o torcedor para escalar o time de maneira nenhuma. Agora nós estamos treinando em Serrinha e como o torcedor pode escalar o time se não vem aos treinos? Talvez se tivesse isso antes, tudo bem. O que eu falo para o torcedor é que eles têm que ter um aplicativo para me ajudar com o jogador fora de campo. Se estiver até tarde na rua, se estiver bebendo, aí eles me ajudam. Dentro de campo, quem faz o time, quem escala, quem faz substituição sou eu. Claro que eu tenho paciência de, na rua, ouvir o torcedor, mas de maneira nenhuma torcedor escala time, aplicativo é uma brincadeirinha que fizeram aqui. Ele pode me ajudar com o time, mas me ajuda fora do campo, tomando conta de jogador, sendo guarda-costas de jogador. Esse aplicativo existia antes, porque eles treinavam no campo e o torcedor ia... Aqui, a torcida é muito entusiasmada com o time, e isso era uma maneira de fazer uma promoção, uma visibilidade maior para o time. Quando eu cheguei aqui, a primeira coisa que eu perguntei para o presidente foi "não existe isso comigo não, né?". Eu falo que o torcedor é o guarda-costas do time, porque se o jogador se mantém bem, não faz nada de errado fora do campo, vai jogar bem.
 
BN: E a Copa Estado começa daqui a pouco, o Jacuipense estreia no dia 25 de outubro contra a Catuense... Como vai ser essa preparação?
 
RS: Primeiro eu não vou pensar em Copa Estado não. Estou pensando exclusivamente na nossa classificação. Não estou ligado na Copa Estado, penso primeiro em classificar na Série D. Eu sou muito pé no chão, não dou dois passos sem tentar um primeiro. Se a gente classificar, já que não classificamos ainda, eu te falo isso.
 
BN: Você, como treinador, também já teve passagens por vários outros clubes no futebol baiano. Ficou no Vitória um tempo, depois foi para o Botafogo-BA, também passou por Feira de Santana e Galícia. Como vê a situação desses times? Atualmente, além de Bahia e Vitória, que estão na Série A, só Jacuipense e Vitória da Conquista estão competindo. Como o senhor enxerga esse período em que os times ficam parados?
 
RS: Isso é ruim para os jogadores e é ruim para o clube também. Infelizmente, o calendário do futebol brasileiro é muito assim. Passei no Vitória e fui campeão baiano, da Copa do Nordeste e vice da Copa do Brasil, fui o treinador que mais disputou jogos na era [do ex-presidente] Alexi Portela, o treinador que mais ganhou jogos no Barradão... Tem muitas coisas boas que eu fiz no Vitória. No Galícia, a gente pouco participou, mas fez um trabalho bom também, mas por conta de um saldo de gols não classificamos para as finais do Campeonato Baiano. No Botafogo-BA, a gente tinha a dificuldade do campo, mas fui acolhido pelo presidente Adalberto [Lopes], mas quando a gente procura fazer as coisas certas, nem sempre as coisas dão certo. No Jacuipense não, é tudo mais tranquilo. O que falta aqui mesmo é o centro de treinamento e o estádio aqui. Falta muita coisa? Falta, porque a gente não tem o estádio, um lugar próprio para jogar, não estamos jogando em Riachão [do Jacuípe], temos que jogar em Feira de Santana. Estamos treinando em Serrinha, e a viagem é cansativa para os jogadores, mas eles vêm numa alegria, vêm bem... Eu acho que as cidades deveriam apoiar mais os clubes, porque é difícil sobreviver sozinho. A gente sabe que a Federação Bahiana [de Futebol] apoia bastante nos jogos do Campeonato Baiano, faz um patrocínio forte para os clubes. Nós estamos bem, aqui, mas não temos onde praticar. Eu gostaria de ver o Bahia bem, o Vitória bem, porque os dois estão na zona de rebaixamento da Série A do Campeonato Brasileiro. Mas eles têm treinadores capazes, jogadores capazes, e isso vai se reverter. Eu acho que tudo é um planejamento. Quando eu vim para o Jacuipense, eu fiz o contato um mês antes de começar o campeonato, e comecei a observar os jogadores, a contratar, ver em DVD, procurar referência para montar um time. Nós não temos um plantel grande, nós temos um plantel de qualidade. De jogadores de linha, nós temos 23, mais quatro goleiros, com um menino da base que treina com a gente. Temos o preparador de goleiros que é o Pavão [Antonio Luiz de Jesus], que trabalhou comigo no Vitória, o preparador físico Ednílson Sena que também esteve comigo no Vitória, e tem também o Clayton [Mendes]. Essa é a nossa comissão. É melhor você ter pessoas sérias, comprometimento, pessoas honestas, verdadeiras, "sem trairagem" no futebol, e a gente faz um bom trabalho com a ajuda dos jogadores. Os artistas são eles, a gente é coadjuvante, prepara o time. Mas o segredo é esse: trabalho, honestidade, sinceridade, como na vida. E sorte também, com tudo isso a gente consegue os objetivos.
 
Foto: Reprodução / Site oficial do Jacuipense
 
BN: Você tocou num ponto importante, inclusive, que é a situação de Bahia e Vitória no Brasileirão. Os dois na zona de rebaixamento, com uma situação complicada. Como você vê a representação do futebol baiano em 2014 na Série A?
 
RS: Acho que o Bahia e o Vitória têm torcidas gigantes. Já joguei no Bahia e também trabalhei no Vitória. O Barradão é o mando de campo do Vitória e vai ser sempre, mas tem uma coisa que as pessoas não reparam muito, mas era o seguinte. Quando eu era treinador do Vitória, joguei acho que 45 jogos no Barradão. Destes, eu só perdi seis. O Barradão antigamente tinha uma grama diferenciada. A gente treinava naquela grama antiga e ela era pesada, muitos times sentiam. Hoje a grama é padrão Fifa, igual para todo o mundo. O Vitória vai demorar um pouco para se acostumar, porque essa grama que está hoje ficou nivelada. Quando eu fui treinador, deixava sempre o Nino [Paraíba], que era o lateral-direito na época, atacar para o lado da Torcida Os Imbatíveis. Eu sabia que, no segundo tempo, quando o time estava um pouco mais cansado, o Nino tinha muita força ofensiva e largava ele para correr. Então eu consegui muitos jogos de acordo com o estádio. O Vitória, eu penso que vai demorar um pouco, precisa trabalhar mais no Barradão e conhecer a grama. Ficou ótimo o gramado, mas agora é igual para todo mundo. Antigamente, os caras falavam comigo "professor, a grama aqui é pesada, a gente cansa", mas hoje está tudo igual e nivelado. O Bahia eu acho que vai se acertar também. São dois grandes times, com grandes torcidas, têm bons treinadores, são bem administrados e têm tudo para acertar. Mas é como eu te falei: no futebol, você tem que ter sorte. Você viu o Bahia contra o Internacional, ganhou o jogo, jogou bem. No início teve um pouco de sorte, mas também teve competência, pela qualidade dos jogadores, pelo padrão de jogo que fez, o esquema tático. Na vida, a gente tem que ter isso: trabalho, organização, treino e também um pouquinho de sorte. Muita sorte, aliás