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Turbilhão Feminino: Conheça Solange Bastos - uma craque dos anos 90

Por Ayana Simões

Turbilhão Feminino: Conheça Solange Bastos - uma craque dos anos 90
Foto: Thaís Magalhães / CBF

A Bahia revelou muitos talentos para a Seleção Brasileira. Entre o final da década de 80 e início da década de 90, uma baiana de Feira de Santana, se destacava nos gramados do país e do mundo. O nome dela é Solange Bastos, foi zagueira da Seleção. Participou dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Tem uma carreira vitoriosa como jogadora em grandes times.



Há 40 anos no futebol, Solange participou do quadro Especialistas do Turbilhão Feminino. Observou o cenário da modalidade e revelou suas impressões para gente. Atualmente como Auxiliar Técnica do Bahia Feminino, Solange também falou sobre a experiência na Comissão Técnica do clube e revela que nunca imaginou chegar onde chegou.  



TF – Quais os momentos mais difíceis da sua carreira?
Solange – Quando eu saí daqui da Bahia eu fui direto para Seleção Brasileira. Só tinha jogado em um time, pelo Flamengo de Feira. Foi o time que cresci, cheguei com 12 anos de idade. A dificuldade foi vencer os obstáculos do preconceito que vivíamos dentro da Seleção. Foram muitos e não foram fáceis. Financeiramente era muito difícil. Minha diária era R$20,00 na Seleção. Quando eu conto ninguém acredita. Muitos não pagaram direitos de Arena para nós. Fomos muito enganadas. Nós queríamos apenas que a modalidade crescesse. Também vi muitos oportunistas no Futebol Feminino. Aqueles que queriam se aproveitar da situação e das atletas. Esse foi o lado mais triste que conheci. Mas em relação aos times que passei. Me deram a estrutura para ser a profissional que me tornei.



TF – Solange, conta um pouco do MAC (Marília Futebol Clube).
Solange - Eu saí de um grande pólo que foi São Paulo para ir jogar no Marília. Eu estava no Palmeiras. Sai de uma estrutura gigante para um alojamento com tudo muito básico. Fique balançada. Eu não tinha conhecido a outra parte do Futebol Feminino. Como joguei em grandes equipes, era uma estrutura melhor para gente. Fiz o caminho contrário. Cheguei num time modesto mas organizado, mas com meninas novas e promissoras. Eu via o brilho no olhar daquelas meninas. Quando me viram lá, elas se encantaram e acreditaram que a gente ia conseguir. Eu fiz o meu melhor. Disputamos o Campeonato, incentivei as jogadoras, era tudo muito limitado. Até rifa fazíamos para ajudar a comprar algumas coisas para o Clube. Era um time competitivo com boas jogadoras.



TF – Como foi o processo de transição e deixar de ser atleta?
Solange – Quem joga futebol morre duas vezes. A primeira é quando para de jogar. Comigo não foi diferente. Eu parei no Francana, de São Paulo. Já parei e comecei lá como Coordenadora Técnica. Eu apostei nisso e eles apostaram em mim. Depois assumi como Técnica em jogos regionais e fomos Campeões. Deixar os campos foi doloroso porque eu queria entrar em campo, treinava com elas, não é fácil para nenhum atleta. Depois que parei entrei num mundo que não conhecia e tive um grande impacto pela realidade que conheci. Sem contar que tive dificuldade de me adaptar de tal forma que que só calçava tênis (até em casa) e não entrava em bar. Não foi fácil desapegar da minha personalidade como atleta.



TF – Como foi para você o seu primeiro título na Bahia, seu Estado? Na final do Estadual Feminino contra o Juventude, quando o Bahia conquistou o título, a torcida chegou junto. Como foi para você esse momento?
Solange – Foi um momento único na minha vida. Depois que cheguei aqui na Bahia eu não tinha ganhado nada ainda, estava numa luta muito grande e sonhava em ganhar uma Competição. Foi uma mudança muito grande na minha vida. Ganhar um Título num Clube como o Bahia foi mágico. Difícil falar dessa emoção. Eu não me imaginava estar na Arena Fonte Nova, com camisa do Bahia e ganhar o título Baiano. Isso para mim foi surreal, com a torcida presente, gritando e vendo toda aquela imprensa envolvida. Nós trabalhamos muito durante dois meses consecutivos para alcançar o objetivo. O Igor conduziu muito bem o time e todo mundo ganhou.



TF – Vemos uma evolução do Futebol Feminino, mas na Bahia ainda é preciso ultrapassar muitas barreiras? Como você vê essa evolução?
Solange – Eu acredito que demos um salto muito grande. Existe preconceito, mas existe oportunidade. Tem que dar oportunidade para essas meninas aparecerem. Hoje tem muitas meninas que jogam futebol. Isso vai melhorar mais o futebol da Bahia. Temos grandes jogadoras que estão em crescimento. Nós também tivemos grandes atletas. Muitas em Seleção Brasileira, na minha época, na época em que o São Francisco estava no auge. Tudo é muito promissor. Temos que investir para que nossas atletas não saiam daqui para dar mais qualidade e nível técnico no Campeonato. Temos que dar apoio e oportunidade.



TF – O Futebol Feminino evoluiu também quando o assunto é base. Vemos Competições Nacionais. Como você vê esse momento e a contribuição na formação da atleta.
Solange – Eu não imaginava que veria esse momento diante do que vivi no passado. No meu tempo, com 12 anos eu joguei no adulto. Eu poderia ter tido até os 18 ter tido etapas até chegar no adulto. Hoje vemos muitas escolinhas em que as meninas podem participar. Algumas são femininas e com professores que só se dedicam ao Futebol Feminino. De 1990 para cá eu vejo uma evolução muito grande. Vejo as redes sociais tem muitas meninas mostrando seu futebol. Vamos projetos sociais com muitas meninas e trabalho de iniciação na modalidade. Tem times do interior que tem categorias de base. Daqui um tempo veremos meninas muito bem preparadas para serem uma atleta de alto rendimento porque não envolve apenas o aprendizado de fundamentos, mas de educação e disciplina. Fali isso porque minha personalidade foi formada no futebol. O esporte me direcionou e me educou.