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Roger dá aula sobre preconceito e alerta: 'Negar e silenciar é confirmar o racismo'

Por Gabriel Rios

Roger dá aula sobre preconceito e alerta: 'Negar e silenciar é confirmar o racismo'
Foto: Divulgação / EC Bahia

Os dois únicos técnicos negros da Série A do Campeonato Brasileiro se enfrentaram na noite deste sábado (12), na vitória do Fluminense por 2 a 0 sobre o Bahia. Antes da partida, Marcão e Roger entraram com uma camisa estampada com a frase "chega de preconceito". Após o confronto, o técnico do Esquadrão de Aço comentou sobre o assunto, salientou que a campanha não deveria causar impacto e alertou que o racismo está estruturado na sociedade brasileira. 

 

"Com relação à campanha, não deveria chamar atenção ter repercussão grande dois treinadores negros na área técnica, depois de ser protagonistas dentro do campo. Essa é a prova que existe o preconceito, porque é algo que chama atenção. A medida que a gente tenha mais de 50% da população negra e a proporcionalidade não é igual. A gente tem que refletir e se questionar. Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que a população carcerária, 70% dela é negra? Por que quem morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são para os negros? Entre as mulheres negras e brancas, são para as negras? Por que que, entre as mulheres, quem mais morre são as mulheres negras? Há diversos tipos de preconceito. Nas conquistas pelas mulheres, por exemplo, hoje nós vemos mulheres no esporte, como você, mas quantas mulheres negras têm comentando esporte? Nós temos que nos perguntar. Se não há preconceito, qual a resposta? Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado", questionou Roger. 

 

"Quando eu respondo para as pessoas dizendo que eu não sofri preconceito diretamente, a ofensa, a injúria, ela é só o sintoma dessa grande causa social que nós temos. Porque a responsabilidade é de todos nós, mas a culpa desse atraso, depois de 388 anos de escravidão, é do Estado, porque é através dele que as políticas públicas, que nos últimos 15 anos foram instruídas, que resgataram a autoestima dessas populações, que ao longo de muitos anos tiveram negadas essas assistências básicas, elas estão sendo retiradas nesse momento. Na verdade, esses casos que vêm aumentado agora, de aumento de feminicídio, homofobia, os casos diretos de preconceito racial, é o sintoma. Porque a estrutura social, ela é racista. Ela sempre foi racista. Nós temos um sistema de crenças e regras que é estabelecido pelo poder, e o poder é o poder do Estado, é o poder das comunicações, é o poder da igreja. Quando esses poderes não enxergam ou não querem assumir que o racismo existiu e não querem fazer uma correção nesse curso, muitas vezes dizem que estamos nos vitimando, ou que há um racismo reverso", completou. 

 

O treinador ainda concluiu dizendo que não sofreu injúria, mas que o preconceito está em praticamente todos os lugares que frequenta: "A bem da verdade é que dez milhões de indivíduos foram escravizados. Mais de 25 gerações. Passou pelo Brasil Colônia, passou pelo Império e só mascarou no Brasil República. A gente precisa falar sobre isso. Precisamos sair da fase da negação. Nós negamos. 'Ah, não fala sobre isso'. Porque não existe racismo no Brasil em cima do mito da democracia racial. Negar e silenciar é confirmar o racismo. Minha posição como negro na elite do futebol, é para confirmar isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: 'Não há racismo, está vendo? Você está aqui'. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui", concluiu.