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Entrevista

Bacelar defende educação sexual em escolas e diz que Deus escolhe orientação sexual - 11/11/2020

Por Fernando Duarte / Lucas Arraz

Bacelar defende educação sexual em escolas e diz que Deus escolhe orientação sexual - 11/11/2020
Foto: Rebeca Menezes / Bahia Notícias

Candidato do Podemos à prefeitura de Salvador, Bacelar defendeu, durante entrevista ao Bahia Notícias nesta terça-feira (10) (veja aqui), a inclusão de educação sexual nas escolas, incluindo o ensino fundamental. 

 

Último entrevistado entre os candidatos à prefeitura de Salvador, Bacelar argumentou que a educação sexual protege as crianças. "É na convivência das escolas e na orientação que a criança vai saber que determinadas condutas são condutas não recomendáveis que ela precisa denunciar. No momento que retomo na escola, uma política sem homofobia, com educação sexual, estou protegendo a comunidade da violência estrutural", falou. 


O deputado ainda fez um apelo para que pais não expulsem crianças de casa pela sua orientação sexual.  "Sempre falo para mães e pais que não tratem seu filho segundo a orientação sexual porque não foi ele que escolheu a orientação sexual. Ela ocorre da vida e da vontade de Deus. Temos que acolher e não expulsar", complementou. 

 

Durante a conversa, o gestor ainda prometeu criar uma moeda própria para circular em bairros como o Nordeste de Amaralina e até mesmo empregar 100 mil pessoas temporariamente pela prefeitura após ser eleito.

 

Entre as críticas à atual gestão do prefeito ACM Neto, a qual fez parte na Secretaria de Educação, Bacelar disse que o prefeito tem "coração de concreto": "O prefeito ACM Neto inegavelmente é um grande tocador de obras. Neto gosta tanto de concreto que acho que o concreto petrificou o seu coração. O coração de Neto é de concreto. Ele não sabe prestar serviços. Não sabe cuidar das pessoas". 

 

O que esperar do próximo gestor para lidar com as consequências econômicas e sociais da pandemia? 

 

Não é fácil administrar uma cidade sob o impacto de uma pandemia. Reconheço os avanços da atual administração, nesse quesito específico, na condução do processo. Mas, em primeiro de janeiro, vamos precisar ainda mais de um prefeito experiente, tanto administrativamente, como politicamente. Mais de 700 mil pessoas vão deixar de receber o Auxílio Emergencial no dia 31 de dezembro. Vamos encontrar uma cidade destroçada e economicamente fragilizada. A primeira atitude de um prefeito que queira realmente enfrentar as graves consequências dessa pandemia, será de abrir frentes de trabalho. Eu pretendo, se eleito, em 1° de janeiro, criar 100 mil vagas temporárias na prefeitura para frentes de trabalho. A frente de trabalho de conservação, manutenção e limpeza estará nos bairros, cadastrando as pessoas e moradores para ajudar na prefeitura a nas tarefas, como capinar ruas, pintar o muro da escola, consertar a instalação hidráulica de um posto de saúde. Teremos frente de trabalho para a juventude. Temos em Salvador 300 mil jovens que nem trabalham e nem estudam. Analfabetos funcionais. Precisamos em um turno, contratar esse jovem em alta vulnerabilidade e no outro turno oferecer reforço escolar. Como uma cidade que se diz pólo do turismo, tem uma mão-de-obra tão desqualificada? Falta de investimento?

 

Quais os principais gargalos que a prefeitura de Salvador enfrenta em 2020 que o próximo gestor também terá que enfrentar?

 

Um grande gargalo emergencial é a o gargalo do desemprego. Salvador é a vice-campeã do desemprego. Só ganhamos de Manaus. A nossa taxa de desemprego bate 18%, que é muito mais, por um detalhe. O IBGE só considera como desempregado a pessoa que está sem ocupação e procurando trabalho. Na pandemia, as pessoas estão em casa. Então a taxa caiu. Em Salvador, essa taxa é muito mais elevada. Na parte estrutural, temos uma fragilidade na nossa economia. Salvador é uma cidade cujo a locomotiva econômica é o setor de serviços, comércio varejista e o turismo. Mas principalmente os serviços que estão na informalidade. Precisamos fortalecer e formalizar o comércio, que favorece a circulação de riquezas. A prefeitura não tem programas para incentivar o comércio. Eu pretendo criar uma moeda social, que só irá circular em determinadas áreas. Essa moda vai funcionar no Nordeste, na Federação e em Santa Cruz. Todas as compras que a prefeitura faz nessa região serão pagas com essa moeda social. Os trabalhadores dessa região receberão essa moeda, dando uma vida muito mais rica e gerando emprego e renda.

 

O que o senhor faria de diferente da atual administração?

 

O prefeito ACM Neto inegavelmente é um grande tocador de obras. Neto gosta tanto de concreto que acho que o concreto petrificou o seu coração. O coração de Neto é de concreto. Ele não sabe prestar serviços. Não sabe cuidar das pessoas. Não sabe reduzir as desigualdades sociais. Os investimentos da prefeitura são de fachada, segmentados. A primeira coisa que farei diferente é governar para quem mais precisa e não para as mesmas pessoas. A prefeitura só faz as obras na ilha da fantasia, nos mesmos lugares, onde as empresas estão com os amigos dos maristas. Olha a equipe da do prefeito. Parece que está olhando um ministério da Finlândia. Todo mundo branco e loiro. Não tem representação. Vou fazer isso também diferente. Vou para os bairros com obras de qualidade e não com essas obras de segunda categoria. Moro na Barra. Na minha casa, só esse ano, a prefeitura já tirou o asfalto quatro vezes. O que sobra eles mandam para o bairro. A borra de asfalto eles jogam nos bairros. Gastam R$ 50 milhões na Barra e fazem em Pernambués uma praça que não tem banco. Colocam os brinquedos de terceira categoria que, com certeza, não são dos prédios ou condomínio onde moram. Precisamos mudar a visão elitista que preside a atual administração. Eles não gostam de Salvador, eles queriam que isso fosse Miami. Só valorizam um pedaço da orla atlântica e o Corredor da Vitória. Valorizam os grandes espetáculos, enquanto a  prestação de serviços é péssima. Um office boy me contou que foi Secretaria da Fazenda tirar a segunda via do IPTU e foi atendido em 5 minutos, com ar-condicionado. No dia seguinte, passou o dia esperando, no calor, um pediatra atender seu filho em um posto de saúde. 

 

O senhor foi secretário de Educação e Cultura ainda na administração de João Henrique, uma administração muito mal avaliada no final. O senhor também começou com o prefeito ACM Neto, saiu após o incidente do Incêndio na Secretaria de Educação... 

 

O incêndio foi 1° de janeiro eu sai em agosto. 

 

Mas o senhor tinha uma boa relação com o prefeito ACM Neto até a saída da Secretaria de Educação. Quais foram as razões da ruptura? Existe uma mágoa com a atual administração? 

 

A minha gestão na Secretaria de Educação é super bem avaliada pelos diretores, pelos professores, pelos trabalhadores de educação e pelos pais de alunos. Pode perguntar a qualquer professor da rede municipal quem foi o melhor secretário municipal de educação e eles vão responder do êxito da nossa gestão. Dando os maiores aumentos salariais do professores do Brasil, fazendo educação integral. As primeiras escolas em tempo integral em Salvador foram iniciativas da minha gestão. Infelizmente a atual gestão terminou o programa de escolas em tempo integral. Mas eu sempre tive um bom relacionamento com o prefeito, como pessoalmente acho que ainda tenho. Apenas a minha visão de solução para os problemas evoluiu. Nós começamos nos afastar por um incidente na Câmara de Vereadores e por uma exigência dos vereadores do meu partido. Naquele momento, tínhamos uma bancada de seis vereadores e os seis vereadores exigiram que eu rompesse com o prefeito. Eu fiz o rompimento, atendendo, contra minha vontade. Mas com o passar do tempo, fomos ideologicamente nos distanciando. Reconheço que Neto é um bom administrador, um bom tocador de obras, mas não reconheço nele aquela vontade de enfrentar as questões estruturais que levam Salvador a essa posição de campeã nacional do analfabetismo, violência, fome, miséria e desemprego. 

 

Quais são as propostas do senhor para minorias com a comunidade LGTB e comunidade negra de Salvador?

 

Para a comunidade LGBTQIA+, precisamos primeiro voltar a trabalhar nas escolas, a educação sexual. Precisamos trabalhar nos nossos currículos essa questão. É fundamental. Nenhuma criança vai saber o que é uma conduta correta ou o que é uma conduta errada, apenas com ensinamentos internos em casa. É na convivência das escolas e na orientação que a criança vai saber que determinadas condutas são condutas não recomendáveis que ela precisa denunciar. No momento que retomo na escola, uma política sem homofobia, com educação sexual, estou protegendo a comunidade da violência estrutural. Outra política é a construção de centros e casas de acolhimento. Eu tenho em Salvador um projeto nesse sentido. Sou um dos mantenedores da Casa Aurora, casa que acolhe jovens em situação de vulnerabilidade social, expulsos de casa em função da orientação sexual. Sempre falo para mães e pais que não tratem seu filho segundo a orientação sexual porque não foi ele que escolheu a orientação sexual. Ela ocorre da vida e da vontade de Deus. Temos que acolher e não expulsar. Também planejo a formação de mão de obra das travestis, se elas quiserem deixar a prostituição. Para a área dos negros, essa é a prioridade absoluta. Em Salvador, 85% da população se declara negra ou parda. A prioridade não é esquecer o resto, mas dar a ênfase ao atendimento da população afrodescendente. Vamos fazer o programa do pré-natal ao primeiro emprego, dando assistência a um milhão de mulheres que chefiam solo suas famílias. Vamos discutir a responsabilidade da paternidade. Muitos  jovens, que geralmente tem de 15 a 24 anos, tem três filhos em média. Precisamos conscientizar os homens da necessidade da paternidade responsável. Também não podemos continuar com essa política de segurança. Uma política burra, retrógrada, que alimenta a violência.

 

O senhor foi o último candidato a bater o martelo sobre a candidatura. A gente entrevistou Olívia Santana e ela reclamou um pouco da base aliada do governador Rui Costa ter múltiplos candidatos e o governador estar ausente nas campanhas desses aliados?


O governador não está ausente. Não sou daqueles que consideram a estratégia do governador [de múltiplas candidaturas] errada. Apesar de defender uma candidatura única, disse a ele que aceitaria a decisão do colegiado, fosse quem fosse. A Bahia tem vários expoentes e todos eles têm o direito de apresentar uma candidatura. Essa coisa atrasada do voto útil só existe no Brasil. Temos dois turnos para que no primeiro, a população vote quais plataformas o representam. É isso que dá voz às minorias, às forças da cidade. O primeiro turno é para isso mesmo. Essa enxurrada de ideias e projetos é que enriquece o processo eleitoral. Acho que o governador, nesse ponto, contribuiu para isso. No outro aspecto, pessoalmente, fui chamado duas vezes na casa do governador para discutir projetos, como as ampliações do VLT e da avenida Suburbana.