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Entrevista

Não acredito que militares estejam à vontade para legitimar esse governo, diz Wagner - 06/04/2020

Por Ailma Teixeira / Fernando Duarte / Breno Cunha

Não acredito que militares estejam à vontade para legitimar esse governo, diz Wagner - 06/04/2020
Foto: Bahia Notícias

Uma das principais lideranças da oposição no Senado, Jaques Wagner (PT) não acredita que um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) avance no Congresso, neste momento. Mas o senador acha que o chefe do Palácio do Planalto está cada vez mais isolado.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, o senador pela Bahia pontuou que o presidente perde cada vez mais apoiadores: “É fato que a animosidade contra ele aumenta em todos os segmentos da sociedade. Ele na verdade está ficando cada vez menor, e cada vez só com os superfanáticos. As pessoas que têm bom senso acabam entendendo que ele não é companhia pra ninguém”.

 

Sobre a carta assinada por líderes da oposição no país pedindo a renúncia de Bolsonaro, Wagner destacou que não concorda com o pedido de renúncia. “Não assinei porque a carta foi produzida e foi pra rua rapidamente, e eu acabei nem sendo, na verdade, procurado, porque acho eles queriam colocar pessoas de cada partido, como já tinha o [Fernando] Haddad, a Gleisi [Hoffmann], do PT, aí colocaram Flávio Dino, do PCdoB, o Ciro [Gomes] como ex-candidato, então acho que a composição foi esta. Eu não colocaria este item. Renúncia é um ato unilateral. Ele vai fazer ou não vai fazer a depender do grau de sustentação dele”, falou.

 

Qual é o clima que está no Senado diante dessas inconsistências que o presidente Jair Bolsonaro tem apresentado em pronunciamentos públicos e até em conversas que ele tem tido com eleitores. Como está o clima com isso?

Não é simples apurar o clima, porque acaba que em reunião virtual você nunca tem o curso exato de todo mundo reunido. Mas evidentemente [o clima é] de contrariedade, mas eu acho que a maioria está preferindo, junto com os governadores de seus estados, ajudar na resistência, na convivência, até que isso passe, na questão da contaminação do vírus, e fazendo aquilo que entendemos que é bom pro Brasil e pra os brasileiros. Porque também se for dar muita atenção pra ele, acaba que você não faz aquilo que tem que fazer. Então, as medidas que tem que ser votadas, nós votamos. Evidente que pesa muito a lentidão do governo, e eu diria que o jogo de cena dele. Ele diz que sanciona em um dia e no outro não está publicado no Diário Oficial. É um negocio irritante, eu não sei como é que ele consegue se manter em uma posição tão irracional quanto esta. E está arrastando o governo dele, porque acaba que os próprios ministros vão ficando em uma situação ruim. Paulo Guedes claramente fala que quer fazer, mas não quer, então é claro que o ambiente é de contrariedade.

 

Recentemente muitos políticos, nomes como Flávio Dino, Ciro Gomes e até Fernando Haddad assinaram um manifesto pela renúncia do presidente Jair Bolsonaro. Como você avalia esse tipo de movimentação da esquerda brasileira?

Pra mim o elemento mais positivo da carta é o fato de ter conseguido compor um agrupamento, um campo de partidos políticos, que encontram unidade nessa ação. Na minha opinião, aquilo que é mais importante é isso. Sobre a questão da renúncia, eu não assinei porque a carta foi produzida e foi pra rua rapidamente, e eu acabei nem sendo, na verdade, procurado, porque acho eles queriam colocar pessoas de cada partido, como já tinha o Haddad, a Gleisi [Hoffmann], do PT, aí colocaram Flávio Dino, do PCdoB, o Ciro [Gomes] como ex-candidato, então acho que a composição foi esta. Eu não colocaria este item. Renúncia é um ato unilateral. Ele vai fazer ou não vai fazer a depender do grau de sustentação dele e a psiquê dele que eu desconheço qual é. Porque eu acho que não é uma pessoa definitivamente de uma psicologia normal. Ele não é uma pessoa que está em um padrão, independente de nós sermos diferentes, mas temos padrões, e ele está fora de um padrão... mente descaradamente, não tem nem noção da onde está sentado.

 

Não vestiu a faixa presidencial como deveria...

Eu acho até que ele se candidatou para eleger os filhos, ele nunca achou que ia ser eleito. Não tem projeto para o país, não conhece o país, os meandros do país, então é... é um negócio... não sou eu que estou falando, é o mundo inteiro que está falando, entendeu? Mas eu não quero ficar dando pratos a bola dessas coisas. Primeiro que renúncia é um ato unilateral, e ele está ficando a cada dia mais isolado. Não tem mais, eu não acredito que ao nível dos militares, por exemplo, eles estejam a vontade de estarem praticamente legitimando um governo dessa natureza. Agora, eu vou insistir: faço minha parte. Como eu acho que nesse momento, nós temos algo tão duro, uma tarefa tão desafiadora, como a questão do vírus... não é brincadeira, de ontem pra hoje morreram mil pessoas nos Estados Unidos. Tudo bem, alguém diz que ‘no trânsito também morre’, tudo bem, não deveria morrer também no trânsito. Mas no trânsito morre espaçadamente, um acidente aqui, outro ali, uma irresponsabilidade eventual do motorista. Aqui é mil mortes em um dia só pela mesma causa, uma causa que o ser-humano ainda não conseguiu controlar. Eu acho que é tão desafiador, que acho que rebaixar qualquer debate nesse momento, gastar qualquer energia pra embate político tradicional, político eleitoral... o povo está enxergando e vai julgar na hora certa. Mas o povo agora não quer julgar ninguém, o povo quer saber o seguinte: comida pra comer, dinheiro pra comprar remédio, dinheiro pra me prevenir, orientação precisa, e esperar que na hora que eu precise cada um possa ter leito do hospital. Não é brincadeira, não se consegue comprar máquina de respirar, uma série de produtos, e infelizmente numa hora tão dramática como essa o pessoal continua usando a tal lei do mercado. Todo mundo está procurando, eu tenho o produto e multiplico por cinco, por dez, o preço do produto, é um negócio inimaginável. A gente tem coisa aqui que subiu, eu tenho conversado com Rui, dez vezes, vinte vezes, pelo amor de Jesus Cristo. Tem gente morrendo, no Equador, um drama, os corpos ficando no meio da rua. Eu não sei se o ano 20 é isso, porque 1920 foi a última, 1820 teve outra, 1720 teve outra... Desde 1720 que tem uma coisa dessa. A espanhola e agora o coronavírus, e antes tem uma tal que teve na França, que nem todos consideram, mas foi em 1720 também.

 

O ex-presidente Lula citou, por exemplo, que ou Bolsonaro renuncia ou ele vai acabar "impeachado". Em fevereiro, quando a gente conversou o senhor falou que não é adequado tratar sobre impeachment, ainda mais nesse momento de coronavírus, mas esse assunto volta e meia aparece. O senhor acredita que é possível que isso venha acontecer no futuro?

Eu acho assim, enquanto nós estivermos na crise do coronavírus, nessa luta, é impossível... você não vai fazer um julgamento de impeachment do tipo votação remota. Não existe isso. É fato que a animosidade contra ele aumenta em todos os segmentos da sociedade. Ele na verdade está ficando cada vez menor, e cada vez só com os superfanáticos. As pessoas que têm bom senso acabam entendendo que ele não é companhia pra ninguém, entendeu? Então na minha opinião isso pode vir a acontecer, se ele vai renunciar ou não vai renunciar, eu não sei porque o cara já teve que se desmentir ‘ene’ vezes. Agora o riso dele lá já tomou um outro rumo. Ele está no meio da estrada e o cachorro caiu da mudança.

 

O governo tem encaminhado MPs, a última é a relacionada à questão do trabalho, dos trabalhadores. Essas restrições a direitos trabalhistas vão passar no Congresso sem qualquer tipo de modificação ou o Congresso vai resistir pra preservar ao menos os direitos mínimos dos trabalhadores?

Essa última que ele lançou seguramente terá resistência. Pelo menos do lado de cá, dos partidos mais voltados ao movimento social, aos direitos dos trabalhadores, progressistas, mas mesmo os outros. Evidente que quando você tem as empresas sem funcionar a plena carga, é claro que vai parecer que é razoável o pensamento de ‘não, mas então, pra pelo menos não demitir mantém assistência médica...’. É que eu acho que isso poderia ser um processo de negociação entre o padrão e o empregado e não medida provisória. Evidentemente que estamos em uma crise, em um extremo, numa situação anormal vamos ter que tomar medidas não convencionais. Agora do jeito que ele falou, vai até 100% do salário, aí é o que eu digo. Era muito mais os projetos que a gente tem lá ainda. Liberar dinheiro de compulsório, do BNDES, é o Tesouro que tem que bancar isso. Esses países mais de ponta estão fazendo o que? Eles aportam. Tudo bem, as empresas não têm condições de pagar, 50%, então o governo poderia entrar com quanto? Então eu acho que haverá resistência sim.

 

Trazendo um pouco para Salvador, Rui Costa, o governador, e prefeito ACM Neto têm mantido uma relação bem republicana nesse processo. O senhor acredita que é um grande desafio para os dois gestores, que fazem parte de um grupos políticos distintos, trabalharem conjuntamente, ainda mais em um contexto em que uma coordenação nacional não existe, já que o presidente da República praticamente boicota as ações de governadores e prefeitos?

Não, eu acho que não é difícil. Porque todos dois sabem que o que a população de Salvador, tratando do prefeito da capital, ou de Feira, de Vitória da Conquista, Itabuna, Ilhéus, Barreiras, as cidades maiores ou menores de população, eles sabem que o que a população quer é solução para os problemas, então na minha opinião é de bom tom que nessa hora...nós estamos em uma guerra, é um inimigo externo e o pior, invisível, contra o qual a gente ainda não tem armas definitivas. Então eu só posso aplaudir, e não esperaria nada diferente, pela responsabilidade que os dois têm, acho que os dois estão trabalhando corretamente, dando as declarações que são necessárias, sem procurar saber quem é que vai faturar. Isso não é hora de, sabe, o cara ficar pensando ‘o que é que eu vou faturar politicamente?’. Pelo amor de Deus, eu estou aqui retado que tenho que ficar em casa.

 

O senhor é grupo de risco né, já passou dos 60...

É, eu tenho 69, além disso, eu tenho pressão alta, não sou diabético, não tenho nenhuma outra complicação, minha pressão alta é absolutamente controlada. Mas eu, por exemplo, na primeira semana continuei indo no meu escritório, ia, procurava atender um a um as pessoas, na semana de 16 a 23, mas depois, seja pelo lado família, seja pelo lado profissional também, porque acaba que você... se eu for rodar, eu estou dando em tese o mau exemplo. Mas a gente que é da vida pública, que se acostumou a vida inteira, estar colado na hora que as pessoas mais precisam, óbvio que eu estou fazendo as coisas por telefone, as votações, falo com Rui, vejo o que eu posso ajudar, mas é uma agonia retada ficar trancado em uma hora dessa.

 

Voltando pra Brasília, na semana passada alguns autores políticos começaram a falar na possibilidade de adiamento das eleições 2020. O senhor acredita que a crise do coronavírus vai ter impacto nessa questão das eleições deste ano? Do ponto de vista de cronograma.

Eu espero que não. Eu por exemplo sou suspeito pra falar do tema, porque minha posição é pública. Eu sou favorável à concomitância das eleições de vereador à presidência da República. Mas não acho que é em uma hora de exaspero, que você vai tomar boas decisões. Quando eu digo que eu espero, é por que como foi encurtado pela nova lei o tempo de propaganda eleitoral, então por enquanto não tem nada comprometido. Evidente que quem é pré-candidato gostaria de estar fazendo aquelas reuniões, como pode, aquelas reuniões fechadas, em ambientes fechados, mas as pessoas estão tendo que se controlar. Mas eu acho que é precipitado. Eu já vi até Emenda Constitucional falando disso. Vamos supor que a gente consiga, em abril e maio, entrar em uma situação não de superar o problema do coronavírus, mas em uma situação de equilíbrio, com o controle da área sanitária ou da saúde pública, dos casos que vão acontecendo. Se isso acontecer até o final de maio, meados de junho, você ainda está no tempo das convenções. Então até a convenção, até a proclamação de cada um como candidato, isso não muda muito. Até porque a regra é horizontal, ela vale pra todo mundo, ela não dá prejuízos para este candidato contra outro. Nenhum candidato está podendo fazer aglomeração nem nada. Então na minha opinião é muito precipitado falar disso, apesar de que eu, não agora, mas eu sempre digo que a gente deveria trabalhar pra ter uma eleição única no país, de vereador a presidente, acho que seria mais saudável pra democracia, mas não vou propor isso na hora de uma agonia como essa que a gente está vivendo. Agora pode acontecer que ela [a eleição] se inviabilize. Deus me livre e guarde, se chegar em setembro e você ainda tiver um quadro sem controle da pandemia, como é que você vai fazer eleição? Não tem sentido. Aí evidentemente você pode adiar, mas ai também não precisa falar em adiamento de dois anos. Vai fazer em dezembro? Vai fazer em janeiro? Então o cara vai esticar o mandato dele em 30 dias. É isso que eu quero dizer. Já ficar falando de dois anos, aí na minha opinião é uma carona imprópria.

 

Com relação às articulações dos partidos, essa reta final seria por exemplo de filiação de candidatos a vereador, até de candidato a prefeito. Esse processo acabou prejudicado. O senhor acha que isso vai ter impacto, até nas composições das chapas do futuro, por conta desse finalzinho do período de filiações.

Acho que não, até porque, é obvio, tinha gente que estava em processo decisório. Mas essas decisões, de vereadores e prefeitos, são decisões que são de volume de pessoas muito grandes pra tomar essa decisão. Eu estou falando de cada lugar. Então de uma certa forma essas são conversas distintas, ideias distintas, minha opinião é que pode ter um ou outro tropeço, mas no caso da Bahia, até porque vamos ser francos, muitas reuniões você faz por telefone mesmo, essa que é a verdade. Por exemplo nem todo mundo na Bahia que consigo consultar pessoalmente, as pessoas me ligam, então eu pessoalmente acho que pode ter tido um prejuízo, mas na minha opinião ele é marginal, ele não é significativo.

 

Como está o nome da Major Denice Santiago? Ele segue como favorito do PT pra Prefeitura de Salvador, é um nome forte pra disputa?

Olha, ele segue pela simpatia do próprio governador pelo nome. Evidentemente que tem a minha simpatia também e já percebi que tem a simpatia de forças políticas que atuam no PT de Salvador significativas. Nesse caso até atrapalhou, porque o governador, eu não estou me dedicando a conversar com muita gente sobre o tema porque eu acho que não é hora nem ninguém tem cabeça. Rui está lá querendo sabendo onde ele compra respirador mecânico, mas na minha opinião continuo achando que ela é uma figura que tem conteúdo pra apresentar. E repito: como a questão no caso dela, de filiação, ela não respeita os prazos normais por ser uma policial militar, então nem isso eu diria atrapalha. Agora é óbvio, ela provavelmente se não tivesse todo esse fato, talvez tivesse produzindo reuniões, coisas do tipo, pra na minha opinião ela continua como nome mais forte para o encontro.