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Entrevista

‘A onda do desemprego bateu mais forte na Bahia’, avalia novo secretário da Setre - 28/05/2018

Por Bruno Luiz / Lucas Arraz

‘A onda do desemprego bateu mais forte na Bahia’, avalia novo secretário da Setre - 28/05/2018
Foto: Bahia Notícias

Para Vicente Neto, novo secretário da pasta de Esporte, Trabalho e Renda do governo estadual (Setre), mudanças na economia feitas pelo atual governo federal são as principais responsáveis pelo desemprego no estado. Com um percentual médio de cerca de 16%, a Bahia fechou o ano de 2017 com a maior taxa de desemprego desde de 2012. O número é maior, inclusive, do que a média média nacional, que ficou em torno de 8%. “Na região Nordeste tínhamos políticas públicas relacionadas à geração de emprego integradas ao governo federal. Quando você desmonta a política nacional, quem mais sente o impacto é quem é maior. O que tenho para dizer é que a onda do desemprego bateu mais forte aqui do que em outros estados”, defendeu o secretário. Com a taxa de desemprego alta, a Setre precisa fomentar a geração de emprego e renda, sem esquecer de assistir à prática de esportes no estado. O orçamento anual da pasta para cuidar disso é de R$ 276 milhões para 2018. Sobre o assunto, o secretário fala em cumprir as demandas “fazendo mais com menos”. Sem apoio do governo federal, Vicente Neto conta que a Setre se vira para manter e aprimorar a Rede Sine, estimular a economia criativa e diminuir a taxa de subemprego apenas com o cofre do estado. “Hoje a Bahia é o segundo estado do Nordeste em recolocação de pessoas no mercado de trabalho formal”, comemora perante as dificuldades. Apesar de algumas vitórias, a secretaria ainda precisa lidar com a questão: Por que a onda de desemprego no Brasil parece que atingiu a Bahia como um tsunami?

 

A Setre aglutina as questões de renda, emprego e esportes com um orçamento estimado em R$ 276 milhões para 2018. Com esse montante, pequeno em relação a outras secretarias como Educação e Saúde, a ação da pasta fica limitada?
Não temos como comparar o orçamento da nossa secretaria com os orçamentos da Educação e da Saúde. Essas secretarias têm percentuais constitucionais, previstos por lei. São secretarias que atendem todos os municípios do estado obrigatoriamente. Na Saúde temos a operação, construção de policlínicas e ambulâncias. É outra realidade. A montagem do orçamento segue a especificidade de cada secretaria. Umas têm orçamento maior, outras têm orçamento menor e assim que é feita a repartição do bolo do poder. Para nós, nosso orçamento é ajustado.

 

Ajustado em que sentido?
Proporcional às demandas que a secretaria recebe.

 

A gestão do senhor passa por esse quase mantra dentro da política econômica brasileira atual de controlar os custos e fazer uma gestão de forma mais austera?
Austeridade é uma palavra que eu não gosto muito. O exemplo [de controlar custos] vindo da Grécia me assusta muito. Infelizmente, no caso do brasileiro no pós-golpe, temos uma redução das políticas públicas na área em que atuo. A redução foi drástica. Não há repasses do governo federal para a nossa secretaria. Nós temos um convênio assinado com o governo federal e houve suspensão neste repasse. São R$ 5 milhões não repassados desde o começo de 2016, sem perspectiva para ser feito. Para manter as cerca de 100 unidades do Sistema Nacional de Emprego (Sine) na Bahia, o governador Rui Costa teve que garantir os recursos. A União não repassou e o Tesouro estadual teve que cobrir essa deficiência. Nosso mantra é fazer mais com menos. Bancamos a rede com recurso próprio e não fechamos uma unidade. Hoje a Bahia é o segundo estado do Nordeste em recolocação de pessoas no mercado de trabalho formal.

 

A Bahia fechou o ano de 2017 com a maior taxa de desemprego desde de 2012. Segundo dados do IBGE, 16,9% da população acabou sem emprego no estado o que representa um percentual acima da média nacional, que ficou em torno de 8%. O que a secretaria tem feito para diminuir esses índices tão altos?
As opções feitas pelo governo federal foram de desindustrializar o país. É uma opção macroeconômica que escolhe não captar novos recursos para investir em grandes indústrias. Com isso você acaba gerando uma onda de desemprego. Ao desmontar políticas públicas como a da Rede Sine, cria-se uma restrição de possibilidade para o mercado, cria-se uma massa de desempregados que se vendem ao subemprego. Ao impor uma reforma trabalhista que precariza as relações de trabalho, você deixa de ter carteira assinada e empurra, novamente, para o subemprego. Todas essas medidas são uma onda nacional que atinge a Bahia, que é um estado que tem o tamanho de um país como a França. Um estado nordestino que se ressente dessas políticas de macroeconomia. Nossa opção é lutar contra uma maré pesada a partir de uma opção de política feita por um governo ilegítimo. Trabalhamos para minimizar esses efeitos. Entre janeiro e março deste ano recolocamos no mercado de trabalho mais de 11 mil pessoas. Na região Nordeste isso é um recorde.

 

Quais as políticas feitas que contribuíram para aumentar essa recolocação no mercado de trabalho formal?
A gente fez um trabalho de busca ativa e trabalho em conjunto. Não adianta abrir o Sine e receber o trabalhador sem treiná-lo como também não essa vaga anunciada no mercado de trabalho. Nosso trabalho foi de entender o perfil que o empresário precisa para uma vaga e qualificar o trabalhador para que ele ocupe esse espaço da melhor forma possível. A área do açougue, por exemplo, ela passa por modificações. A função tradicional do açougueiro passou apenas a ser apenas uma função. Hoje esse profissional precisa aprender a cortar a carne selecionada que será exportada, precisa desossar e saber transportar e armazenar a mercadoria com higiene. Queríamos entender melhor as necessidades específicas de cada setor. Fomos em setores como o de supermercados e fizemos uma oficina importante com o Recursos Humanos (RH), explicando e divulgando o funcionamento da Rede Sine. Também tratamos de vários temas que são caros à sociedade brasileira. No atendimento da Rede Sine em um estado negro como a Bahia você precisa ter um olhar que não seja um olhar excludente. Fizemos a mesma coisa com as pessoas que têm orientação sexual diversa, que adotam um nome social e com as pessoas gordas. Capacitamos a nossa equipe para entender as mudanças da nossa sociedade. Isso deu um saldo ativo. Para a mão de obra autônoma lançamos uma plataforma própria chamada de Contrate.ba. Temos clientes inscritos e profissionais que estão à disposição. A grade de serviços é bem variada. Temos de eletricista a cuidador de idoso. De pessoa que dirige carro a que pinta a parede. Isso vai garantindo que se preste serviços com intermediação do governo.

 

Quando a secretária Olívia Santana esteve aqui ela deu bastante foco a questão da economia criativa.  O próprio PCdoB se colocou como um dos partidos que colocaria a questão no programa político de ações. Como a economia criativa pode ajudar a solucionar o alto desemprego que temos no estado?
Há uma migração na economia mundial que vai emprego tradicional de carteira assinada para a geração de renda a partir de empreendimentos. Os empreendedores, os microempresários e as cooperativas estão criando uma nova forma de fomentar renda que não é necessariamente a tradicional. A Setre está atenta e por essa razão criou aqui na Bahia há 11 anos a Superintendência de Economia Solidária, braço que trata de empreendimentos de economia solidária. Nesse momento, na Bahia, estão dentro desse programa cerca de 40 mil famílias. Apesar do investimento da pasta no fomento dessas iniciativas temos uma dificuldade no final do processo que é comercializar o produto. Você fomenta no começo, emprestando a juros baixos e as pessoas não conseguem comercializar. Para solucionar, criamos um ciclo que pega toda a cadeia. Do financiamento, passando pela montagem da cooperativa até a comercialização. Em Salvador temos dois postos de venda dos produtos que vem da economia solidária. Duas lojas em shoppings grandes em que empreendimentos do interior do estado comercializam seu produtos na capital. Além disso promovemos ações no aeroporto e feiras também em shoppings, como o festival de economia solidária. Na iniciativa, a Setre monta as barraquinhas, paga a hospedagem e os empreendimentos vêm até a capital e vendem seus produtos. É uma relação muito boa de rede entre empreendedores solidários que sustentamos.

 

O secretário falou de algumas razões nacionais para o desemprego na Bahia. Mas no estado a questão está acima da média nacional. Quais fatores são apontados pelo senhor como responsáveis pela dificuldade de reduzir essa taxa?
Na região Nordeste tínhamos políticas públicas relacionadas à geração de emprego integradas ao governo federal. Quando você desmonta a política nacional, quem mais sente o impacto é quem é maior e quem dependia mais dessas políticas. Nós temos investimentos do estado para construções de hospitais e de estradas, mas isso se mostra insuficiente em função de uma onda nacional. O que tenho para dizer é que a onda do desemprego bateu mais forte aqui do que em outros estados.

 

A prefeitura de Salvador está construindo uma nova piscina olímpica na cidade. Como a secretaria vê essa iniciativa? Existe uma competição entre as piscinas da prefeitura e do governo, localizada no Bonocô, ou o novo equipamento vem para agregar?
A gente enxerga o projeto com bons olhos. Essa é uma das piscinas usadas na Olimpíada do Rio de Janeiro. A doação vem somar um equipamento importante para a Bahia, estado que possui poucas piscinas para a prática esportiva. Está nos planos da Setre a construção de outras piscinas em outras cidades. É importante ter esse equipamento para a prática do esporte pela população seja para a modalidade de alto rendimento, seja pelo esporte da participação. Eu recomendo para que as prefeituras tenham esse olhar de fomentar a prática do esporte no alto rendimento, mas também para uso das escolas que desejam utilizar o equipamento.

 

Em quais outras cidades a secretaria pretende instalar o equipamento?
Existe a reivindicação de vários municípios para a construção de piscinas. Normalmente decidimos a partir de diálogos com as prefeituras e com as federações, que tem seu próprio planejamento e organiza os campeonatos para atletas de alto rendimento. As escolhas são feitas a partir do local de origem de atletas altamente ranqueados em uma região, levando em conta os deslocamentos e a possibilidade de se realizar competições. As reivindicações chegam em grandes quantidades. Todo prefeito prefeito quer ter uma piscina olímpica em seu município, mas não é possível fazer para todos. Nesta fase inicial do nosso planejamento construímos uma em Salvador, que está no Bonocô e outra que está no Centro Panamericano de Judô, que atende Lauro de Freitas.