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Coletivo investe em rap, solidariedade e educação para 'mudar a cara' de Pernambués

Por Lara Teixeira

Coletivo investe em rap, solidariedade e educação para 'mudar a cara' de Pernambués
Foto: Divulgação / Matheus Santos

Misturando rap, educação e valores, o coletivo Hip Hop Pernambués foi criado por cinco jovens em maio de 2018 e tem o intuito de movimentar e mudar a imagem que é passada sobre o bairro de Salvador. 

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Vitoria Cardoso, produtora cultural do coletivo, explicou que projeto começou com a vontade dos integrantes em realizar uma batalha de rimas e de MCs no bairro de Pernambués, mas durante o processo de criação da logística da batalha, o grupo pensou: "por que não fazer algo maior?".

 

Além de Vitória, o grupo é formado também por Anderson Santana, conhecido como 16 Beats, que é MC e responsável pela batalha da Santa Clara; Érick Alves, que é criador de conteúdo visual e grafiteiro do coletivo; Gabriela Bonfim, que atua como social media do grupo; e Pedro Henrique, fotógrafo oficial do coletivo. 

 

"Pensamos em fazer algo que agregasse mais valor à comunidade e foi aí que decidimos fazer o primeiro evento, que foi o 'Hip Hop Pernambués convida'", conta Cardoso. 

 

A primeira edição do evento aconteceu na Praça Santa Clara e, segundo Vitória, o dia contou com atividades para as crianças, feijão comunitário, alguns grupos de rap de Salvador e o destaque foram os três grafiteiros de da capital baiana que grafitaram a praça inteira. Vitória relatou que nesse primeiro evento o vereador do bairro chegou a apoiar, mas foi apenas neste. 

 

 

 

"Fomos percebendo a proporção que o evento tinha tomado no bairro e para se tornar mais formal decidimos criar o Instagram, Facebook e realizar as batalhas de rap às sextas-feiras, quinzenalmente, na mesma praça que foi revitalizada. Decidimos também cobrar doações de alimentos para quem tinha interesse em participar das batalhas. Junto a isso, fomos tendo novas ideias e recebendo ideais do público para realizarmos mais eventos junto com o coletivo". 

 

O segundo evento de maior porte do grupo seria para celebrar o Dia das Crianças, mas um imprevisto aconteceu. "Tínhamos feito todo o projeto, conseguido uma piscina de bolinhas e um pula-pula de graça, convidados todo mundo e, faltando uma semana, estava tendo em Pernambués uma guerra de tráfico. Fomos avisados por eles mesmos que seria desvantagem e para não acontecer coisas agravantes seria melhor cancelar o evento", relembrou Vitória. O coletivo acatou o pedido. A integrante do grupo informou que como eles já tinham muitos brinquedos e comidas, que foram arrecadadas durante as batalhas de rap, decidiram juntar com a última edição especial de 2018, mas desta vez não conseguiram fechar parcerias para os "brinquedões" gratuitos. "Mesmo sem as coisas, foi muito bom, porque as crianças estavam esperando por aquele dia e no final elas gostaram muito". 

 

 

Além dos eventos de lazer, o coletivo realizou um aulão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado em um colégio estadual do bairro. Segundo Vitória, "muitas pessoas se inscreveram, mas as que não foram, ficaram na expectativa para acontecer de novo". 

 

O coletivo já começou a planejar e realizar novos projetos em 2019. Entre eles, tem o cine comunidade, que tem como objetivo levar para a comunidade filmes com tema relacionados à realidade de Pernambués. "Os filmes serão com temáticas negras e sobre o dia a dia da periferia. O primeiro que queremos exibir é 'Pantera Negra', mas pretendemos também colocar alguns filmes brasileiros". Para conseguir realizar o projeto, Vitória confessou que o grupo ainda está buscando ajuda com alguns materiais, como um projetor, para que eles consigam exibir os filmes na própria praça Santa Clara, que foi revitalizada. 

 

Além do cine comunidade, os futuros projetos são: um "baba" beneficente, cobrando alimento como entrada, para conseguir arrecadar mais comidas para entregar para às famílias; o Dia das Crianças; pelo menos quatro aulões para o Enem; rodas de conversas e palestras; e uma "geladeira literária", que ficará na praça para quem quiser pegar um livro, ler e devolver. 

 

"Temos um cronograma montado até junho. Queremos fazer também um mutirão de grafite para revitalizar as outras praças e mostrar para a comunidade de Pernambués o que queremos fazer enquanto coletivo". 

 

Sobre o que o grupo espera conquistar em 2019, Vitória revelou um grande desejo: "Temos o intuito de virar uma ONG". A intenção é alugar um espaço físico para conseguir "firmar" a ONG, além buscar o apoio de alguma empresa que se interesse pelo projeto. "O que estamos carentes mesmo é de captação de recurso. A gente se inscreve em editais, mas nem todo retorno é positivo. Nossa maior angústia e expectativa é saber se vamos conseguir tirar todos os projetos que temos do papel". 

 

A produtora cultural aproveitou o espaço da entrevista para fazer um desabafo sobre a falta de retorno que o grupo sente. “A comunidade já percebe a importância do coletivo, mas as outras pessoas, como os vereadores e políticos, não percebem a importância, acham que são ‘apenas adolescentes fazendo rap’. A praça Santa Clara por exemplo era conhecida como Cracolândia de Pernambués, e depois que nós revitalizamos muitas pessoas foram tirar fotos profissionais, gravar clipe, filmagens, várias coisas, e estávamos nos questionando que até essas pessoas não reconhecem o nosso trabalho, e nós ficaríamos felizes com esse retorno. Depois da revitalização as pessoas perceberam o retorno que o nosso trabalho trouxe. Além das atividades físicas e culturais do bairro, nosso objetivo é que reconheçam que Pernambués tem suas coisas positivas e não é só trafico, drogas, assalto... A gente quer mostrar qual é a cultura do bairro, queremos que nosso bairro seja reconhecido por isso, não somente pelo rap, mas tudo que agregue na cultura do bairro”, relatou.