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Marca Bahia Notícias

Notícia

'Cordel' reencontra público em Salvador em show com menção à Marielle, Lula e MST

Por Francis Juliano

'Cordel' reencontra público em Salvador em show com menção à Marielle, Lula e MST
Foto: Francis Juliano / Bahia Notícias

Precisou oito anos para o Cordel do Fogo Encantado retornar. O local escolhido para o recomeço foi Salvador, onde o grupo enchia a mesma Concha Acústica, palco do show deste sábado (21), em noites dos anos 2000. "Nada é por acaso", disse no meio da apresentação José Paes de Lira, o Lirinha, o vocalista vulcânico da banda que surgiu em Arcoverde, no sertão de Pernambuco, e sacudiu plateias Brasil afora. Bastava olhar para o lado para se bater com órfãos da banda pelos degraus da Concha. Gente como a jornalista Ilana Campos que acompanhou a trajetória do grupo deste o início. "Eu conheci o cordel no começo da década de 2000 e me encantei pelas músicas, pela aquela atmosfera de Nordeste, só parei de acompanhar quando eles terminaram a banda. Aí, quando começou essa movimentação toda da volta deles, eu passei a ouvir de novo. Quando anunciaram então que reestreariam em Salvador, fiquei super superempolgada", comentou Ilana em entrevista ao Bahia Notícias.

Ilana Campos/Foto: Francis Juliano / Bahia Notícias

 

Com o apoio nos vocais de Izadora Menezes, a formação do grupo vinha intacta. Lirinha, na voz; Clayton Bastos, no violão; Emerson Calado, Nego Henrique e Rafa Almeida na percussão. Os três últimos davam a pulsação, permeadas por pontos de candomblé e umbanda e som de maracatu. O show "Viagem ao Coração do Sol", quarto trabalho do grupo, começou trazendo uma das apostas do álbum, a música "Liberdade, a Filha do Vento". Nem todo mundo tinha a canção na ponta da língua, mas foi logo Lirinha entoar o poema "Ai se sesse", um dos sucessos do primeiro CD, de 2001, que leva o mesmo nome da banda, para a conchar cantar junto. A partir daí, o show segue intercalando um bloco de músicas inéditas com sucessos. Irrequieto e com atitude em cima do palco, Lirinha presta homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro há mais de um mês. É para ela a música "Conceição ou Do Tambor Que Se Chama Esperança".

Foto: Francis Juliano / Bahia Notícias

 

Na plateia, o cordelista pernambucano radicado na Bahia, Maviael Melo, elogia o retorno do grupo. "Essa volta deles depois desse tempo é muito importante para a música brasileira como também é bom para o momento do país. Porque é preciso que artistas se posicionem com verdade, com seriedade e falem também sobre o que está acontecendo", disse Maviael que teve uma música dele gravada neste álbum do Cordel, "Destilações". O público chega a entoar "Lula livre", em referência ao ex-presidente. Lirinha vira o microfone como se cedesse para o coro. Em outro momento, ele avista uma bandeira do MST, pede o pano e o enrola nas costas. O público aplaude. O show continua. Depois vêm mais sucessos, como "Os Oim do meu Amor", "Pedrinha", "Antes dos Mouros", "Chover". Durante toda a apresentação, apenas em dois momentos curtos, o vocalista saiu do palco para uma espécie de respiro. Deixa para um solo de Clayton que toca "Aquarela do Brasil", e para Nego Henrique e Rafa Almeida tirarem sons dos tambores.

Marlon Marcos/Foto: Francis Juliano / Bahia Notícias

 

Em uma dos degraus da concha, o antropólogo e poeta Marlon Marcos acompanha o show. Para ele, Bahia e Pernambuco, terra natal do Cordel, têm muita coisa em comum e precisam ser mais bem vistos pelo país. "A gente é inferiorizado politicamente e mesmo assim temos uma potência em criatividade. O povo diz que o Nordeste é o cu do Brasl. Não é. O Nordeste é o corpo inteiro. O Nordeste pensa e repensa o Brasil. É uma força muito grande", afirma. O show se aproxima do final quando Lirinha olha para o punho da mão e diz: "a Concha tem horário", o que faz o público gargalhar e lamentar ao mesmo tempo. Dali mais duas músicas e o tradicional bis. O Cordel está de volta.