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Coluna

Fala, Albuca!: Anitta é cultura?

Por Beatriz Albuca - @albuquerquebeatriz

Fala, Albuca!: Anitta é cultura?
Foto: Divulgação

Eis o novo marco: com “Envolver”, Anitta se torna a primeira artista brasileira, entre homens e mulheres a entrar para o top 10 do Spotify, equivalente ao que seria estar nos top hits da Billboard há algumas décadas. O barulho foi alto e as alfinetadas insinuam que a cultura brasileira está mal representada. Será mesmo?

 

Primeiro, o básico. Abrir a mente e abandonar essa confusão entre cultura e erudição é urgente e essencial para o desenvolvimento artístico nacional. Cultura, na definição antropológica mais aceita é um conjunto de hábitos, crenças e conhecimentos cultivados em um padrão estético semelhante. À grosso modo, são os padrões incorporados por um grupo social e transmitidos historicamente de uma geração à outra. Artistas como Anitta fazem sim parte da cultura popular brasileira e não devem ser subestimados por não representarem a cultura erudita, que segue um outro padrão estético. 

 

Segundo, entender a diferença entre entretenimento e cultura. De uma forma geral, o objetivo do entretenimento é divertir, sem necessariamente trazer referências culturais. No caso, se pensado por esse viés, uma musica pode ou não nos entreter, fazer ou não parte do nosso cotidiano, mas seu valor cultural não pode ser negado em função de um julgamento de valor unicamente pessoal e sem fundamento. Um bem cultural material ou imaterial está atrelado à identidade de um povo, é um meio de comunicar uma mensagem e de preservar um saber, como é o caso do funk.  

 

Então cultura não é o que eu gosto ou deixo de gostar, vai além da esfera pessoal. Anitta criou uma identidade artística, uma estética própria a partir de elementos menos explorados da cultura brasileira como o cotidiano da vida na favela.

 

Veja “Girl from Rio” e entenda como ela se afirma enquanto figura representativa da cultura brasileira. Só alguém que tenha entendido a complexidade social do Rio de Janeiro, cidade que existe de Honório Gurgel ao Leblon, poderia ressignificar o clássico dos clássicos brasileiros transformando-o em uma releitura da sua cidade e de seu tempo, sem a romantização de Tom Jobim mas com uma lucidez raramente vista atualmente. Falar da garota do Rio é diferente de falar da garota de Ipanema. 

 

Abandonemos o complexo de vira-lata: sim, Anitta é cultura.