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Recordar e lutar sempre, para não esquecer jamais!

Por Marta Rodrigues

Recordar e lutar sempre, para não esquecer jamais!
Foto: Divulgação

Existem, na história, trágicos acontecimentos que muitos de nós preferimos deixar cair no esquecimento para evitar dor e o alongamento dos traumas. Mas quando estes episódios abalam nossa democracia – assim como o fez a ditadura militar – a recordação é uma das únicas maneiras de evitar que tais fatos tornem a se repetir.

 

Há pouco mais de uma semana, completou-se 17 anos de uma data histórica para Salvador: o 16 de maio de 2001. Naquele fatídico dia, centenas de estudantes, manifestantes e cidadãos baianos lutando contra a corrupção sentiram na pele as dores de um período que acreditavam ter sido superado: a opressão, a tortura e a violência tal como na ditadura militar. 

 

O cenário foi o Vale do Canela, mais especificamente o viaduto Nelson Sampaio. Um grupo de milhares de pessoas, indignado com a violação do painel eletrônico do Senado federal pelo então senador Antônio Carlos Magalhães - conhecido coronel baiano cujo histórico é repleto de  acusações de atrocidades – marchava em direção ao prédio do político, no Edifício Stella Maris, na Graça, cortando caminho pela Faculdade de Direito da Ufba, para pedir a cassação do político.

 

Tratava-se de um caminho estratégico, pensado pelos organizadores do movimento, já que, dias antes, o mesmo grupo havia sido impedido de adentrar na Graça –  um logradouro público, diga-se de passagem – pela PM do então governador César Borges, aliado de ACM. Crendo que a Constituição seria respeitada, os manifestantes entendiam que a PM não adentraria em território federal (UFBA).

 

Mas, na verdade, uma emboscada já estava montada para os manifestantes. Quando desciam o vale do Canela e se aproximavam do viaduto para entrar na Faculdade de Direito, foram surpreendidos por uma tropa gigantesca de policiais militares formando um bloqueio.

 

A partir daí, se seguiram as cenas de horror: mesmo diante de diversas negociações de políticos de esquerda, a polícia não considerou a manifestação pacífica e avançou sobre os manifestantes, sem nenhum pudor, até mesmo dentro da instituição federal, dando início a uma pancadaria sem precedentes na história da democracia soteropolitana. Eram PMs jogando bombas de gás e, de cima de seus cavalos, descendo o cassetete nos estudantes. Nitidamente, acatavam a ordem do senador ACM, que, naquela época, detinha enorme poder político na Bahia.  Os estragos na Ufba foram enormes, assim como os traumas e as feridas nos manifestantes.

 

Em 2009, na minha primeira legislatura na Câmara Municipal de Salvador, apresentei um projeto de indicação aprovado na Casa para que o viaduto passasse a se chamar 16 de Maio. Na época, obtive a garantia do então prefeito João Henrique que haveria a implantação. Não ocorreu.

 

Não acredito que irá ocorrer, agora, com o atual prefeito. Mas é importante frisar que muitos dos nossos jovens, que naquele ano desfrutavam da inocência da infância, desconhecem o ocorrido, embora transitem praticamente todos os dias por aquele viaduto que leva à Universidade Federal da Bahia.

 

Por isso volto a repetir que episódios como o ocorrido no dia 16 de maio de 2001 devem nos servir para promover as mudanças e para que não esqueçamos jamais daqueles que nos oprimiram e nos torturaram na nossa luta pela democracia. Reitero, nesse artigo, a necessidade de nos unirmos para exigir que determinados locais de nossa cidade, palco de confrontos em prol da democracia, tenham suas memórias trazidas à tona. Só assim faremos da nossa luta um marco na nossa história. O viaduto do Canela é, e sempre será, Viaduto 16 de maio! Lutar sempre. Esquecer jamais!

 

* Marta Rodrigues é vereadora de Salvador pelo PT e líder da oposição na Câmara de Salvador

 

* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias