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Os sonhos adiados de Macbeth

Por Taurino Araújo

Os sonhos adiados de Macbeth
Foto: Acervo pessoal

Meu artigo de Feliz Ano Novo amplamente divulgado nas redes sociais foi um sucesso. Fico feliz! Coisas do jornalismo de opinião. Quem tinha os contatos ligou e passou zap, os novos conhecidos se valeram de e-mail, inbox e coisas assim.  Leitores tímidos pediram anonimato.

 

Um deles, muito arguto, culto, simpático e sagaz, sintetizou desafios, criatividade e habilidades em minha fala e me desafiou a escrever estes “Os Sonhos adiados de Macbeth”, a partir de Shakespeare.

 

Professor universitário. Figura de nosso tempo que odeia propaganda. A vida parou em 1998. Ouriços, espinhos e uma convicta aversão à criatividade, proveniente de trauma causado pelos veteranos de 1985: “recolha-se à sua insignificância”! Isso acabaria por comprometer-lhe a conclusão do doutorado.

 

Passou a duvidar até mesmo da notoriedade das evidências: “Vetupério not notable”! É vitupério, professor, escrito com i! O inconsciente lhe retraumatizava a dificuldade em lidar com a ansiedade, com o novo sentido na vida e a excitação para retornar ao fluxo criativo, e vencer a procrastinação eterna que o levara a sempre adiar, tudo para evitar críticas que acabavam acontecendo. Melhor seria investir em novas habilidades.

 

Rollo May postula que a opção por uma vida plena, pela novidade e os riscos inerentes a tal aventura não deve ser considerada “uma carga que lhe foi imposta, mas como um valor por ela escolhido”: “o homem não cresce automaticamente como uma árvore, mas realiza suas potencialidades somente quando planeja e escolhe” e caso “não preencha suas potencialidades como pessoa humana, torna-se limitado e doente”. Morre!

 

Dado o vaticínio de 1985, ele se tornou patrulheiro da própria doença que nunca e jamais lhe deu trégua, pois a pulsão de vida é criar, e o recolhimento é morrer. Vida desperdiçada e abraçada a essa falta, à aceitação dos veteranos, à porta que nunca se lhe abre, enquanto a vida segue com poesia.

 

“Sabes que poesia é algo de múltiplo; pois toda causa de qualquer coisa passar do não ser ao ser é poesia, de modo que as confecções de todas as artes são poesias. (...) (Platão, 1972, p. 43)”.

 

Pronto. meu querido leitor!

 

Shakespeare, na voz de Macbeth: “Ela deveria ter morrido mais tarde; /Haveria um tempo para tal palavra./ Amanhã, e amanhã, e amanhã/Arrastam-se nesse passo miúdo dia após dia/ Até a última sílaba do tempo narrado; /A nós, tolos, todos esses ontens iluminaram/ O caminho ao pó da morte. /Apaga, apaga, lume passageiro, /A vida é apenas uma sombra errante, um mau ator/ A se pavonear e afligir no seu momento sobre o palco/ E do qual nada mais se ouve. É uma história/Contada por um idiota, cheia de som e fúria,/Significando nada”.

 

É preciso chutar a porta com elegância para ter um assento entre vós? La Bruyère adverte: “quase ninguém descobre sozinho os méritos alheios”...

 

*Taurino Araújo é advogado, escritor, professor Doutor em Ciências Jurídicas e sociais e lifementoring consultant

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias