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Os riscos de miocardite das vacinas Covid-19 são menores do que os riscos da Covid-19

Por Fábio Vilas-Boas

Os riscos de miocardite das vacinas Covid-19 são menores do que os riscos da Covid-19
Foto: Bahia Notícias

O mundo ultrapassou cinco milhões de mortes por Covid-19, mas a resistência à vacinação continua a persistir, com muitos, inclusive o Ministro da Saúde e o presidente do Brasil, citando preocupações sobre os efeitos colaterais e potenciais efeitos desconhecidos de longo prazo. Entre os efeitos colaterais adversos das vacinas de RNA mensageiro (mRNA) contra Covid-19 que receberam alguma atenção está a miocardite, uma inflamação da camada média da parede do coração causada por uma resposta imune a alguns vírus, certos medicamentos e algumas doenças autoimunes. O mecanismo da miocardite induzida pela vacina ainda é desconhecido, mas pode ser causado pela proteína spike SARS-CoV-2 ou pela resposta imune após
a vacinação.

 

A miocardite pós vacina recebeu atenção recente depois que um estudo pré-impresso do Instituto do Coração da Universidade de Ottawa teve sua publicação retirada, devido a um erro de cálculo estatístico, que aumentou erroneamente a taxa de contrair a doença como um efeito colateral da vacinação contra Covid-19. Esse artigo relatou, incorretamente, o risco de um em 1.000 de miocardite como efeito colateral, o que foi subsequentemente promovido em blogs e sites de rede social como um motivo para desconfiar das vacinas para Covid-19. Ele também recebeu alguma atenção depois que Taiwan suspendeu a administração da segunda dose da vacina da Pfizer para pessoas com idade entre 12 e 17 anos devido a preocupações com miocardite.

 

Embora os casos de miocardite tenham sido relatados no Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) após aplicação de vacinas com base em mRNA, essas taxas foram menores do que as relatadas no artigo retratado. A maioria dos eventos ocorreu em adolescentes do sexo masculino e adultos jovens após a segunda dose. O efeito colateral tem prevalência de cerca de 12,6 casos para cada milhão de doses administradas. Para homens de 12 a 29 anos, o grupo com as taxas mais altas de miocardite, estima-se que haja 39 a 47 casos para cada milhão de segunda dose administrada. A maioria dos pacientes com miocardite relacionada à vacina que recebem cuidados respondem bem e se recuperam. Um estudo israelense de ressonância magnética descobriu que a maioria dos danos ao coração é leve, com resultados favoráveis, e nenhum efeito de longo prazo é esperado.

 

As vacinas Covid-19 da Pfizer e da Moderna foram associadas à miocardite, mas as taxas são mais altas para a vacina da Moderna do que para a vacina da Pfizer. Há dez casos adicionais da doença para cada 100.000 inoculações de Moderna entre homens de 12 a 29 anos. Deve-se considerar, no entanto, o fato de que a vacina da Moderna tem taxas mais baixas de doença grave após a vacinação do que a vacina da Pfizer, resultando em menos hospitalizações e mortes, o que supera o risco de miocardite. É importante notar que a Covid-19 também causa miocardite, com cerca de 28% dos pacientes hospitalizados apresentando sinais de lesão do músculo cardíaco. O risco da doença é cerca de 16 vezes maior em pacientes com Covid-19 do que nos não infectados, com relatos de pacientes internados para miocardite 42% maior no ano passado em comparação com 2019. Além disso, o risco de miocardite é 37 vezes maior para crianças com Covid- 19 do que em seus pares não infectados. Essas taxas indicam que os pequenos riscos de miocardite por vacinação ainda são superados pelos riscos de Covid-19.

 

Embora a miocardite possa ser fatal, a maioria dos eventos de miocardite associados à vacina são leves e autolimitados. O risco observado é pequeno e confinado ao período de 7 dias após a vacinação, enquanto o risco ao longo da vida de morbidade e mortalidade após a infecção por SARS-CoV-2 é substancial.

 

Como esclarecido acima, não há motivos para que crianças, adolescentes ou adultos jovens tenham receios de tomar a vacina contra a Covid-19. E as nossas autoridades governamentais, notadamente o Ministro da Saúde e o Presidente da República, precisam compreender a sua responsabilidade humanitária para com o povo brasileiro.

 

*Fábio Vilas-Boas é médico cardiologista e ex-secretário de Saúde da Bahia

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias