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O papel do médico veterinário na saúde humana - Por que tanto preconceito?

Por Altair Santana de Oliveira

O papel do médico veterinário na saúde humana - Por que tanto preconceito?
Foto: Divulgação

Com a definição de prioridades para as primeiras vacinações contra a Covid-19, os profissionais da saúde da linha de frente no combate da doença obviamente foram os primeiros escolhidos. Entre eles estão médicos-veterinários. Questionamentos surgiram na imprensa, sobre o porquê da inclusão desses profissionais. Vamos viajar um pouco no universo médico-veterinário para compreender?

 

A história da Medicina Veterinária encontra provas de sua aplicação desde as épocas antiga e medieval e, desde lá existem exemplos de uma íntima ligação entre doenças animais e doenças do homem. Atualmente não temos mais como dissociar a saúde animal da saúde humana e da saúde ambiental, sendo esta visão do conjunto denominada Saúde Única, ou One Health.

 

Em 2002, a OMS – Organização Mundial de Saúde-, recomendou que todas as políticas públicas de saúde fossem elaboradas e executadas com base nos princípios da Saúde Única.

 

Prova inquestionável dessa assertiva, é que cerca de 76% das doenças que acometem os seres humanos são zoonoses(doenças transmitidas do animal para o homem, e vive-versa), inclusive é o caso da COVID-19.

 

Em 1998, com a Resolução nº 287, o Conselho Nacional de Saúde reconheceu ser o médico-veterinário profissional da saúde pública. A partir desse reconhecimento, este profissional começou a compor as equipes de saúde do Ministério da Saúde e das Secretarias de Saúde Estaduais e Municipais, tendo importante papel na prevenção, controle e erradicação de endemias, notadamente no controle de zoonoses.

 

Com a pandemia do novo coronavírus iniciou-se profundas e amplas pesquisas no mundo científico para conhecer o vírus, descobrir a sua ampla ação deletéria no organismo humano, desenvolver medicamentos efetivos e criar vacinas confiáveis para ampla proteção da população e produzir soro contendo anticorpos. Muitos desses pesquisadores são médicos-veterinários.

 

A atual pandemia e a sua origem zoonótica fazem com que a participação dos médicos-veterinários nas políticas públicas de saúde ganhe importância inquestionável. Reconhecendo as ações e importância das atividades conduzidas por nossos profissionais, o Governo Federal, quando editou o Decreto nº 10.282/2020, incluiu nossas atividades como essenciais e que não poderiam ser paralisadas.

 

O espectro de atuação do médico-veterinário é muito amplo, especialmente na área de saúde pública. Como exemplo, ele faz parte das equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), conforme determinou a Portaria Interministerial nº 45, 12/01/2007 dos Ministérios da Educação e da Saúde, realizando ações de educação em saúde e visita aos lares brasileiros para prevenir e diagnosticar o risco à saúde pelas zoonoses, como: raiva, leptospirose, brucelose, tuberculose, dengue, zika, chikungunya  e febre amarela, dentre outras doenças que têm animais como hospedeiros ou vetores.

 

Vocês acham que qual seria o melhor profissional ao adentrar a sua residência e diagnosticar que o seu animal está doente e que essa doença é uma zoonose e que a família está em risco?

 

De acordo com a Lei nº 5.517/1968, o estudo e a aplicação de medidas de saúde pública no tocante às doenças de animais transmissíveis ao homem, é uma das funções do médico-veterinário, minimizando os riscos de exposição dos homens às zoonoses, decorrentes da crescente demanda por alimentos de origem animal.

 

O médico-veterinário atua em diversas frentes, inserindo-se em diferentes atividades desde a exposição aos tutores (donos) de animais, atendendo a serviços de urgência e emergência, exercendo o controle de qualidade de alimentos, a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal, até a vigilância epidemiológica e sanitária.

 

O Ministério da Saúde também reconheceu a essencialidade dos nossos profissionais quando os convocou para a linha de frente do combate à Covid-19, com a Portaria nº. 639, de 31 de março de 2020, que dispõe sobre a Ação Estratégica "O Brasil Conta Comigo - Profissionais da Saúde", voltada à capacitação e ao cadastramento de profissionais da área de saúde, para o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.

 

São mais de 80 áreas de atuação para os médicos-veterinários, todas elas tendo como foco defender a saúde e o bem-estar animal, com o objetivo final de proteger a saúde humana, e eu me pergunto: por que tanto preconceito, quando esses profissionais são incluídos na lista de prioridade como profissional da saúde? E eu mesmo respondo: por ignorância.

 

Agora não são mais!

 

*Altair Santana de Oliveira é médico-veterinário, auditor fiscal federal agropecuário e presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-BA)

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias