Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias
Você está em:
/
Artigo

Artigo

Pensando alto: eu sou muito inocente ou as pessoas são muito maliciosas?

Por Marta Castro

Pensando alto: eu sou muito inocente ou as pessoas são muito maliciosas?
Foto: Acervo pessoal

Quando fala Odebrecht, o que vem a sua cabeça? Muitos devem estar pensando “Lava Jato”, mas tenho certeza que muitos, muitos mesmo, em especial os que foram funcionários, clientes, prestadores, pensaram em profissionalismo, dedicação, compromisso, dentre outros adjetivos.

 

A lava jato envolveu cerca de 70 executivos dentre 180 mil colaboradores que nada tinham a ver com isso e ficaram órfãos dos seus empregos, dos seus líderes e da sua cultura. Eu seria uma delas se, há cerca de 11 anos atrás, não tivesse deixado a empresa para empreender. Deixei de ser integrante para ser prestadora de serviços e em ambos os papéis, só tenho elogios e gratidão.

 

Mas porque trago isso agora? O assunto já não estaria frio? Pois bem, por vários motivos: primeiro, meus estudos recentes na faculdade de psicologia sobre cultura organizacional têm me mobilizado e a Tecnologia Empresarial Odebrecht – TEO é minha referência; segundo, pelo fato da Odebrecht pela primeira vez ter aberto processo seletivo para seu CEO e estar com dificuldade de encontrar um e eu temo que a cultura se perca; por fim, pelo recém lançado livro da Jornalista Malu Gaspar sobre o Grupo e a família Odebrecht.

 

Vou focar no terceiro. Já comprei em pré-venda o livro “A Organização: a Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo”. Antes que o livro chegasse, ouvi o podcast da entrevista de Pedro Bial com a autora e não pude deixar de me incomodar. Já passei da fase da negação (sim, no início custei a aceitar, acreditar), mas mesmo sabendo do esquema de corrupção, não consigo aceitar a exposição dos problemas familiares e nem entender como a TEO pode ser tão distorcida, como se ela fosse o mal que justifica o que aconteceu. Ou eu sou muito inocente ou as pessoas são muito maliciosas...

 

Usar a TEO para justificar os erros dos executivos é como usar a Bíblia para justificar os assassinatos da Igreja Católica na inquisição ou o Alcorão para justificar ataques terroristas. O falecido professor Antônio Carlos Gomes da Costa, autor de vários livros sobre educação e com uma participação em vários programas nacionais e internacionais, dizia que se Dr. Norberto Odebrecht não fosse um empresário tão da execução, com certeza figuraria entre os grandes teóricos da administração de empresas. Tido como um homem à frente do seu tempo, criou na década de 40 um modelo de gestão empresarial e social muito alinhado com tudo que hoje figura como administração contemporânea no texto e na fala de acadêmicos e outros especialistas. E por isso a TEO continua atraindo a admiração de muitos empresários.

 

Na semana passada, por exemplo, fechei um ciclo de planejamento com um cliente da área de engenharia industrial, que também estava com proposta de uma conhecida consultoria nacional. E ele nos disse com todas as letras: “escolhi vocês pela TEO”. Estou esta semana em negociações avançadas com um outro cliente, fornecedor de materiais, que quer trabalhar liderança e meritocracia e se identificou com o Instituto Planos, por conta da TEO: “falamos a mesma língua”. O Instituto Planos é a empresa da qual faço parte desde que deixei a Fundação Odebrecht, e que leva a TEO para outras empresas. Na verdade, adotamos a THOR – Tecnologia Humanista Orientada para Resultados. Mas não mudamos o nome por conta do que vão pensar. Mudamos porque a TEO é da Odebrecht e porque agregamos conteúdos de outras fontes, além de metodologia e sistemas que garantem a transparência e a segurança empresarial dos nossos clientes. Mas a nossa base é, sim, a TEO.

 

Vou pegar um exemplo do que escutei e de como as palavras podem ser distorcidas. A TEO substituiu o organograma vertical por uma macroestrutura horizontal. Mais do que virar o papel, essa mudança traz em si uma série de significados, que para explicar em detelhes precisaria de um artigo exclusivo, pois é de uma riqueza enorme. A macroestrutura substitui os níveis hierárquicos por âmbitos de atuação, que são três: empresarial-operacional, onde os colaboradores devem assegurar a sobrevivência da empresa, ou seja, resultados de imagem, produtividade e rentabilidade com liquidez; o âmbito estratégico-empresarial, onde os líderes devem assegurar o crescimento da empresa, focando em identificar e formar novos e melhores integrantes e cuidar do patrimônio; e o âmbito político-estratégico, onde os líderes devem (ou ironicamente deveriam) assegurar a perpetuidade da empresa, focando em identificar novos e melhores líderes e atuando como guardiões da cultura. No podcast (e provavelmente no livro) deram a entender que o âmbito político-estratégico era o espaço de negociações e articulações políticas. O político, na essência da TEO, significa que os que ocupam este âmbito, para a assegurar a cultura, devem cuidar das políticas internas que assegurem os princípios essenciais, conceitos fundamentais e critérios gerais da empresa. E o estratégico, por sua vez, fala de formar pessoas, porque Dr. Norberto Odebrecht, com sua base humanista, acreditava que os seres humanos são o princípio e o fim de todas as coisas numa organização e por isso é estratégico formar pessoas. Parêntese: ironicamente ele estava certo quanto ao fim.

 

Outra fala trouxe o fazer o que é o certo para a Organização. A jornalista dá a entender que os fins justificam os meios. Na verdade, fazer o que é o certo é uma expressão que surge para acabar com “disses-me-disses” e protecionismo. Quando existe uma divergência, uma dúvida, uma diferença, pensar em todos e no todo é a base para decidir. Fazer o que é o certo é então um convite a olhar sistemicamente e no longo prazo. Pena que os delatores distorceram isso, assim como a autora.

 

Ainda nessa linha, quando a TEO diz que “o cliente tem nome e sobrenome”, está falando de pessoas que servem pessoas. Essa personalização é hoje a base do marketing moderno, mas está sendo distorcida como uma orientação para torca de favores.

 

Como meu colega Álvaro Oyama bem falou, não devemos julgar um passado distante com valores e leis do presente. Os sucessores, sim, podem, devem e estão sendo julgados por isso. Mas respeitem o fundador.

 

Religião? Lavagem cerebral? Essas ofensas fazem sentido em parte, para os que não entendem a TEO. Ao longo dos tempos bons e ruins da Odebrecht muitos oportunistas, internos e externos fingiram entendê-la. Mas muitos são os que a conhecem na essência e tomaram a decisão consciente de segui-la. E criticá-la para Dr. Norberto, quando era pertinente. Cito aqui os queridos, alguns já mencionados neste artigo, como o Professor Antônio Carlos Gomes da Costa, Antônio Carlos Viard e Jairo Machado, que a traduziram para mim; meu sócio Angelo Veiga, multiplicador incansável dos valores e práticas da TEO; tantos ex-colegas de organização, que hoje são profissionais muito valorizados pelo mercado. E eu, essa pessoa que vos fala, que não sou ingênua, mas também não aceito injustiças.

 

*Marta Castro é sócia-diretora do Instituto Planos, Consultora Empresarial, Coach Executiva e Facilitadora de Grupos

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias