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Pensando alto: alguma coisa não fecha...

Por Marta Castro

Pensando alto: alguma coisa não fecha...
Foto: Acervo pessoal

É isso mesmo ou se sou eu que estou viajando? Mas alguma coisa não fecha nesta história...

 

Na última sexta estava assistindo a um evento on-line da HSM, maior empresa de geração de conteúdo de gestão do Brasil. O evento, chamado “Retiro Gravidade Zero: uma saída do lock down para o open mindset”, tinha como objetivo ajudar os participantes a navegar em contextos de incerteza e a reconectar com áreas que demandam mudanças para nossa evolução individual e coletiva.

 

Eu estava em êxtase por ver os temas que acredito e que venho estudando chegando a CEOs, CFOs, CMOs, “CtudoOs”. Quando falava destas coisas, as vezes me sentia incompreendida no meu próprio círculo profissional, familiar e de amigos. Eu vibrava em pensar que lideres estavam se conectando suas humanidades e com a espiritualidade para construir uma nova forma de fazer gestão, de empresariar e empreender. 

 

E o evento em si já quebrava vários paradigmas, anunciando uma nova era. Era gratuito e estava sendo anfitriado por Murilo Gun e Rafa Brites. Ele, nordestino, trajava camiseta de malha e sandália “de dedo”. Ela, mulher, gaúcha, de jeans e tênis. Ambos com menos de 40 anos. Eles recebiam palestrantes, alguns internacionais, para falar de temas como inteligência do coração, respiração, meditação, cooperação, intuição e consciência. Os eventos de gestão até então eram extremamente caros, cheios de gente elegante, conduzidos por homens de ternos, falando de temas áridos. Que mudança!!! 

 

Mas eis que no meio desse gozo existencial-profissional, minha filha vem tristonha me contar de rumores sobre a venda do colégio que ela estudou, um dos poucos aqui de Salvador de base humanista. Este colégio, como outros, já vinha nos últimos anos adotando módulos e planos de ensino engessados, e reduzindo os projetos interdisciplinares que estimulavam competências como criatividade, inovação, liderança e relacionamento interpessoal.

 

Enquanto minha filha falava de um lado e Murilo Gun falava (no site da HSM Now) do outro, me dei conta do abismo que se abria diante dos meus olhos: o mundo está mudando, o mercado de trabalho está mudando, mas nosso empresariado e a nossa educação não acompanham. Uns porque não enxergam a mudança, outros porque não valorizam a mudança.

 

As transformações em curso são tecnológicas, mas também e acima de tudo, são comportamentais. Não adianta ofertar aulas de computação ou de robótica se a formação segue massificada, hierarquizada e competitiva. Não por acaso a escola se tornou desinteressante para os jovens mais interessados.

 

Como consultora e facilitadora de grupos, apoio empresas na árdua tarefa de treinar e desenvolver seus colaboradores. Por que árdua tarefa? Porque cada vez mais as pessoas chegam para trabalhar sem uma boa formação escolar (e às vezes familiar) e resta à empresa suprir este “gap” educacional, emocional e cultural. Esperamos criatividade de colaboradores que na escola não podiam sequer escolher o que  vestir. Esperamos inovação de colaboradores que na escola não podiam errar. Cobramos proatividade de colaboradores que na escola  eram avaliados exclusivamente por notas de provas estritamente conteudistas.

 

Os grandes grupos econômicos travestidos de educacionais que estão comprando nossas escolas e faculdades ofertam credenciais mas não valorizam o desenvolvimento de habilidades. Muitos estão prestando um desserviço aos seus clientes, mas eles só vão perceber isso lá na frente, quando as portas se fecharem. E a escola pública, então, sofre mais ainda, correndo na esteira sem sair do lugar.

 

E o que é pior, os pais muitas vezes são omissos, cúmplices desse modelo de formação esquizofrênico e inútil.

 

Precisamos levar para a escola matérias e metodologias do novo mundo, que valorizem o que realmente importa para a sociedade. Ou então promover em paralelo o desenvolvimento das competências necessárias ao trabalho (e à economia) do futuro, colocando nossos filhos em programas complementares como aulas de arte, trabalhos voluntários e de estímulo empreendedor. Foi o que eu fiz.

 

A desconexão entre o que o mundo precisa e o que os programas educacionais ofertam é a matemática que não fecha, é a história sem sentido. Afinal, segundo Murilo Gun, “a única maneira de superar o robô que vai fazer sua tarefa no futuro é abraçando ele.”

 

*Marta Castro é mãe, mulher, educadora, Consultora Empresarial, Facilitadora em Desenvolvimento Humano e Coach Profissional

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias