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O Baile dos juros altos chegou ao fim. E agora?

Por Leonardo Souza

O Baile dos juros altos chegou ao fim. E agora?
Foto: Divulgação

Quem não gosta de um baile tradicional? Ambiente chique, pessoas bem vestidas e uma música suave e lenta para as pessoas dançarem. Porém, com o passar dos anos, e as mudanças culturais, o antigo baile foi dando lugar a uma pluralidade de festas, com músicas mais agitadas e passos de danças cada vez mais rápidos. Temos os bailes funks no Sudeste, as festas juninas por todo o Nordeste e as baladas pelo Brasil afora, com suas noites agitadas pela batida das músicas eletrônicas.

 

Você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com o mercado financeiro, e, principalmente, o que você tem a ver com isso.

 

Pois bem, vou te contar o que está acontecendo: o Brasil sempre viveu o baile dos juros altos, e com isso os investidores bailavam com os altos retornos da renda fixa, sem a necessidade de dar passos mais arriscados na renda variável.

 

Mas o Banco Central brasileiro começou a mudar o tom em 2016, dando início a uma sequencia de 12 cortes na taxa Selic (nossa taxa básica de juros). Nesse período, a taxa de juros caiu para 6,5% ano. De maio de 2018 até junho de 2019, a taxa foi mantida no mesmo patamar. Foram 10 encontros do Copom (Comitê de Política Monetária) sem alterações na Selic.

 

No final de julho do ano passado, o Copom voltou a reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual, para 6% ao ano. Em dezembro, a taxa já estava a 4,5% ao ano. E neste ano, com a crise provocada pela pandemia, a batida acelerou ainda mais. Atualmente, a Selic está em 2,25%, e com reais possibilidades de novos cortes.

 

Com a taxa Selic chegando a níveis mais civilizados de maneira sustentável, os passos do baile dos investimentos começam a mudar completamente. Com o IPCA (índice oficial de inflação) acumulado dos últimos 12 meses em 1,88% e a Selic a 2,25% ao ano, se levarmos em conta a tributação mínima de 15% do lucro, já podemos considerar que estamos com juros reais (rendimento líquido – inflação) negativos no Brasil.

 

Ou seja, o investidor terá que diversificar e começar a tomar risco para poder ter rentabilidade; será preciso acelerar o passo e entrar na balada do risco.

 

Podemos considerar que a renda variável no Brasil alcançou o status que os gringos chamam de TINA.

 

TINA é uma sigla para There Is No Alternative. Para quem busca rentabilidade de longo prazo, não há alternativa que não passe pela alocação em renda variável em sua carteira.

 

Mas diferente da “valsa” da renda fixa, em que mesmo os neófitos conseguem participar do baile sem fazer feio, na dança dos investimentos de risco não dá para “arranhar” uma dança sem treino, a prática é determinante não só para dançar, mas para ser manter em pé.

 

Se você está pensando em acelerar o passo e mudar de ritmo, estude e conheça o seu perfil de investimentos.

 

Até os investidores mais conservadores, que só gostam dos bailes tradicionais, podem investir 5% do seu dinheiro em renda variável. Já os moderados, que gostam da moda antiga, mas também curtem um forró, funk ou música eletrônica, podem aplicar 15% nesses produtos, e os mais arrojados, 30% ou mais. Tudo, claro, pensando no longo prazo.

 

Para quem pretende dar os primeiros passos na renda variável, minha sugestão é começar a dança através de fundos. Uma boa opção são os FOFs (funds of funds ou fundos de fundos), pois o investidor consegue ter acesso, através de um único veículo, a gestão de uma equipe experiente e uma carteira diversificada.

 

Mas para quem quer e gosta de comprar ações diretamente na bolsa, a sugestão é começar por empresas sólidas, líderes nos seus respectivos setores, que possuam vantagens competitivas, caixa robusto, baixo endividamento, altas margens de lucro e consistência na rentabilidade ao longo dos anos. Nos fundos imobiliários, busque gestoras qualificadas, com equipe de gestão conceituada, e de preferência aos fundos que tenham consistência nos pagamentos de rendimentos.

 

Por via das dúvidas, não precisamos – e não é recomendável – abandonar o baile tradicional. Mantenha uma reserva de emergência e algum dinheiro em “caixa” para aproveitar oportunidades pontuais. E, como seguro morreu de velho, tenha um pouco de ouro e outras proteções na sua carteira de investimentos.

 

Por último e não menos importante, se não sabe dançar mais rápido, não há demérito em procurar ajuda, pelo contrário, é fundamental que o faça. Converse com um especialista, pesquise e estude. Com a Selic nesse nível, definitivamente não há mais espaço para amadores. Provavelmente você precisará se tornar um Pé de Valsa. Boa sorte e ótima dança.

 

*Leonardo Souza é sócio da BP Money e bacharel em Ciências Contábeis com MBA em controladoria e finanças. Possui as certificações na área financeira CNPI, PQO, CPA-20 e Ancord

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias