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A aviação pós-pandemia

Por Davidson Botelho

A aviação pós-pandemia
Foto: Divulgação

Ontem assisti uma live com os CEOs das três maiores empresas aéreas do Brasil. Na ordem, gostei mais do representante da Gol, Azul e Latam. Todos foram otimistas, sensatos nas colocações e passaram um cenário muito real.

 

Com a minha humilde experiência neste setor, tenho minha opinião sobre o futuro deste importante seguimento da nossa economia.

 

Primeiramente eu acho que a aviação não é só uma atividade econômica. É um importante instrumento ou ferramenta para promover cultura, negócios, saúde, lazer e justiça social. Sem uma malha rodoviária capaz de atender as demandas do Brasil, e sem alternativas nos modais ferroviário ou marítimo, o transporte aéreo é o único a conseguir suprir as necessidades de um país com dimensões continentais, capaz de fazer chegar o remédio nas regiões amazônicas, a arte e a cultura em todos os estados com eficiência e ganho para os artistas e atores e fazer com que executivos consigam se deslocar para acompanhar seus negócios.

 

Mas o mundo está mudando e vai mudar mais ainda, assim como foi no pós-guerra e o transporte aéreo não passará incólume. Em todas as crises, o turismo e o transporte aéreo são os primeiros a entrar e os últimos a retornarem, ao contrário do setor de alimentação, até porque nós podemos deixar de viajar, mas de comer jamais.

 

O setor de cargas aéreas tende a crescer bastante por causa da efetividade do e-commerce, que já era uma realidade e passará a ser imprescindível. Mas eu vou pontuar mais alguns tópicos:

1. As viagens internacionais irão demorar pra voltar ao estágio anterior;

2. Cerca de 70% da movimentação do transporte aéreo é feito por pessoas jurídicas;

3. As empresas irão diminuir drasticamente as viagens dos seus executivos. Viagens só com muita necessidade, todas estão sofrendo com a perda de receita;

4. Não obstante a isso, todos nós estamos experts em realizarmos conferências e reuniões através desses aplicativos que viraram moda e terão vida longa. Confesso que atendem muito bem;

5. As empresas irão ajustar a oferta nos voos domésticos, que serão responsáveis pela captura quase que na íntegra das suas receitas, somando-se a cargas;

6. Temos a possibilidade de aumento de preço nas operações domésticas, principalmente por conta do aumento do dólar (não acredito em queda considerável), e pela fuga da receita internacional em moeda forte, o que ajudava no equilíbrio das receitas;

7. Dificilmente teremos aquelas viagens rápidas de ida e volta no mesmo dia;

8. As viagens de lazer terão uma forte procura logo que forem liberadas, pois quem tem dinheiro está ávido pra viajar;

9. Viagens de lazer tendem a aumentar sua participação na aviação e na hotelaria, e estes terão que adaptar seus preços, custos e produtos a esses clientes que não eram foco principal;

10. Sempre comparo a lógica de preço da aviação a da televisão. As Tvs precisam fazer gordura/caixa em alguns produtos/horários, justamente pra subsidiar alguns programas e horários extremamente deficientes. Por isso o JN ou o futebol têm tarifas tão elevadas, justamente pra manter a rentabilidade e assim manter os equipamentos ligados e oferecendo conteúdo aos telespectadores 24h. Na aviação também é assim, determinadas rotas e horários são extremamente rentáveis com um excelente Yeld (Metodologia de medição de receita na aviação, quanto cada passageiro paga com assento km voado). A aviação doméstica no Brasil concentra sua rentabilidade em cinco cidades chamadas; SUPER PONTES; São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e podemos também colocar Curitiba neste roll. Após feita a malha atendendo e priorizando essas cidades, complementa-se com as inúmeras outras cidades deste país continental e coloca-se as aeronaves em operação cerca de 12h a 14h por dia (funcionamento);

11. Um antigo chefe e profundo conhecedor do assunto, dizia que o termômetro da economia do Brasil era os estacionamentos de Congonhas e Guarulhos, pois quando as viagens diminuíam era evidente que o PIB também estava em queda, os negócios não estavam girando e nesses aeroportos concentravam-se uma considerável fatia do PIB brasileiro.

 

Serão tempos difíceis, mas que teremos que atravessar com maestria e muita criatividade e paciência. Eu já estou consciente disso e terei uma facilidade de adaptação, pois como motociclista só irei intensificar minhas viagens de moto e deixar a aviação para os longos trechos.

 

Tenham todos um bom voo!!!

 

*Davidson Botelho é empresário e foi representante e superintendente da TAM, diretor comercial e marketing da Webjet e diretor do Grupo Vasp

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias