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A sociedade precisa deixar para trás discussões vazias e focar no que é importante

Por André Brandão Fialho Ribeiro

A sociedade precisa deixar para trás discussões vazias e focar no que é importante
Foto: Divulgação

Ainda hoje, 4 meses após o aparecimento do Covid-19 na China e mais de 35 dias após a sua chegada ao Brasil, as redes sociais e os grupos de WhatsApp insistem em discutir um falso dilema:

 

manter o isolamento físico horizontal (para ficar no termo que se tem usado e que significa ‘de todos’, com exceção dos que exercem atividades ditas/classificadas por ‘essenciais’), salvado assim, milhares de pessoas do covid-19 e relegando-se, todavia, milhões à morte ante à crise econômica que se avizinha, consequência lógica do isolamento;

 

OU

 

salvar esses milhões com a retomada da economia, fazendo-se cessar, para tanto, o isolamento físico horizontal e se adotando o que se tem chamado de isolamento vertical (apenas daquelas pessoas apontadas como integrante de ‘faixas de risco’), ariscando, todavia, a vidas de milhares de pessoas que estarão expostas ao vírus.

 

O dilema, discutido com a mesma animosidade que permeou campanhas políticas recentes, posto em linhas claras está entre decidir sobre o que deve prevalecer; ou melhor, em favor do quê as medidas imediatas devem ser adotadas: da VIDA ou da ECONOMIA?

 

Analisado com um pouco mais de profundidade (e empatia, a despeito da descrença deste autor sobre as ‘boas intenções’ dos atores que, primeiro, partiram em sua defesa), pode-se até considerar que a defesa da ECONOMIA significa a defesa da vida de milhões que, lá na frente, sucumbirão à crise que vem a reboque do vírus.

 

Portanto, a questão que realmente estaria posta consistiria em optar entre a VIDA (de milhares agora) x a VIDA (de milhões, no futuro próximo). Adotar medidas que salvem milhares agora OU medidas que garantam a vida de milhões no futuro?

 

Tal dilema, contudo, é falso!

 

E assim o é porque oferece a quem se põe a decidir (especialistas de WhatsApp, redes sociais e o Presidente da República com suas atitudes pouco republicanas) um número limitado de opções (um ou outro) quando, na verdade, mais opções estão disponíveis, existindo, portanto, outras vias a serem percorridas e que, pasme, pode alcançar ambos os objetivos: Salvar milhares agora E milhões no futuro próximo! (um e outro)

 

Passemos a uma hipótese lúdica, ilustrativa:

 

Imagine uma carreta desgovernada, indo em direção a um sem número de pessoas que, a poucos metros de distância, atravessam o local por onde, inevitavelmente, a tal carreta passará. E imaginem que, poucos quilômetros à frente, número dezenas, centenas ou até milhares de vezes maior de pessoas também percorra o caminho da morte, por onde outra carreta também passará.

 

Não há qualquer dúvida, quando analisadas as hipóteses acima, sobre qual grupo de pessoas merece ações imediatas para que suas vidas sejam preservadas. E a resposta (que pode surpreender a tantos) e que se afina ao ofertado linhas acima é apenas uma: ambos os grupos.

 

Equivoca-se quem defende a supremacia da vida de milhões quando o custo está, justamente, na vida de milhares. E por um simples motivo: com o bem VIDA não se transige!  Não se pode moralmente conceber a possibilidade de salvar apenas um dos grupos sob os custos de deixar o outro fenecer.

 

Por óbvio que as medidas a serem adotadas, de pronto, serão – e deverão ser – diferentes: Para a salvaguarda das VIDAS de agora, medidas urgentes que ‘retirem as pessoas do caminho da carreta’; e das VIDAS do futuro, medidas, também urgentes, mas que tentem ‘frear’ a segunda carreta, criando ‘desvios e barreiras’ que evitem seu impacto nas pessoas lá à frente. Mas o certo é que, cientes de que, por um ou por outro motivo, pessoas estão correndo risco de terem suas vidas ceifadas, medidas devem ser adotadas de imediato, para o benefício de todos.

 

A Pandemia do Covid-19, equiparada à primeira carreta desgovernada, vem passando por cima, sem piedade, de todos (independentemente de sexo, idade, raça, credo, etc...), ceifando milhares de vidas! Por mais que a taxa de fatalidade do vírus seja maior para determinada faixa etária e para quem já possui comorbidades (doenças prévias que, de algum modo, debilitam ou enfraquecem o sistema imunológico), fato é (comprovado pelas milhares de mortes já computadas no mundo) que ele é capaz de levar a óbito, também, pessoas jovens e saudáveis.

 

Outro fato (apontado pela grande maioria da comunidade científica em saúde no mundo) é que não existem vacinas, drogas ou remédios capazes de debelar a infecção causada pelo coronavirus (fato contestado, em geral e apenas, pelos negacionistas, terraplanistas e pelo Presidente da República).

 

Diante, portanto, da inexistência (ainda) de agentes farmacologicamente ativos ou intervenções físicas comprovadamente eficazes, os mais respeitados órgãos de saúde do mundo, a exemplo da OMS, têm defendido, como melhor prática a ser adotada, a fim de se evitar um iminente colapso dos sistemas de saúde, e, assim, a morte de milhares de pessoas, o isolamento físico horizontal.

 

E o caos que se assiste, diariamente, na Itália, na Espanha e, mais recentemente, nos EUA, comprova – como alertado pela comunidade científica em saúde – a ineficiência da adoção do isolamento físico vertical.

 

Portanto, é certo concluir que, para salvar as VIDAS (de milhares agora), a melhor medida encontrada por todos os estudiosos do assunto no planeta é a manutenção do isolamento físico horizontal. Retirem-se, assim, as pessoas da frente dessa carreta, urgente!

 

Já quanto à recessão econômica, equivalente à segunda carreta da hipótese ilustrativa e que virá em razão da pandemia e das medidas de isolamento, deverá ser ela freada com medidas outras, que não perpassam pela suspensão ou mesmo mitigação do próprio isolamento horizontal.

 

Este ponto resta superado, sob pena de se transigir com as vidas de agora.

 

As medidas, que podem ser adotadas - em conjunto com o isolamento -, para salvar as VIDAS (de milhões, no futuro próximo) são inúmeras e já vêm sendo realizadas por todos os países atropelados pelo vírus. Governos têm injetado volumes sem precedentes de estímulos fiscais e monetários nas suas respectivas economias; taxas de juros têm sido reduzidas a zero ou próximo disso; linhas de crédito têm sido criadas; ajuda a indústrias, empresas e à população mais carente tem sido concedida.

 

O mundo, portanto, vem se livrando do inexistente dilema político-filosófico (tendo, por óbvio, concluído que não se pode escolher entre quem vive e quem morre), adotando, prontamente, tanto as medidas de isolamento físico horizontal quanto as medidas de combate à iminente crise econômica, preservando, assim, VIDAS agora E no futuro.

 

Se essas medidas são as mais adequadas, suficientes ou se outras tantas medidas ainda podem ser implementadas, é esse o atual ponto de inflexão, cabendo à sociedade dar um passo à frente na discussão, deixando para trás discussões vazias sobre a necessidade do isolamento físico (posto que superadas), voltando suas energias (e cobranças) à imediata implementação das medias de estímulo à economia e combate à crise, para que todas as vidas sejam preservadas, preparando-se, ainda, para enfrentar discussões mais importantes e amplas, tais como a importância e o futuro do SUS, a necessidade de estímulo a uma indústria nacional forte e a implementação de uma renda mínima aos necessitados.

 

*André Brandão Fialho Ribeiro é advogado

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias