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Aproveite a balada do dinheiro. A festa tá bombando e não tem hora para acabar!

Por Danilo Cesar

Aproveite a balada do dinheiro. A festa tá bombando e não tem hora para acabar!
Foto: Divulgação

“Mais uma dose, é claro que eu tô afim”.

 

Se for dose dupla então, melhor ainda; o importante é viver o momento. Depois da ressaca a gente pensa no amanhã, se é que vai ter amanhã.  

 

Imagine a seguinte situação: 

 

Você chegou na balada às 10h da noite. Chegou cedo para garantir o seu lugar - sabe como é, né: festa bacanuda, com tudo free garantido pelos anfitriões. Mas nem precisava, porque as portas estavam escancaradas; os caras liberaram geral. 

 

Não dava nem para acreditar: whisky 12 anos, vodca de primeira, cerveja puro malte (se bem que agora tudo é puro malte, né? rsrs), um monte de petisco legal… Coisa de primeira! 

 

Você foi a forra, sem acreditar. Quanto mais a galera bebia, mais os caras derramavam. 

 

Agora, perto de 4h da manhã, quando parecia que a cana iria acabar, os caras chegaram com uma carga nova; festa garantida! Aproveitem!

 

Só que o whisky “não desce” mais, a vodca já não faz efeito e a cerveja perdeu completamente o sabor. Mas nem tudo está perdido, trouxeram uma tequila de última hora, junto com um gin e umas garrafas de saquê. Ah, também trouxeram um DJ novo e aumentaram o som. Aproveitem! 

 

Você até deu uma animada com essa nova rodada, mas a verdade é que o álcool não faz mais efeito, a comida já não desce e você tá de saco cheio. Mas pensando bem, você vai ficar mais um pouquinho, porque não dá para dispensar uma mamata dessas. Só que tudo tem limite; daqui a pouco você vai dar no pé, porque tudo demais é sobra.  

 

Eu sei, eu sei, você deve estar se perguntando o porquê dessa estória doida e, principalmente, o que você tem a ver com isso. 

 

Vou te contar o que é que está pegando: tá rolando uma “festa” parecida no mercado financeiro internacional nesse exato momento, só que ao invés de distribuir bebida e comida, os “donos da festa” estão, literalmente, distribuindo dinheiro. Um caminhão de dinheiro para ser mais honesto.   

 

Veja, ainda ontem, o FED (banco central americano) anunciou um corte de 0,25% na taxa de juros dos EUA para tentar estimular a economia, que começa a dar sinais de enfraquecimento. Na semana passada, o BCE, banco central da Zona do Euro, anunciou que deverá cortar ainda mais a sua taxa de juros - que já está no campo negativo a algum tempo, e eu não vou nem mencionar o Japão, porque por lá, os caras não sabem o que é ter taxa de juros faz um bom tempo. 

 

O que isso quer dizer? Grosso modo, que se você emprestar dinheiro para o governo dessas regiões você não irá receber quase nada a mais por isso, ou, o que é pior, em alguns casos vai receber menos do que depositou. Pode?

 

Mas se não vale a pena emprestar para o governo o que fazer com suas economias então? Aplicar em ativos mais arriscados (como ações, startups e criptomoedas, por exemplo), capazes de gerar um retorno maior. E consumir, é claro. Afinal, ninguém é de ferro.  

 

Bingo! Essa é a receita por trás dos famigerados estímulos monetários, adotados pelos países desenvolvidos para estimular suas economias após a hecatombe gerada pela crise de 2008. 

 

A ideia genial é a seguinte: se a taxa de juros é baixa ou negativa, não faz sentido para o indivíduo deixar o dinheiro “parado” no banco. Logo, ele irá abrir uma empresa, comprar uma casa nova, trocar de carro, mudar o guarda-roupa… Enfim, as pessoas vão gastar mais, o dinheiro vai trocar de mãos mais rapidamente e a economia vai “bombar”. Simples assim.    

 

Ah, tem mais uma coisa. Se a taxa é zero e o “dinheiro é de graça”, as pessoas não só irão gastar todo o seu salário, como também poderão tomar uma grana emprestada para consumir ainda mais, ou investir em novos negócios, o que vai “bombar” ainda mais a economia. Fascinante, não?

 

Si, si, pero no mucho! 

 

A verdade é que a coisa tem dado certo até aqui. De fato, salvo algumas exceções, as economias dos países desenvolvidos têm crescido sob o efeito desses “anabolizantes”.

https://data.oecd.org/gdp/gross-domestic-product-gdp.htm

 

O problema é que estes estímulos, como o próprio nome revela, deveriam ser pontuais. A ideia dos iluminados que os conceberam era colocar as economias no eixo novamente e depois voltar à normalidade, ou seja, tal como um médico, aplicar o remédio na dosagem certa e suspender o seu uso depois que o “paciente” se recuperasse. 

 

O que eles não contavam é que o paciente ficaria viciado e, o que é pior, que precisaria de doses cada vez maiores para gerar efeitos cada vez menores.  

 

É neste estágio que estamos agora. A festa tem sido maravilhosa. As economias mostraram recuperação e os ativos de risco se valorizaram de forma espetacular - dá só uma olhada nas bolsas americanas nos últimos 10 anos. Contudo, os estímulos nunca foram retirados e os seus efeitos já não têm a força de antes. 

 

As principais economias do planeta têm mostrado claros sinais de desaceleração e, para piorar, a China, que tem sido o motor do mundo nos últimos 30 anos, já não avança na mesma velocidade. 

 

E qual a resposta dos bancos centrais? Se você pensou em mais estímulos, você acertou. 

 

Os caras vão colocar mais dinheiro na mesa e a festa vai continuar. É claro que num primeiro momento isso será muito bom, principalmente para os países emergentes, como o Brasil, porque aumenta o apetite por risco dos gringos, que pegam o “dinheiro de graça” lá fora, para aplicar numa taxa que, apesar de ser inacreditavelmente baixa para nós, é muito interessante para eles - não precisa ser gênio, 6% contra 0% faz toda a diferença. 

 

6%? É isso mesmo, você não leu errado. Ontem, o nosso Banco Central aproveitou a carona do FED e deu uma porrada de 0,5% na taxa Selic, reduzindo-a de 6,5% para 6%, numa tentativa de animar a nossa claudicante economia, que saiu da UTI, mas ainda não consegue caminhar “sem a ajuda de aparelhos”.  

 

Mas uma hora a festa vai acabar, esteja certo disso. 

 

Desde o fim do padrão-ouro, em 1971, o dinheiro não tem mais nenhum valor em si. O único valor que possui é a “confiança” que as pessoas têm na capacidade dos governos e bancos honrarem suas dívidas. Em outras palavras, para o sistema funcionar as pessoas precisam acreditar nele. 

 

O problema, todavia, é que à medida que os bancos centrais imprimem dinheiro violentamente, a desconfiança em relação ao sistema só aumenta, e como a confiança é a verdadeira moeda por trás do dinheiro como conhecemos, existe um sério risco dos anabolizantes (estímulos) provocarem uma overdose, resultando em colapso do sistema financeiro.

 

Apesar disso, eu não tenho a menor ideia de quando a festa irá acabar, assim como não tenho a menor ideia do tamanho da ressaca. Sendo assim, sugiro que aproveite ao máximo o momento, porque a tendência é que o dinheiro continue a jorrar por mais algum tempo, gerando grande valorização dos ativos de risco mundo afora, inclusive por aqui. Mas não vá com muita sede ao pote, seja cuidadoso e aproveite com responsabilidade. 

 

Por via das dúvidas, mantenha uma reserva de emergência e algum dinheiro em “caixa” para aproveitar oportunidades pontuais. E como seguro morreu de velho, tenha um pouco de ouro e outras proteções na sua carteira de investimentos.

 

Tome um engov antes, guarde outro para depois e dance sempre perto da porta. Afinal, nunca se sabe quando alguém irá gritar “fogo!”, não é mesmo?

 

Até lá, carpe diem.  

 

*Danilo Cesar é analista de Investimentos na Faelba - Fundação Coelba de Previdência

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias