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Economista Victor Gradin, um cidadão de elevado espírito público

Por Manoel Castro

Economista Victor Gradin, um cidadão de elevado espírito público
Foto : Tácio Moreira/Metropress

Tive a felicidade de conviver com Victor Gradin por mais de cinco décadas, um relacionamento que começou, em 1961, quando ingressei na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia onde ele, aos 28 anos, já era professor de destaque. Fui ser aluno dele, em 1964, mas já nas providências de matrícula nos encontramos nos corredores e ele me cumprimentou com cordialidade e votos de êxito.

 

Durante os quatro anos de meu curso na universidade, trabalhei como bancário, atividade que iniciei aos 14 anos como Ofice-boy.  Assim, mesmo antes de ser aluno dele, atuando como Presidente do Diretório Acadêmico e Diretor do Sindicato dos Bancários, mantivemos um relacionamento no plano pessoal em situações quase sempre conflitantes e, algumas vezes, como colaboradores.  Entre 1961 e 1964 vivemos, no Brasil, um período de grande turbulência que culminou com a derrubada do Presidente João Goulart.  Foram anos de intensa movimentação política e social.  Pessoalmente sofri consequências pelo exercício de funções nas esferas estudantil e sindical, mas fui merecedor de atenção e solidariedade dos professores e da direção da Faculdade, experiência que fortaleceu meu relacionamento com o mestre Victor Gradin.

 

Na administração pública, participação destacada na modernização e desenvolvimento da economia baiana.

 

Após minha diplomação, o Professor Victor Gradin havia assumido importantes missões do então Governador Lomanto Júnior, sendo nomeado Secretário de Desenvolvimento Econômico, mais tarde Secretário de Indústria e Comércio. Demonstrando sua visão moderna e corajosa como gestor público, o professor Gradin convidou vários dos seus alunos para compor a sua equipe de governo. Entre os jovens economistas convocados tive a honra de ser distinguido, juntamente com Fernando Alves, Benjamin Marchesini Mendonça, André Ney Negreiros, Noélio Spínola, Frederico Vaz Sampaio.  Como secretário de estado, Victor Gradin teve relevante papel em decisões de grande impacto econômico para a Bahia, destacando-se a implantação da USIBA – Usina Siderúrgica da Bahia,  com projeto liderado pelo engenheiro Américo Barbosa, que também exercia a Presidência da empresa de consultoria econômica SPL – Serviços de Planejamento Ltda,  selecionada para desenvolver um projeto de grande alcance, o Programa de Desenvolvimento de Indústria do Interior, abrangendo alguns dos  principais municípios da Bahia. Seus jovens colaboradores, muitos recrutados entre seus ex-alunos, participaram intensamente nesses projetos, com destaque para o desenvolvimento do projeto e implantação do sistema  Ferry boat.

 

O sucesso do projeto do Centro Industrial de Aratu, outro importante projeto para a economia baiana e do qual Gradin, destacadamente, participou, foi decisivo para a elaboração do Programa de Desenvolvimento de Indústria Petroquímica que contou com o apoio da SUDENE e BNB, além dos organismos internacionais, BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, BIRD – Banco de Desenvolvimento Mundial e da CEPAL – Comissão Econômica para América Latina. 

 

Antes de assumir o governo da Bahia, em 1967, o Dr. Luiz Vianna Filho, realizou uma viagem aos Estados Unidos, convidando o Professor Gradin para assessorá-lo em entendimentos com os organismos internacionais, resultando no apoio daqueles órgãos com vistas a um amplo programa de desenvolvimento que incluía a área de turismo resultando no Plano de Turismo do Recôncavo e um outro para a área agropecuária. Este último ficou menos conhecido por não ter logrado a criação de um projeto específico.

 

Novamente a intervenção do Prof. Gradin foi muito importante. Naquela oportunidade, a SPL, vencendo uma licitação, foi contratada para a formulação de um plano de logística para o desenvolvimento de agricultura nas regiões sul e sudoeste, patrocinada pelo BNDE e CIBRAZEM para desenvolver um plano de logística, envolvendo questões de movimentações de mercadorias, estradas rodoviárias e ferroviárias, além de unidades de armazenamento da produção de grãos.

 

Na ocasião, trabalhei na SPL e fui convidado para mais uma vez fazer parte da equipe daquela consultoria o que me permitiu colaborar em futuros planos agrícolas do governo da Bahia. Pessoalmente trabalhei, entre 1965 e1967, nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Mato Grosso em projetos do segmento agrícola.  Essa experiência revelou-se bastante útil para a implementação de posteriores projetos do governo Luiz Viana Filho entre os quais destaco o “Lavouras Alimentares”, assim como um programa de financiamento internacional para pecuária de corte da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo.  Todos esses programas receberam decisiva orientação do professor Victor Gradin, desde a sua formulação até o desenvolvimento e implementação.

 

Outro exemplo do espírito público e versatilidade profissional de Victor Gradin revelou-se quando aceitou comandar a AMESA – Alagados Melhoramentos, no governo Antônio Carlos Magalhães, liderando um projeto de grande relevância social, visando a melhorar as condições de vida de famílias que viviam em situação precária, com ocupação habitacional desordenada e insalubre  da área conhecida como “Alagados”, em Salvador.

 

No setor privado, empresário competente e realizador

Victor Gradin exerceu a Presidência da Comissão de Comércio do Cacau da Bahia entre os anos de 1960 e 1970, tendo visitado países africanos, grandes produtores de cacau, atualizando-se e conhecendo formas de negociações desse produto, o que exigia habilidades e senso de oportunidade de forma a obter sucesso e vantagens que pudessem vir a ser favoráveis para a Bahia e, por consequência, para a balança comercial brasileira.

 

Destacou-se, ainda, como grande colaborador da direção do Banco Econômico da Bahia convocado pelo presidente do banco, Dr. Miguel Calmon e, mais tarde foi convidado para chefiar seu gabinete ao assumir o Ministério da Fazenda, no governo João Goulart. Experiência permitiu aprofundar e ampliar seus conhecimentos sobre a estrutura financeira do Poder Púbico, em nível nacional.

 

Na década de 1970 foi convidado por Dr. Norberto Odebrecht, fundador e Presidente da Organização ODEBRECHT, e passou a integrar a companhia que veio a se destacar na área de grandes construções no Brasil e posteriormente, até mesmo em nível internacional.  A colaboração do Prof. Victor Gradin foi extremamente importante no assessoramento financeiro no período de transição entre empresa regional para de nível nacional, e internacional. Teve decisiva participação nos aspectos financeiros já na fase operacional na execução dos contratos para a ampliação e modernização do Aeroporto Internacional do Galeão e em seguida no contrato da construção da Usina Nuclear de Angra dos Reis.

 

Espírito público em todas as dimensões da vida social

Na área assistencial, Victor Gradin foi Provedor da Santa Casa de Misericórdia no exercício de 1973/74, e reeleito para o período de 1975/76, oportunidade em que promoveu a modernização daquela entidade várias vezes centenária,em especial, impulsionando o fortalecimento do Hospital Santa Izabel, tendo iniciando, à época, uma política de especialização na atividade médica, o que na atualidade permite ao hospital exercer lideranças em diversos setores da área de saúde.

 

Integrouvários Conselhos de Administração, tanto no setor público como no setor  privado, sendo constantemente demandado a colaborar nas áreas universitária, cultural e empresarialdada a sua experiência e larga visão, contribuindo com seu modo generoso, sério e competente para superar dificuldades e para o aprimoramento de desempenho da entidades às quais emprestava sua colaboração. Merece especial registro a participação de sua esposa, a Sra. Grace Gradin, em suas iniciativas de apoio e estímulo às artes, à cultura e a promoção social da Bahia.

 

Admiração, reconhecimento e gratidão

Tendo a oportunidade e a honra de uma convivência profissional e pessoal com o mestre Victor Gradin ao longo de tantos anos, confesso que me surpreendeu o noticiário jornalístico sobre seu falecimento, ter destacado apenas a condição de empresário por sua participação acionária na ODEBRECHT, omitindo aspectos importantes do elevado espírito público e consciência social, evidenciando um  baixo nível de informação sobre o Professor Victor Gradin.

 

Essa omissão estimulou-me, respeitando o discreto comportamento dos seus familiares, a buscar meios para contribuir no resgate da imagem desse ilustre economista por seu real valor como profissional, para além de empresário, também como homem público com importantes contribuições para a economia baiana.

 

Nesse sentido, confortou-me saber que o CORECON – Conselho Regional de Economia, fazendo justiça, houve por bem incluir na programação comemorativa da semana do Economista, na sessão do próximo dia 15.08, uma homenagem ao Economista Victor Gradin entendendo ser esse um momento ideal para associar-me, modestamente, a essas homenagens para expressar a minha admiração, reconhecimento e gratidão ao mestre e amigo Gradin.

 

*Manoel Castro é ex-prefeito de Salvador 

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias