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Se ter direitos trabalhistas é ser careta, eu sou

Por Weslen Moreira

Se ter direitos trabalhistas é ser careta, eu sou
Foto: Acervo pessoal

Vivemos tempos de fluidez e liquidez de quase tudo, como diria Zygmunt Bauman. As relações amorosas, a amizade, o trabalho e, de todas as suas relações e as nossas próprias certezas. ou seja, tudo agora é rápido, passageiro e incerto.

 

Estamos às vésperas o 1º de maio, Dia do Trabalhador, uma data estabelecida há 130 anos pela Segunda Internacional Socialista realizada em Paris, encontro que reuniu os principais partidos e sindicatos de toda Europa. A data foi escolhida em homenagem aos trabalhadores mortos, em Chicago em virtude da repressão à greve geral que ocorrera em 1886. Aquele movimento reivindicava direitos aos trabalhadores; garantia de uma jornada de trabalho justa, que era a principal bandeira, pois na época alguns operários trabalhavam numa carga muito mais que o suportável sem a remuneração adequada.

 

Em tempos de “modernidades liquidas”, falar de luta de classe parece antiquado e careta. Pois é, a sociedade com seus comportamentos e atitudes voláteis têm transformado a possibilidade da luta por direitos e a unidade dos trabalhadores em atitudes antigas, conservadoras e que se chocam com o moderno e avançado.

 

Estamos em plena ascensão da chamada indústria 4.0 ou a 4ª revolução industrial, onde a automação, a internet das coisas, o big data e a plena conexão das pessoas ao mundo são a “bola da vez”. Essa tal revolução, além de comodidade e agilidade na produção, também consome os trabalhadores e os transforma em “comoddites”. Ou seja, coisas que podemos adquirir em qualquer parte e podemos também descartar com a mesma rapidez que compramos.

 

O que as pessoas não conseguem compreender é que essa tal modernidade 4.0 está trazendo consigo uma consolidação e ampliação daquilo que o “careta”, Karl Marx chamava de ilusão de classe. O trabalhador não se vê como trabalhador e não tem aquele sentimento que unia os grevistas de 1886. A fluidez das relações fez com que a classe trabalhadora deixasse de ter identidade com o seus. O projeto de emprego para vida toda não existe mais; a formação duradoura não existe mais. O que vemos é o sentimento de "eu sou o empreendedor", o microempresário. "Eu quero ser o outro, o dono do CAPITAL".

 

Querer ter carteira assinada com direitos trabalhistas está virando coisa de antipatriota, de comunista. Segundo esse olhar empreendedor, o esforço individual junto com as oportunidades de mercado farão com que os mais dedicados vençam. Transformando vitórias e as derrotas ou até mesmo as frustrações em conquistas ou desalentos pessoais.

 

Enquanto isso, o CAPITAL continua CAPITAL, unido, forte, cada vez mais internacionalizado, lutando e ainda lucrando com as riquezas oriundas do trabalho alheio.

 

Flexibilização das leis trabalhistas, “satinização” dos sindicatos, “uberização do trabalho”, carteira de trabalho verde e amarela, Reforma da Previdência. Onde estão os trabalhadores? Atordoado com a guerra de informações, e provavelmente mergulhado em uma crise existencial de ser ou não ser que vem fragilizando apenas aqueles que estão não ponta, o próprio trabalhador. Os trabalhadores precisam se reconhecer como tal e engrossar as fileiras na luta pelos seus direitos. Viva 1886. Somos caretas e queremos carteira assinada e direitos.

 

*Weslen Moreira é professor, advogado e presidente da Associação de Ex-alunos da Ufba

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias