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70 Anos de Gandhy!

Por Gilsoney Oliveira

70 Anos de Gandhy!
Foto: Acervo pessoal

A ideia base era inteirar e integrar amigos, companheiros de trabalho e andanças pelas freguesias da cidade. A herança cultural estava presente, bem como a capacidade de criação e aproveitamento de oportunidades. A antiga capital do país completava 400 anos de fundada, e a escravidão havia apenas 61 anos legalmente extinta.

 

O mundo ainda buscava se recuperar dos estragos da segunda guerra, ao tempo em que assistia ao aumento das tensões políticas, militares e econômicas envolvendo os blocos liderados pelos EUA e URSS.

 

A industrialização por substituição da importação, ao passo que avançava, provocou alterações importantes na sociedade brasileira, inclusive na economia e cultura baiana.

 

Da Ásia propagava-se uma mensagem de não violência, liberdade, paz e soberania da Índia e de seu povo. As ideias de Mohandas Karamchand Gandhi chegam ao cais do porto e se conectam ao background dos negros estivadores. Homens do candomblé, da capoeira, feiras e do samba, que também queriam liberdade e democracia.

 

Neste contexto de abalo, destruição e soerguimento de novos alicerces, nasce o Afoxé Filhos de Gandhy, uma força tridimensional e extraordinariamente dinâmica, que combina legado africano, resistência, simplicidade e um jeito novo de fazer a festa.

 

A longevidade do Gandhy compreende três dimensões. A primeira é simbólica e carrega toda a energia dos orixás, bankisi, voduns e caboclos. Aqui se encontra o poder da oralidade, transmissão de saberes, fazeres e formas de expressões próprias dos terreiros, quilombos e rodas do povo soteropolitano reunidos numa só plataforma, que articula a rede nagô de entretenimento, difusão de conhecimento, respeito à diversidade e riqueza cultural da cidade mais negra do Brasil. É difícil curtir apenas um ano no tapete branco da paz. Uma vez Gandhy, sempre Gandhy.

 

A segunda dimensão é econômica. Os fundadores originais deram vida a um empreendimento criativo, que mistura música, dança e gestão de pessoas. A partir desta síntese geram-se bens e serviços envolvendo design, indústria têxtil, turismo e negócios que movimentam vários nichos de mercado, promovem empregos e geração de renda para muita gente. O Gandhy cria valores e é um hub de oportunidades da economia do carnaval de Salvador.

 

Cidadania é a terceira dimensão que sustenta o sentido e existência do Gandhy. No fundo, a ideia base mirava a necessidade de inclusão, promoção, acesso e direito de produzir cultura da população negra marginalizada. Os fundadores originais deixaram uma marca indelével: é preciso enfrentar o racismo, todas as formas de opressão, defender a democracia e direitos sociais do povo. Tudo isso sem perder a alegria.

 

São sete décadas de muitos carnavais, significados e realizações. Em memória da nossa madrinha, Mãe Menininha do Gantois, saudamos todas as mulheres e companheiras desde o início. Todas as violências contra as mulheres ferem o princípio fundamental da existência do nosso Afoxé. Saudamos Vavá Madeira, os companheiros fundadores da nossa organização, bem como personalidades e anônimos que construíram e constroem a nossa história.

 

Viva o Gandhy, a paz e o alvorecer de uma nova era. Ajayô, toca zabumba que a terra é nossa!

 

*Gilsoney Oliveira é presidente do Afoxé Filhos de Gandhy

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias