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O crânio de Luzia e a mente de nossas elites

Por Mario Lima

O crânio de Luzia e a mente de nossas elites
Foto: Bahia Notícias

Agosto é dito e havido como o mês das grandes catástrofes. Porém, no ano da graça(?) de 2018, foi o recém chegado setembro que nos trouxe uma tragédia de proporções inimagináveis: o incêndio do Museu Nacional.

 

Diferente do Camarada Paulinho da Viola, que não puxou a sua, certo de que ninguém compreenderia um samba naquela hora, eu, que trago na boca aquelas mesmas palavras, não vou me calar sobre aquele corpo para não consentir na sua e em outras mortes (Fernando Brant), pois não quero no peito aquele remorso: o da omissão. Assim, prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar, que posso (e não vou) agradar (Vandré).

 

Tá lá o corpo (ou suas cinzas) estendido no chão; o bar mais perto depressa lotou, malandro junto com trabalhador; um homem subiu na mesa do bar e fez discurso para vereador (ou defensor perpétuo da memória nacional) (Aldir Blanc). É que, na política brasileira, o que não faltam são aqueles que não visitam o paciente no hospital, mas fazem comício em seu velório.

 

Como não tem coisa mais arrumada do que chutar cachorro morto, muita gente boa (?) está aí vociferando, apontando seus dedos “limpos” para Temer e suas políticas temerosas. Não estou aqui defendendo nenhum personagem de Alfred Hitchcock, mas recordar é viver (e também sofrer). Assim, vamos aos fatos.

 

Com ou sem balão na história, o Museu não contava com um sistema adequado de combate a incêndio, revelando uma total irresponsabilidade de alguém. Quem? Entorno desta pergunta batem-se todos, não por apreço a cultura, mas para a desconstrução dos seus adversários, afinal estamos em ano eleitoral.

 

Pois bem, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, edição de 04/09/2018, o jornalista Bruno Boghossian revela-nos que o Correio da Manhã, em 20 de outubro de 1901 já abordava a precária situação do Museu Nacional. Assim, vê-se que a questão não é nova. Portanto, este incêndio é uma crônica de uma morte anunciada.

 

Então todos os Governos da República (civis e militares, de direita, de centro e de esquerda), são culpados. Mas o que fizeram os outros Poderes para evitar este mal? Bem: o que fizeram é difícil dizer, mas o que deixaram de fazer... Só a título de informação, o Estadão, edição de 05.09.2018, revelou que a Comissão de Cultura da Câmara Federal pautou o tema do Museu Nacional, mas sua reunião não aconteceu por falta de quórum. Podemos então responsabilizar toda chamada classe política. Mas só a ela?

 

Em artigo publicado no Brazil Journal, Mariana Barbosa revela que o empresário Israel Klabin obteve do Banco Mundial US$ 80milhões para a restauração e manutenção do Museu Nacional. Ocorre que o Banco estabeleceu uma condição: uma nova governança para o Museu, com a participação de entidades da sociedade civil. Como esta condição não foi aceita pela UFRJ, nada feito, ou pior: quase tudo desfeito! Portanto, a comunidade acadêmica não está isenta de culpa.

 

E quem são essas ilustres cabeças, que desprezaram tão importante ajuda? Provavelmente um povo da ultradireita, que não está nem aí para a cultura. Ledo engano! O mesmo Estadão revelou-o seguinte: “Boa parte da direção da UFRJ, que administra o Museu Nacional, é composta por filiados ao PSOL. A lista inclui o reitor, Roberto Leher; a vice-reitora, Denise Lopez; a pró-reitora de Extensão, Maria Mello de Malta; o pró-reitor de Pessoal, Agnaldo Fernandes, e o decano Vitor Mario Iorio.” Enfim, a direita e a esquerda ardem juntas nesta tragédia.

 

Pois pois, como disse Paulinho da Viola: as coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender. E uma coisa eu aprendi: perdeu-se o crânio de Luzia porque as mentes de todas as nossas elites, com honrosas exceções, não se distinguem da cabeça de um camarão!

 

* Mario Lima é advogado e procurador do Estado da Bahia

 

* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias