Polícia diz ter identificado 109 mortos em operação policial no Rio de Janeiro
A Polícia Civil diz ter identificado 109 das pessoas mortas em confronto com agentes durante a Operação Contenção, deflagrada na terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro.
A nova atualização foi confirmada pela reportagem neste sábado (1º) após um primeiro levantamento, divulgado na sexta-feira (31), com uma lista com 99 nomes identificados.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, 99 corpos já foram liberados para as famílias após passarem por perícia no Instituto Médico Legal, em um esquema especial acompanhado pelo Ministério Público.
A ação, que o governo estadual afirma ter deixado 121 mortos, sendo 117 suspeitos e quatro policiais, é considerada a mais letal da história do país.
Do total dos mortos identificados, 43 tinham mandados de prisão pendentes e pelo menos 78 possuíam histórico criminal, segundo a Polícia Civil.
A corporação aponta ainda que 54 eram naturais de outros estados, incluindo Pará, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás e Espírito Santo. Segundo a investigação, o Rio abriga lideranças do Comando Vermelho de quatro das cinco regiões do país, o que reforçaria o alcance nacional da facção.
A polícia também informou que um terço dos presos na operação é de fora do estado. As investigações indicam que os complexos da Penha e do Alemão funcionam como centros de comando, treinamento e tomada de decisão da facção, com movimentação estimada de 10 toneladas de drogas por mês e comércio de cerca de 50 fuzis mensalmente.
A megaoperação resultou ainda na apreensão de 120 armas, sendo 93 fuzis, além de explosivos, munições e equipamentos militares utilizados pelo grupo criminoso. O material é avaliado em R$ 12,8 milhões, segundo a Coordenadoria de Fiscalização de Armas e Explosivos. Parte do arsenal tem origem em países como Venezuela, Argentina, Bélgica e Rússia e inclui modelos usados em zonas de guerra, como AK-47, AR-10 e G3.
"Cada fuzil retirado de circulação representa uma vida salva", disse o governador Cláudio Castro (PL), que voltou a classificar a ação como um "sucesso". Para o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, o rastreamento das armas é "essencial para atingir o núcleo financeiro e operacional das facções".
A operação foi deflagrada com o objetivo de prender lideranças do Comando Vermelho investigadas em denúncia do Ministério Público do Rio. Entre os alvos estava Edgar Alves de Andrade, o Doca, apontado como uma das principais lideranças da facção, que segue foragido.
Um cruzamento feito pela Folha mostra que ao menos seis dos mortos tinham mandados de prisão expedidos, mas nenhum deles figurava entre os suspeitos citados na denúncia da Promotoria que baseou a ação.
A ofensiva policial provocou tiroteios, incêndios e bloqueios de vias em várias regiões da cidade. Segundo a polícia, criminosos chegaram a usar drones para lançar explosivos contra agentes e moradores na Penha.
Na sexta-feira (31), familiares de mortos e moradores dos complexos realizaram o ato "Chega de Massacre", pedindo justiça e o fim da violência contra a população negra e periférica. O protesto, que ocorreu de forma pacífica, deu origem a manifestações em diversas capitais brasileiras, incluindo São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Brasília.
A Defensoria Pública do Rio afirmou ter solicitado o acompanhamento das perícias no IML, mas que o pedido foi negado. O órgão argumenta que a medida está prevista na ADPF das Favelas, determinada pelo Supremo Tribunal Federal.
A Polícia Civil respondeu que o acesso ao instituto está restrito a policiais civis e integrantes do Ministério Público, que acompanham os exames.
