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'SUS não é para pessoas trans': Grupo pede que identidade não seja classificada como doença

Por Renata Farias

'SUS não é para pessoas trans': Grupo pede que identidade não seja classificada como doença
Foto: Divulgação

Com a busca por visibilidade, torna-se cada vez mais frequente a discussão sobre os preconceitos e violências sofridos pelas populações transexual e travesti. Ainda assim, pouco se fala sobre as dificuldades que essa parcela da sociedade enfrenta para acesso ao sistema de saúde, seja por demandas específicas ou de cuidados gerais. Para Viviane Vergueiro, ativista transfeminista e pesquisadora do grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade (CUS) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), uma das principais questões que compõem esse debate é a necessidade de despatologização das identidades de gênero. Uma das reivindicações é a alteração do Código Internacional de Doenças (CID), que classifica a identidade trans como uma patologia. "A despatologização tem a ver com o acesso das pessoas trans e travestis ao direito humano da saúde integral. As pessoas trans tiveram, historicamente, o acesso à saúde negado", explicou Viviane em entrevista ao Bahia Notícias. "Os ativistas pela despatologização tentam argumentar e lutar para dar visibilidade de como esse modelo e essa classificação implicam em práticas e em uma forma institucional de se ver essas pessoas. Isso muitas vezes impede que elas cuidem de sua saúde de forma integral", acrescentou. A pesquisadora pontuou a necessidade de se pensar a saúde de pessoas trans para além de manuais, desde o diagnóstico até o acesso à saúde básica e relação com os profissionais. 

 


Evento discutiu despatologização trans e travesti | Foto: Ted Ferreira e Banzi Filmes

 

Em evento realizado pelo coletivo Coletivo De Transs Pra Frente sobre o tema, foi relatada uma necessidade de se adequar a padrões esperados pelos profissionais de saúde para se obter maior respeito à própria identidade. "As mulheres trans, por exemplo, precisam ser muito femininas ou podem ter suas identidades questionadas enquanto mulher", exemplificou Viviane. Outra barreira apontada foi a visão de que as transexualidades e travestilidades representam essas pessoas e que as demandas são sempre as mesmas. "Eu costumo dizer sempre que as transexualidades ou travestilidades não representam a nossa vida, elas são uma nuance de nossas vidas", afirmou Carlos Porcino, transativista, psicóloga voluntária na Associação de Travestis e Transexuais de Salvador (Atras) e doutoranda pela Ufba. "As demandas são singulares. Nós, pessoas trans, não somos um padrão. Cada uma de nós tem motivações no que diz respeito à subjetividade e ao que deseja implementar com relação a modificações corporais ou não", completou. As dificuldades começam quando a pessoa não é reconhecida pela identidade à qual se identifica, mas pelo seu documento. Há, por exemplo, exames que oferecidos para gêneros específicos no Sistema Único de Saúde (SUS). "A gente costuma dizer que o SUS não foi feito para pessoas trans, mas para pessoas cisgênero. Recentemente, uma menina trans que não tem o nome retificado, mas fez cirurgia de redesignação sexual. Ela buscou uma unidade de saúde da família para buscar um ginecologista, mas não foi possível. Apesar de ter a neovagina, ela ainda tem o cartão do SUS com nome civil", contou Carlos. Até mesmo o diagnóstico pode ser questionado nesse âmbito, já que é esperado um comportamento ou sinais padronizados. "Há uma ideia de que todas nós desejamos as mesmas coisas dos nossos corpos, o que não é verdade. É verdade que a transfobia afeta e violenta a relação com nosso corpo, mas isso não nos define. O diagnóstico patológico meio que circunscreve aquelas pessoas que têm um ódio ao próprio corpo, que têm uma narrativa de identificação com o dito 'gênero oposto' desde a infância", disse Viviane, ao ressaltar que a patologização da identidade trans interferem diretamente na atenção à saúde dessa população.