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Marca Bahia Notícias Saúde

Entrevista

'Gordos se fabricam à noite e de sexta a segunda', pontua criador da dieta Ravenna

'Gordos se fabricam à noite e de sexta a segunda', pontua criador da dieta Ravenna
Foto: Cláudia Cardozo / Bahia Notícias
Criado em Buenos Aires, Argentina, o método Ravenna atualmente concentra um maior número de adeptos no Brasil. Baseado em dieta hipocalórica, exercícios físicos e acompanhamento de profissionais, como psicólogos, o método surgiu a partir de experiências do médico e terapeuta argentino Máximo Ravenna na área. "Eu trabalhava em uma clínica, onde minha função era diretor de internação de pacientes. Por muitos anos, eu vivi a experiência de dietas muito controladas em calorias, com bom resultado e sem nenhuma complicação", contou em entrevista ao Bahia Notícias. De acordo com o profissional, um dos pontos essenciais para redução e manutenção do peso é a retirada dos chamados "alimentos gatilho" da dieta, aqueles que causam vício. Ravenna ressaltou ainda a importância do trabalho diário, sem pausas nem mesmo nos finais de semana. "Comecei a trabalhar com grupos de 15 dias, todos os dias, com finais de semanas incluídos, porque é a fábrica de gordos. Gordos se fabricam de 20h a 0h e de sexta a segunda", pontuou. Questionado sobre o mercado de dieta, o argentino disse acreditar que, entre as mulheres, predomina o cuidado com a estética, enquanto os homens geralmente buscam o cuidado por questões de saúde.

Como surgiu a ideia para criação do método Ravenna?

Eu trabalhava em uma clínica, onde minha função era diretor de internação de pacientes. Por muitos anos, eu vivi a experiência de dietas muito controladas em calorias, com bom resultado e sem nenhuma complicação. Eram dietas de 300 ou 400 calorias, com internação, mas com pacientes que tinham acesso a muitas vitaminas, minerais e hidratação, então funcionava. Depois eu me dei conta de uma coisa: compreendi a importância da saciedade. Ninguém tinha fome e ninguém ficava fraco. Outra coisa que compreendi quando trabalhava com pacientes externos, em ambulatórios, era muito difícil a possibilidade de explicar por que ele não emagrecia. Eu não tinha como entrar no paciente para convencer de que era melhor comer carne magra do que batata frita. Nessa época, que foi nos anos 1980, começava a globalização alimentar no mundo. Com isso, a obesidade começava a crescer. Eu percebi com os pacientes que alguma vez ficaram internados com dieta hipocalórica e exercícios dificilmente tinha problemas de saúde. Percebi que era possível tratar o paciente entrando e saindo da clínica, com internação, mas com pautas diárias contínuas. Além da dieta com baixa caloria, é muito importante a presença e acompanhamento diários para fazer um bloqueio da introdução de comida, o que muda completamente a motivação, e presença de terapeutas, não para analisar causa da gordura ou de comer, mas para ser uma pessoa que oferece energia, credibilidade e entusiasmo para o paciente. Muitas vezes, a comida é um vício. Eu trabalhava também com vício em drogas, e as pessoas falavam “não estou tão mal, vou começar na segunda-feira”. É necessário perceber se isso é um problema hormonal, nutricional ou de vício. Como uma pessoa obesa se esconde para comer se lastima por isso? Isso é um vício. Comecei a trabalhar com grupos de 15 dias, todos os dias, com finais de semanas incluídos, porque é a fábrica de gordos. Gordos se fabricam de 20h a 0h e de sexta a segunda. Pensei em grupos modulares e, pela primeira vez, eu podia falar que os grupos emagreciam cerca de 3 kg em 15 dias. Trabalhei cinco anos, até 1993, com um resultado completamente diferente dos anteriores. Pela primeira vez, eu vi grupos de manutenção, pessoas que nunca haviam emagrecido e comigo tiveram resultado. Um tratamento intensivo, tratando como um vício e mostrando isso, confrontando, não lastimando. E, ao mesmo tempo, saciando a fome. Depois de seis anos e mais de 2 mil pacientes que haviam passado pela clínica, que não era minha, fui por minha conta. Comecei com uma clínica de 100 m e, em 1997, passei para um lugar maior e começaram grupos muito grandes, apenas com boca a boca. Hoje temos 16 franquias. Já passaram 80 mil pacientes, incluindo os 18 mil do Brasil. Estamos muito contentes, e o sistema se universalizou. A dieta hipocalórica não tem pouca comida, mas menos comida para produzir saciedade.
 
Em qual país há um maior número de adeptos?
De longe, aqui. Temos franquias no Paraguai, Uruguai e Espanha, além do Brasil e Argentina. No Brasil tem um maior número de pessoas também. Não mais gordos, porque é proporcionalmente parecido.

Quais são os princípios fundamentais do método?
Continuidade, intensidade, dieta hipocalórica e trabalho sobre a conduta alimentar baseada no vício. São dietas bem mensuradas, com prevalência de proteínas e evitando alimentos gatilhos, que viciam. Reduzimos o nível de doces, de adoçantes sintéticos... Trabalhamos os problemas metabólicos que levam à obesidade, mas também os conceitos de negação, impotência e falta de vitalidade, que produzem doenças. Não falamos de prato permitido. Temos apenas quatro refeições, não seis: café da manhã, almoço, lanche da tarde e janta. Falamos de comer como um rei no café da manhã, mas em qualidade, não quantidade. O almoço precisa ser muito nutritivo e a janta, distante da hora de dormir e pouca, porque é o momento em que você não necessita comer e o cérebro utiliza a própria gordura como energia.
 
O método já foi comprovado na prática, mas há comprovação científica?
Há muitas. Primeiro pesquisas sobre a dieta hipocalórica e sua eficácia em doenças muito variadas em crianças com enfermidades metabólicas e de transtornos cerebrais. Há ainda efeitos secundários em doenças autoimunes. A dieta hipocalórica se comprovou como anti-inflamatória geral. Em muitos estudos, mostrou-se que a dieta auxilia na cura de lesões do câncer de pele. Há muitos estudos. É preciso ainda considerar o que se chama de medicina de evidência. Se eu tenho muitos pacientes que tiveram redução tão grande de peso, não apresentam problemas e se livram da doença que tinham, a dieta está cientificamente provada. O que se tem que provar é quais são os fatores que fizeram com que a pessoa emagrecesse. Muitos trabalhos hoje estão falando da comida como vício, porque há disparos de dopamina e serotonina, assim como as drogas. Há um estudo que mostra que um menino com um hambúrguer em sua frente tem uma mobilização de seus nervos transmissores e dopamina igual à que apresenta uma pessoa com cocaína em seu corpo. A luta é como se pode considerar uma comida igual a uma droga. Não há nenhuma propriedade que separe algumas comidas de uma droga. A batata frita não é útil para nada, assim como salgadinho, pão de queijo. Já não se chama mais isso de alimentos, apenas comida. Nós chamamos de objetos comestíveis não-identificados. Quando você come muita comida processada, já não é mais alimento. Essa comida processada com gordura, açúcar e farinha, por exemplo, só pode ser consumida duas vezes por semana, não mais.
 
O senhor acredita que o mercado de dietas é impulsionado mais por questões de saúde ou estética?
No caso da mulher, primeiro é estética. Com o tempo, ela passa a não se preocupar com a estética e começa a questão da saúde. No homem, exceto aquele com bom contato com atividade física, é mais por saúde. No caso do homem que sempre se preocupa com elegância, cuidado com o corpo e imagem dele mesmo, incomoda muito que a roupa não entre. Nós dizemos que a roupa é a camisa de força do gordo. Quando a roupa não fecha, não dá para aumentar, então é preciso diminuir o corpo. No geral, para o homem, é mais saúde e, para a mulher, mais estética.