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Marca Bahia Notícias Saúde

Entrevista

Projeto de autor baiano sobre medicina nuclear é finalista em Prêmio Empreenda Saúde

Por Renata Farias / Júlia Vigné

Projeto de autor baiano sobre medicina nuclear é finalista em Prêmio Empreenda Saúde
Foto: Divulgação
O Prêmio Empreenda Saúde anuncia nesta quinta-feira (17) o vencedor de sua segunda edição e, entre os cinco projetos finalistas, está o Nuclearis, desenvolvido pelo físico médico soteropolitano Marcos Machado. "A medicina nuclear é uma especialidade que usa medicamento radioativo, chamado radiofármaco, para diagnosticar ou tratar doenças. Com esses medicamentos, a gente estuda a fisiologia dos órgãos", explicou o especialista em entrevista ao Bahia Notícias. De acordo com Machado, a medicina nuclear apresenta problemas em todo o mundo, a exemplo de dificuldade no gerenciamento da rotina de exames, variação na qualidade destes e geração de laudos. O Nuclearis surge com o objetivo de sanar esses problemas. "Hoje o Nuclearis tem capacidade de gerar um laudo com uma rapidez 70% maior. Com um clique, gera uma imagem e, com mais alguns, sai o laudo pronto", afirmou sobre uma das funções da ferramenta. O vencedor do Prêmio Empreenda Saúde receberá o equivalente a R$ 50 mil em barras de ouro, além de acompanhamento profissional especializado para colocar o plano em prática no mercado brasileiro. Para o físico médico, a indicação já é um grande impulso para o projeto, e a premiação seria "a cereja do bolo". 

O que é a medicina nuclear?

A medicina nuclear é uma especialidade que usa medicamento radioativo, chamado radiofármaco, para diagnosticar ou tratar doenças. Com esses medicamentos, a gente estuda a fisiologia dos órgãos. Exames como cintilografia do coração estuda se o paciente tem uma isquemia, por exemplo; ou cintilografia da tireoide, que também estuda a fisiologia do órgão; tem o petscan, que estuda tumores. A medicina nuclear é uma especialidade multidisciplinar, com a qual trabalham médicos, físicos-médicos, como é meu caso, radiofarmacêuticos, entre outros.
 
O Nuclearis surge na tentativa de resolver alguns problemas da medicina nuclear, certo? Quais são os principais problemas?
Na medicina nuclear existe a grande dificuldade de gerenciar as rotinas de exames. Os protocolos de exames são diversos, por exemplo, tem exame em que o paciente recebe o radiofármaco uma vez e faz múltiplas imagens, já em outro o paciente recebe múltiplas injeções para as imagens. Imagine que esse medicamento se desintegra. Se eu compro uma quantidade e não uso, ele vai acabando. E existem múltiplos radiofármacos, ou seja, com tempo de desintegração diferentes e protocolos de exame bem variados. Logo, para saber quando aquele paciente vai entrar no exame para a compra do material sem uma ferramenta para gerenciar essa rotina é difícil. Outra questão é que, na medicina nuclear, é comum ter variações na qualidade dos exames. O Nuclearis vem também para padronizar essa qualidade. É possível escolher o nível de qualidade, e todos vão sair dentro daquelas mesmas variações. Outra questão é que se perde muito tempo na medicina nuclear para se coletar os dados. Para gerar um laudo, por exemplo, é necessário acessar vários sistemas, enquanto o Nuclearis faz tudo isso em um sistema só. Hoje o Nuclearis tem capacidade de gerar um laudo com uma rapidez 70% maior. Com um clique, gera uma imagem e, com mais alguns, sai o laudo pronto. Esses medicamentos que a gente usa são radioativos, e os trabalhadores precisam manipular para saber a quantidade de material. Com o Nuclearis, os indicadores estão disponíveis e com maior precisão.
 
E de que forma esse prêmio de R$ 50 mil poderia ajudar no desenvolvimento do Nuclearis?
Como a gente é uma empresa mais simples, criada há pouco tempo e que recentemente validou a tecnologia, a gente tem poucos clientes, que não conseguem pagar o custo operacional da gente. A gente pretende usar os R$ 50 mil para investir tanto na parte de desenvolvimento quanto na estrutura que a gente está montando para dar suporte a esses hospitais. A gente pretende usar esse recurso para investir em uma solução, além de toda a parte de depósito de pacientes, que a gente já começou, mas precisa concluir. Na verdade, são várias patentes em um mesmo sistema. A gente já escreveu duas delas e está entrando no processo de registro, então precisa de recurso para isso.

Como surgiu a ideia de criar essa ferramenta?
Essa ideia surgiu porque a gente sentiu na pele. Desde que a gente começou a trabalhar com medicina nuclear, dez anos atrás, a gente tinha dificuldade. São quatro sócios fundadores: três são físicos, como eu, e o outro é um médico nuclear. A gente sentia isso na pele, perdia muito tempo para gerar informação, elaborar um laudo, saber quanto material pedir para os exames, por exemplo. A ideia surgiu de uma necessidade de rotina, e a gente foi procurar no mercado. Os sistemas que as clínicas usam são todos genéricos, ou seja, usados na área de radiologia e instalados para medicina nuclear, mas isso não resolve o problema. A gente viu que no Brasil não tinha, fez alguns treinamentos nos Estados Unidos e Europa, buscou conhecer o que o sistema de gestão nuclear no Brasil não tinha – são sistemas que não conseguem resolver o cerne da questão. Decidimos então desenhar um escopo de software e contratar pessoas para criar a tecnologia. Em 2011, começamos a investir dos próprios bolsos. Em 2014, a gente conseguiu um edital do CNPQ [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], pelo programa Start-Up Brasil. A gente conseguiu um bom recurso para acelerar a criação do protótipo. Em 2015, finalizamos o protótipo e, agora em 2016, a gente começou a propor uma roupagem mais comercial.
 
Como está o cenário atual da medicina nuclear aqui em Salvador? Quais são os principais problemas?
A medicina nuclear tem problemas não apenas em Salvador, mas no mundo inteiro. Problemas como a variação na qualidade dos exames, a necessidade do paciente esperar muito devido a problemas na rotina de exames, entre outros, acontecem no mundo todo. Em Salvador, a medicina nuclear é bem madura inclusive. Temos centros de excelência em Salvador, como [os hospitais] São Rafael, Cárdio Pulmonar e outros vários centros maduros com profissionais renomados.
 
Só para finalizar, queria saber como foi receber a notícia de que o projeto é um dos cinco finalistas para o prêmio e como está a expectativa.
Nós ficamos muito felizes porque fomos selecionados, o que já é um reconhecimento. No ano passado, o projeto foi indicado ao prêmio de inovação em saúde na América Latina. Ficamos entre as três maiores inovações. Tivemos bastante dificuldade em 2016 para validar a solução, mas conseguimos. Não é uma tecnologia fácil de desenvolver, precisa transpor barreiras, alcançar a validação científica, precisa de apoio do corpo clínico. Essa geração de valor foi nosso cartão de visita, já que pudemos mostrar que a solução funciona bem e gera lucro para todo mundo: hospital, pacientes, trabalhadores. A gente ficou super animado e feliz com essa indicação ao prêmio. Nossa expectativa é alta. A gente está concorrendo com grandes propostas. Eu já estou muito feliz só de ser finalista, ter esse reconhecimento e estar nesse conjunto de propostas de altíssimo nível. Receber o prêmio seria a cereja do bolo. Ser finalista já trouxe uma grande visibilidade e contatos que já geraram negociações com grandes hospitais do país. O prêmio pode estampar ainda mais essa visibilidade.